São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Saindo do inferno

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Palmeiras , finalmente, saiu da lanterna.
Mas ainda está longe de poder respirar tranquilo.
Primeiro, porque ainda não deixou a zona de rebaixamento. Segundo, porque os três clubes que ficaram atrás dele têm uma ou duas partidas a menos.
Mas o fato decisivo e inegável é que o time, de quatro jogos para cá, se reencontrou com a bola, com a torcida e, o que é mais importante, consigo próprio.
Num terreno tão carregado de dramaticidade, como é hoje o Parque Antarctica, lances pequenos e corriqueiros assumem dimensões épicas.
Isso explica, por exemplo, a vibração furiosa do zagueiro Alexandre, depois de fazer seu gol contra a Lusa, anteontem. Naquela comemoração aparentemente desmesurada, era mais que um gol que estava sendo celebrado: era o exorcismo de uma era sombria, de brigas com a torcida, com os adversários e com os próprios companheiros.
Outro momento altamente significativo foi a jogada de Pedrinho que parou nos braços do goleiro Bosco, já perto do final da partida. O lance em si foi uma maravilha: Pedrinho recolheu a bola no meio-de-campo e avançou, ladeado por dois companheiros, um pela direita, o outro pela esquerda.
Senhor da situação, o meia poderia ter lançado qualquer um dos dois. Certamente foi o que pensaram os zagueiros da Lusa. Por isso, Pedrinho resolveu tocar para si mesmo, entre os beques, e surgir sozinho na cara do gol. A grande defesa de Bosco impediu a concretização de um gol de placa.
Mas o mais bonito veio em seguida. Mesmo precisando desesperadamente da vitória -sem poder, portanto, se dar ao luxo de perder gols e sofrer o perigo de um empate-, a torcida do Palmeiras começou a gritar em uníssono o nome de Pedrinho.
Naquele coro emocionado havia muitas coisas: gratidão pela linda jogada do artista Pedrinho, reconhecimento do esforço do atleta Pedrinho, solidariedade ao homem Pedrinho, que foi declarado morto para o futebol inúmeras vezes e sempre ressuscitou para exercer com brilho o seu ofício.
Dizem que, depois que Dante escreveu sua "Divina Comédia", as pessoas o apontavam na rua dizendo com assombro: "Aquele é o homem que esteve no inferno". Hoje poderíamos apontar para Pedrinho e dizer a mesma coisa.

Do ponto de vista estritamente técnico e tático, é evidente que a dupla entrada de Nenê e Pedrinho no Palmeiras, no segundo tempo contra a Lusa, mudou completamente o time, tornando-o mais criativo e ofensivo.
Sem contar com Zinho (suspenso), o Palmeiras dominava a partida, mas carecia de armação de jogadas.
A entrada dos dois habilidosos canhotos liberou forças produtivas e multiplicou as possibilidades ofensivas. O Palmeiras encurralou a Lusa e poderia ter feito uns três ou quatro gols, não fosse pelo acaso, pela boa atuação de Bosco e por uma certa precipitação nas conclusões.
Uma última palavra deve ser dita sobre o colombiano Muñoz, jogador de uma fibra incomum, a par da prodigiosa velocidade.
Para ele, não existe tempo ruim ou bola perdida.
É o tipo do jogador "encardido", odiado pelos adversários pelo simples fato de não lhes dar um minuto de sossego.

Alívio tricolor
O desespero de Oswaldo de Oliveira, gritando com seus jogadores e pedindo para o juiz terminar logo o jogo do São Paulo contra o Flamengo, revelou pelo menos duas coisas: que seu emprego estava por um fio, depois de cinco rodadas sem vencer, e que ele conhece muito bem a vulnerabilidade de seu time. Afinal, não foram poucas as vezes que o São Paulo teve uma vitória nas mãos e a deixou escapar pelos vãos dos dedos.

Volante artilheiro
O São Caetano chega com todos os méritos à liderança do Brasileirão. No futebol consistente e objetivo do Azulão, o que mais me impressiona é a versatilidade do volante Claudecir e a facilidade com que ele aparece na área adversária. Sábado, contra o Botafogo, foi por muito pouco que não fez o seu gol. Não é à toa que é o artilheiro do time, ao lado de Adhemar.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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