São Paulo, Terça-feira, 07 de Dezembro de 1999


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Com herdeiro de Collor, Nordeste busca América


CSA, dirigido por Arnon de Mello, um dos filhos do ex-presidente, pode conquistar amanhã o primeiro título internacional para o futebol da região


PAULO COBOS
enviado especial a Maceió

Dirigido pelo filho do ex-presidente Fernando Collor de Mello,o CSA está perto de obter o primeiro título oficial internacional para o futebol do Nordeste.
Amanhã, em Córdoba, na Argentina, o time enfrenta o Talleres podendo perder por até um gol de diferença para conquistar a Conmebol -torneio sul-americano que é disputado pela última vez e foi desprezado em 1999 pelos clubes mais tradicionais do país e até pelo decadente futebol uruguaio. Da primeira divisão do Brasil, só o Paraná disputou o torneio.
O time alagoano, o mais popular e o que mais conquistou títulos do Campeonato Estadual, é presidido por Arnon de Mello, 23, filho de Collor, 50, que também dirigiu o clube na década de 70.
Para levar o CSA ao estágio atual, Arnon, que assumiu o cargo há quatro meses, mistura o uso da força política e econômica da família em Alagoas a uma política de contenção de gastos e a um forte marketing pessoal.
Para conseguir patrocínios para o clube, por exemplo, Arnon usa seu bom trânsito e as Organizações Arnon de Mello, grupo de comunicação da família, o mais importante do Estado, que reúne o jornal ""Gazeta de Alagoas" e a TV Gazeta, retransmissora da Rede Globo.
Na camisa, o CSA estampa a marca da Vasp, empresa de aviação que criou um dos primeiros escândalos do governo Collor (1990-1992).
Em 1990, Paulo César Farias, tesoureiro da campanha do ex-presidente, foi acusado de pressionar a Petrobras para que a empresa fizesse um empréstimo à Vasp, que já pertencia a Wágner Canhedo.
"O dr. Canhedo sempre ajudou a gente. Ele está a fim de ajudar, não importa se a marca da Vasp está no peito ou na manga da camisa", diz Arnon, que tem o timbre de voz e a forma de falar muito parecida com a de seu pai.
Apesar de afirmar que há independência entre o clube e o grupo Arnon de Mello, Arnon reconhece que a "Gazeta de Alagoas" teria a ""maior vontade" de publicar fotos do time exibindo a marca de possíveis patrocinadores.
Arnon revelou ainda que seus contratos de patrocínio são apenas verbais, porque o clube tem dívidas com ex-funcionários.
"Se fizermos um contrato, corremos o risco de a Justiça ir lá e pegar o dinheiro. Assim, preciso ligar todo dia 10 para cobrar a ajuda, que sempre é pequena", diz Arnon, que se inclui entre os credores do clube.
Segundo sua versão, ele arca pessoalmente com despesas como alimentação e hospedagem. Anota todo o dinheiro que gasta em um pequeno caderno, que tem na capa o escudo do CSA.
"Eu sempre empresto. Quando entra um dinheirinho, eu pego de volta, para a dívida não crescer muito", afirma.
Sempre querendo deixar o time em evidência, Arnon diz enfrentar problemas nessa área por ser filho de Fernando Collor.
As principais queixas são contra a Rede Globo. Segundo Arnon, a emissora evita mostrar reportagens sobre o CSA. O motivo, segundo o presidente do time alagoano, seria sua presença na direção do clube.
"Ninguém dá bola para a gente. Não entendo. É uma ótima história, um time do Nordeste, da terceira divisão, que pode conquistar um título internacional. Mesmo assim, eles (a Globo) ficam falando da seletiva (torneio entre os eliminados do Brasileiro que decide uma vaga na Libertadores)", afirma Arnon, que também reclama das novelas da emissora.
Segundo o filho do ex-presidente Collor, a emissora carioca teria proibido que Euclydes Marinho, autor da novela "Andando nas Nuvens", atendesse um pedido seu para a vinculação de uma cena em que um personagem falaria sobre o CSA.
Marinho, que atualmente é casado com Lilibeth Monteiro de Carvalho, mãe de Arnon, também teria tido problemas na emissora quando criou um personagem na novela de nome ""Arnon".
A Globo, por meio de sua assessoria de imprensa, nega qualquer censura ao trabalho de Marinho. No caso do CSA, diz que não costuma fazer merchandising de clubes de futebol.
Outra das marcas da gestão de Arnon foi o corte de gastos. Ele dispensou jogadores do Sul do país e apostou em nordestinos, diminuindo a folha de pagamento de R$ 60 mil para R$ 40 mil mensais. Todos os jogadores e membros da comissão técnica questionados pela Folha disseram que os salários são pagos em dia.
Para tocar o clube, Arnon não recebe conselhos do pai, que, quando dirigiu o clube, em meados dos anos 70, levou-o à primeira divisão do Brasileiro. Na verdade, o clube alagoano entrou no torneio na época em que chegou a ter quase 100 participantes, todos convidados pela CBF.
"Meu pai é um mero torcedor. Ele fica entusiasmado, queria até viajar para a Argentina", diz Arnon, que também quer deixar uma marca no clube.
"Tomara que fique conhecido como o cara que levou um time do Nordeste à uma final de um torneio internacional", afirma Arnon, que descarta, por enquanto, tentar uma reeleição para a presidência do clube -seu mandato vai até 2001.
Caso o CSA conquiste o título amanhã, Arnon não espera, como acontece em várias conquistas de atletas e times brasileiros, receber os cumprimentos do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Com certeza ele não vai nos cumprimentar nunca", diz Arnon, após criticar de forma dura o governo de FHC.
Sem descartar a incursão na política nos próximos anos, Arnon revela os limites de suas ambições: "Para vender o CSA, faço qualquer negócio."


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