São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2001

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Ministro espera anunciar saída ao receber relatório na próxima quarta

Governo já tem até data para renúncia de Teixeira

DO ENVIADO A BRASÍLIA

Com as investigações encerradas, o último ato dos congressistas neste ano será a entrega do relatório ao ministro Carlos Melles (Esporte), ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, aos presidentes do Senado e da Câmara e ao Ministério da Fazenda.
Na próxima quarta-feira, Álvaro Dias (PDT-PR) e Geraldo Althoff (PFL-SC) têm encontro marcado com Melles. A entrega do relatório ao ministro promete se transformar em mais um contundente pronunciamento dos três pela renúncia de Ricardo Teixeira da presidência da CBF.
Segundo a Folha apurou, Melles retomou nos últimos dias as negociações com Teixeira para seu afastamento. Se o plano do ministro der certo, o afastamento -ou até mesmo a renúncia- de Teixeira será anunciado já na quarta.
No comando da CBF desde 1989, Ricardo Terra Teixeira, 54, foi o maior prejudicado pelas investigações das CPIs. Pesam sobre o dirigente que assinou os melhores contratos da história da entidade indícios de lavagem de dinheiro, evasão fiscal, apropriação indébita e sonegação de impostos.
Teixeira foi contra a abertura das CPIs e, graças a um forte apoio no Congresso, conseguiu retardar por mais de um ano o início dos trabalhos. Depois, adotou estratégia arriscada, mas que por um bom tempo se mostrou eficiente: não recorreu à Justiça contra as quebras de seus sigilos.
Já em meio à crise provocada pelas CPIs, Teixeira demitiu o técnico Wanderley Luxemburgo, também alvo das investigações, da seleção, reaproximou-se de Pelé (estavam rompidos havia quase dez anos), assinou contrato milionário com a AmBev, participou da elaboração de um calendário quadrienal para o futebol e prometeu modernizar a CBF. Jurou que este seria seu último mandato -vai até 2003. E, pelo menos em público, que nunca renunciaria.
Em junho, com o apoio do grupo de deputados conhecido como "bancada da bola", barrou o relatório da CPI da CBF/Nike.
Mas o fruto das investigações dos deputados, indícios do envolvimento de Teixeira em crimes financeiros, provocou um grande desgaste à imagem do dirigente.
Dentro de campo, a seleção brasileira se arrastava pelas eliminatórias, tropeçando diante de adversários até então inexpressivos.
E o presidente da CBF não titubeou em demitir o substituto de Luxemburgo, Emerson Leão. Chamou, para seu lugar, o carismático Luiz Felipe Scolari.
Até o milionário acordo celebrado entre a CBF e a multinacional de bebidas AmBev, que Teixeira tentou capitalizar como mais uma prova de sua habilidade como executivo, trouxe em seu bojo um novo escândalo.
Uma empresa "fantasma", de um ex-sócio do dirigente, receberá US$ 8 milhões por supostamente ter intermediado o acordo.
Em um momento agudo da crise, em setembro, Teixeira, com problemas de saúde, licenciou-se da entidade. Escapou de depor pela segunda vez no Senado e afastou um risco iminente de perder o mandato. Fora do Congresso, Melles passou a articular a renúncia do dirigente do cargo. Um primeiro "convite" foi feito. Teixeira se mostrou disposto a aceitá-lo, mas depois declinou.
A classificação da seleção veio no último dia 14 como um alento. O presidente da CBF, que terá para sempre em seu currículo um título mundial (EUA, 1994) e um vice-campeonato (França, 1998), não entraria para a história como homem que pela vez primeira deixaria o país do futebol fora de uma Copa do Mundo. Mas ainda havia um último obstáculo a ser enfrentado, a CPI do Futebol. Teixeira não conseguiu superá-lo.
O presidente da CBF perdeu o apoio dos principais partidos do Congresso, PMDB e PFL.
Tentou até o último momento angariar o apoio de senadores da CPI, mas sucumbiu ante a habilidade política de Dias e Althoff.
Sem um escândalo avassalador, Althoff esmiuçou operações financeiras, escrutinou atas de eleições na CBF e produziu um catatau capaz de garantir o apoio da comissão -a votação foi 12 a 0.
Último dos "herdeiros" de João Havelange, ex-presidente da Fifa e figura lendária no futebol mundial, Teixeira pode ter destino semelhante ao do homem que ele carinhosamente chama de "pai".
Em 1974, Havelange foi afastado pelo governo da extinta CBD.
Hoje, quase 30 anos depois, é seu "filho" quem prepara a despedida, com muitas dúvidas sobre o lugar que a história reservará a ele. (JOSÉ ALBERTO BOMBIG)

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