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QUE BICHO SOU EU?
Atleta diz que, enfim, superou problema de fraude em documentos
Para Anaílson, o gato virou leão
DA REPORTAGEM LOCAL
Assediado por clubes europeus e com a promessa de ter
seu salário triplicado num contrato de cinco anos com o São
Caetano depois que terminar o
atual, no próximo dia 24, o atacante Anaílson ri à toa. A ponto
até de fazer piada com uma situação que achou que poderia
pôr fim à sua carreira.
Em 1999, após reportagens da
Folha sobre a adulteração de
documentos de atletas, incluindo-o, Anaílson Brito Noleto, 23,
teve o seu registro profissional
suspenso pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Ele havia disputado o Mundial
sub-17 pela seleção brasileira,
no Egito, com documentação
falsa. Pelos documentos, ele havia nascido em 8 de março de
1980, ano que lhe permitia participar da competição. Mas, na
verdade, era de 1978.
""Foi uma situação muito difícil. Achei que seria o fim de tudo. Mas consegui me fortalecer
depois desse episódio. Agora
superei de vez e vivo um momento mágico. Só falta o título
inédito do Brasileiro", diz ele.
""Eu era gato [termo do futebol
em referência a atletas que alteram documentos para se passar
por mais novos". Hoje sou mais
que gato, sou um leão."
Nascido em Estreito, no interior do Maranhão, Anaílson não
esconde o desejo de jogar em
uma grande equipe de São Paulo, sonho que seu ex-colega de
escola, Sandro Hiroshi, 22, conseguiu alcançar antes.
O atacante são-paulino também respondeu por fraude em
sua documentação em 1999.
Ambos começaram a jogar na
escola, num time de futebol de
salão criado por um professor
de educação física. Até que um
olheiro do Rio Branco, de Americana, os descobriu.
""Como sou franzino [1,65 m e
59 kg", os técnicos ficavam com
receio de me pôr para jogar.
Mas, quando me viam em campo, se convenciam de que eu poderia ter futuro", diz Anaílson.
Ele ficou no Rio Branco de
1998 até ser emprestado ao São
Caetano, neste ano, com direito
de compra ao final do contrato
por R$ 2 milhões. Como se destacou, o time de Americana agora quer o dobro, R$ 4 milhões.
Caçula de seis irmãos -mais
dois homens (Analdivan e
Analdinei) e três mulheres
(Analdileine, Analdivane e
Analdiane)-, ele sonha, além
do título do Brasileiro, em comprar um imóvel para seus pais.
A mãe, Analdir, é dona de casa.
O pai, Luiz Carlos, que já foi vereador -""não me lembro o
partido", diz Anaílson-, atualmente trabalha na lavoura.
Por enquanto, ele pôde comprar apenas uma picape Corsa,
que usa para ir ao shopping e a
Americana, para rever amigos.
Para não ficar sozinho, trouxe
do Maranhão o primo Márcio
para morar consigo.
Religioso praticante, já faz
duas semanas que não vai aos
cultos da Igreja do Evangelho
Quadrangular por conta da
classificação de seu time.
""Vou ter tempo para rezar e
agradecer depois de conquistar
esse título com o qual eu tanto
sonho", afirma.
(MS)
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