São Paulo, quarta-feira, 07 de novembro de 2007

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Prefeito boleiro controla zebra da Série C em Goiás

Em regime de comodato, município de Catalão toca o Crac sem intermediários

Time, que custa R$ 1 milhão em 2007, ainda tem apoio de empresas multinacionais beneficiadas por incentivos fiscais na sua cidade-sede

Divulgação
Jogo do Crac no estádio de Catalão, que foi interditado pela CBF para os jogos do octogonal decisivo da Série C do Brasileiro


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O nome vai ser motivo de piado se o Crac (Clube Recreativo e Atlético Catalano) encontrar o Corinthians na Série B do Brasileiro no próximo ano.
Mas o clube de Goiás, vice-líder do octogonal decisivo da Série C (hoje enfrenta o Vila Nova-GO), tem uma inusitada fórmula para se manter que é um sucesso quando comparada com a penúria financeira do gigante paulista, seriamente ameaçado de cair na Série A.
Em regime de comodato, o clube foi cedido à Prefeitura de Catalão por 20 anos. É ela que administra o time, banca 60% das despesas (avaliadas em R$ 1 milhão só nesta temporada) e corre atrás de patrocinadores para completar o rateio.
E aí o Crac tem um rol de empresas de causar inveja. Fazem parte dela uma subsidiária da Anglo American, uma das três maiores mineradoras do mundo, a John Deere, fábrica americana de tratores e máquinas agrícolas, e a Mitsubishi, montadora japonesa.
Todas essas empresas possuem plantas em Catalão, município que cresce muito acima da média nacional e tem alto índice de desenvolvimento humano, segundo metodologia criada pela ONU. Todas receberam gordos incentivos fiscais para se instalarem lá.
"Elas nunca falharam com a gente", diz Adib Elias Júnior, prefeito de Catalão e presidente de honra do Crac. Giovani Cortopassi, secretário de Esportes do município e diretor de marketing do clube, é mais direto. "É quase uma obrigação delas [as empresas] ajudarem. E deveriam ajudar mais."
A associação entre o Crac e a prefeitura de sua cidade não tem nada de misterioso, como é comum em outros casos.
"A maneira mais rápida e mais barata de propagar o nome da cidade era através do futebol", diz o prefeito Adib, que logo quando tomou posse no primeiro mandato, em 2001, fez o acordo para tomar o clube em comodato -em troca investiu na sede social do time, que devia na época R$ 576 mil (hoje o clube diz não ter débitos).
A ascensão foi rápida. Em 2004, ganhou o Campeonato Goiano. Agora, faz ótima campanha e está perto do inédito acesso à Série B nacional.
Adib, que não sabe calcular com exatidão o quanto a cidade gastou no Crac, diz que o desempenho do clube não foi essencial na sua carreira até aqui, mas admite que pode ser importante no futuro (tem seu nome cotado para disputar o governo de Goiás em 2010).
"Fui deputado duas vezes sem o Crac, ganhei a eleição para prefeito a primeira vez sem o Crac, mas é claro que a população sabe que o Crac é diretamente ligado ao prefeito", afirma Adib. E ele não toca só a parte administrativa da agremiação, que tem luxos raros para a Série C -mesmo sem ter as despesas bancadas pela CBF, sempre viaja de avião para as cidades mais distantes, numa competição famosa por suas maratonas rodoviárias.
"Noventa por cento das contratações de jogadores são indicadas por mim. Gosto de futebol e acompanho profundamente os campeonatos, até a Série A-3 de São Paulo", diz o prefeito, que tem Romildo, ex-Atlético-MG, e Tico Mineiro, ex-Botafogo, como principais nomes no time que administra.


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