|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ministro espera anunciar saída ao receber relatório na próxima quarta
Governo já tem até data para renúncia de Teixeira
DO ENVIADO A BRASÍLIA
Com as investigações encerradas, o último ato dos congressistas neste ano será a entrega do relatório ao ministro Carlos Melles
(Esporte), ao procurador-geral da
República, Geraldo Brindeiro, aos
presidentes do Senado e da Câmara e ao Ministério da Fazenda.
Na próxima quarta-feira, Álvaro Dias (PDT-PR) e Geraldo Althoff (PFL-SC) têm encontro
marcado com Melles. A entrega
do relatório ao ministro promete
se transformar em mais um contundente pronunciamento dos
três pela renúncia de Ricardo Teixeira da presidência da CBF.
Segundo a Folha apurou, Melles
retomou nos últimos dias as negociações com Teixeira para seu
afastamento. Se o plano do ministro der certo, o afastamento -ou
até mesmo a renúncia- de Teixeira será anunciado já na quarta.
No comando da CBF desde
1989, Ricardo Terra Teixeira, 54,
foi o maior prejudicado pelas investigações das CPIs. Pesam sobre
o dirigente que assinou os melhores contratos da história da entidade indícios de lavagem de dinheiro, evasão fiscal, apropriação
indébita e sonegação de impostos.
Teixeira foi contra a abertura
das CPIs e, graças a um forte
apoio no Congresso, conseguiu
retardar por mais de um ano o
início dos trabalhos. Depois, adotou estratégia arriscada, mas que
por um bom tempo se mostrou
eficiente: não recorreu à Justiça
contra as quebras de seus sigilos.
Já em meio à crise provocada
pelas CPIs, Teixeira demitiu o técnico Wanderley Luxemburgo,
também alvo das investigações,
da seleção, reaproximou-se de Pelé (estavam rompidos havia quase
dez anos), assinou contrato milionário com a AmBev, participou
da elaboração de um calendário
quadrienal para o futebol e prometeu modernizar a CBF. Jurou
que este seria seu último mandato
-vai até 2003. E, pelo menos em
público, que nunca renunciaria.
Em junho, com o apoio do grupo de deputados conhecido como
"bancada da bola", barrou o relatório da CPI da CBF/Nike.
Mas o fruto das investigações
dos deputados, indícios do envolvimento de Teixeira em crimes financeiros, provocou um grande
desgaste à imagem do dirigente.
Dentro de campo, a seleção brasileira se arrastava pelas eliminatórias, tropeçando diante de adversários até então inexpressivos.
E o presidente da CBF não titubeou em demitir o substituto de
Luxemburgo, Emerson Leão.
Chamou, para seu lugar, o carismático Luiz Felipe Scolari.
Até o milionário acordo celebrado entre a CBF e a multinacional de bebidas AmBev, que Teixeira tentou capitalizar como
mais uma prova de sua habilidade
como executivo, trouxe em seu
bojo um novo escândalo.
Uma empresa "fantasma", de
um ex-sócio do dirigente, receberá US$ 8 milhões por supostamente ter intermediado o acordo.
Em um momento agudo da crise, em setembro, Teixeira, com
problemas de saúde, licenciou-se
da entidade. Escapou de depor
pela segunda vez no Senado e
afastou um risco iminente de perder o mandato. Fora do Congresso, Melles passou a articular a renúncia do dirigente do cargo. Um
primeiro "convite" foi feito. Teixeira se mostrou disposto a aceitá-lo, mas depois declinou.
A classificação da seleção veio
no último dia 14 como um alento.
O presidente da CBF, que terá para sempre em seu currículo um título mundial (EUA, 1994) e um
vice-campeonato (França, 1998),
não entraria para a história como
homem que pela vez primeira
deixaria o país do futebol fora de
uma Copa do Mundo. Mas ainda
havia um último obstáculo a ser
enfrentado, a CPI do Futebol. Teixeira não conseguiu superá-lo.
O presidente da CBF perdeu o
apoio dos principais partidos do
Congresso, PMDB e PFL.
Tentou até o último momento
angariar o apoio de senadores da
CPI, mas sucumbiu ante a habilidade política de Dias e Althoff.
Sem um escândalo avassalador,
Althoff esmiuçou operações financeiras, escrutinou atas de eleições na CBF e produziu um catatau capaz de garantir o apoio da
comissão -a votação foi 12 a 0.
Último dos "herdeiros" de João
Havelange, ex-presidente da Fifa
e figura lendária no futebol mundial, Teixeira pode ter destino semelhante ao do homem que ele
carinhosamente chama de "pai".
Em 1974, Havelange foi afastado
pelo governo da extinta CBD.
Hoje, quase 30 anos depois, é
seu "filho" quem prepara a despedida, com muitas dúvidas sobre o
lugar que a história reservará a
ele.
(JOSÉ ALBERTO BOMBIG)
Texto Anterior: Por unanimidade, CPI condena o país do futebol Próximo Texto: Outro lado: Teixeira não se pronuncia sobre resultado final Índice
|