São Paulo, Domingo, 07 de Novembro de 1999
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BASQUETE

Sem fama no Brasil, Marcello Gomes é o primeiro a assumir um time no país que fundou esse esporte

Incógnito, brasileiro é técnico nos EUA

LUÍS CURRO
da Reportagem Local

Um ex-jogador que nunca chegou à seleção principal de seu país é o primeiro brasileiro a dirigir um time de basquete nos EUA, país fundador desse esporte.
Marcello Formoso Gomes, 33, foi nomeado em setembro técnico da OBU (Oklahoma Baptist University), que disputa o campeonato da Naia, uma das ligas do basquete universitário local.
O feito de Gomes, 1,75 m, que como jogador atuou na posição de armador, significa o reconhecimento do prestígio que ele alcançou ao defender essa mesma universidade entre 1989 e 1993 -foi titular do time, chegou a uma final e ganhou prêmios por suas qualidades defensivas.
A trajetória de Gomes no basquete começou em 1973, no clube Continental. Permaneceu lá até os 22 anos, quando transferiu-se para o Sírio, onde foi campeão brasileiro da temporada 88/89.
Em agosto de 1989, seguiu os passos de dois colegas que estavam na OBU e se dirigiu para os EUA. Passou a titular do time de basquete no ano seguinte.
Em 1993, a equipe tornou-se "número 1" (a mais bem ranqueada) da liga e foi à final -perdeu para a Hawaii Pacific University.
De volta ao Brasil em 93, Gomes teve passagem discreta pelo Report e, depois, pela Telesp.
No final de 95, decidiu parar de jogar basquete e partiu para outro ramo. "Trabalhei um ano com vendas de telefones celulares."
Voltou às quadras em 97 para dar "uma força" ao time de basquete de Osasco. Foi no segundo semestre desse ano que recebeu um telefonema que mudou o rumo de sua vida profissional.
"O técnico Bob Hoffman me convidou para ser seu assistente no time da OBU", contou Gomes.
De novo nos EUA, passou duas temporadas (97/98 e 98/99) nessa função. Na primeira delas, a OBU novamente voltou a uma final da Naia -foi derrotada pela Life University, da Georgia.
O pior momento de Gomes nos EUA aconteceu fora das quadras. Em maio passado, teve de se refugiar, com sua mulher e sua filha de 5 anos, em um abrigo, para escapar de um tornado que atingiu Oklahoma (Meio-Oeste do país).
"Foram ventos de mais de 500 quilômetros por hora. Fomos para os porões, para debaixo da terra. Durou duas horas. Levou telhados, paredes. Detonou tudo."
Quatro meses depois do tornado, veio a boa notícia. Hoffman assumiu um time de uma liga mais forte, a NCAA, e o comando do da OBU passou para Gomes.
Ele considera muito difícil outro brasileiro atingir o patamar em que se encontra, pois há preferência para a escolha de nomes locais.
"É o sonho do jogador americano dirigir uma equipe de basquete. E mais difícil ainda é comandar o time que defendeu. Não é propaganda, mas sou estrangeiro."
Neste campeonato, a OBU não contará com três atletas titulares na última temporada -por terminarem seus cursos na universidade, tiveram de deixar o time.
Gomes buscou reforços na NCAA que crê serem de qualidade, mas só o desenrolar desta temporada, na qual a equipe ainda não perdeu, lhe dará essa certeza.
Por enquanto, o treinador não se preocupa com sua credibilidade e com as cobranças da direção, pois está confiante em manter o bom desempenho dos últimos anos da OBU. "O college (basquete universitário) é amador aos olhos da NBA (liga profissional norte-americana de basquete), mas envolve muito dinheiro, fala-se que nossa universidade gasta US$ 200 mil (cerca de R$ 400 mil) por ano. Alguma confiança devem depositar em mim. Sou religioso e sempre rezo e agradeço a Deus por essa oportunidade."


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