São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2001

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QUE BICHO SOU EU?

Atleta diz que, enfim, superou problema de fraude em documentos

Para Anaílson, o gato virou leão

DA REPORTAGEM LOCAL

Assediado por clubes europeus e com a promessa de ter seu salário triplicado num contrato de cinco anos com o São Caetano depois que terminar o atual, no próximo dia 24, o atacante Anaílson ri à toa. A ponto até de fazer piada com uma situação que achou que poderia pôr fim à sua carreira.
Em 1999, após reportagens da Folha sobre a adulteração de documentos de atletas, incluindo-o, Anaílson Brito Noleto, 23, teve o seu registro profissional suspenso pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Ele havia disputado o Mundial sub-17 pela seleção brasileira, no Egito, com documentação falsa. Pelos documentos, ele havia nascido em 8 de março de 1980, ano que lhe permitia participar da competição. Mas, na verdade, era de 1978.
""Foi uma situação muito difícil. Achei que seria o fim de tudo. Mas consegui me fortalecer depois desse episódio. Agora superei de vez e vivo um momento mágico. Só falta o título inédito do Brasileiro", diz ele.
""Eu era gato [termo do futebol em referência a atletas que alteram documentos para se passar por mais novos". Hoje sou mais que gato, sou um leão."
Nascido em Estreito, no interior do Maranhão, Anaílson não esconde o desejo de jogar em uma grande equipe de São Paulo, sonho que seu ex-colega de escola, Sandro Hiroshi, 22, conseguiu alcançar antes.
O atacante são-paulino também respondeu por fraude em sua documentação em 1999.
Ambos começaram a jogar na escola, num time de futebol de salão criado por um professor de educação física. Até que um olheiro do Rio Branco, de Americana, os descobriu.
""Como sou franzino [1,65 m e 59 kg", os técnicos ficavam com receio de me pôr para jogar. Mas, quando me viam em campo, se convenciam de que eu poderia ter futuro", diz Anaílson.
Ele ficou no Rio Branco de 1998 até ser emprestado ao São Caetano, neste ano, com direito de compra ao final do contrato por R$ 2 milhões. Como se destacou, o time de Americana agora quer o dobro, R$ 4 milhões.
Caçula de seis irmãos -mais dois homens (Analdivan e Analdinei) e três mulheres (Analdileine, Analdivane e Analdiane)-, ele sonha, além do título do Brasileiro, em comprar um imóvel para seus pais. A mãe, Analdir, é dona de casa. O pai, Luiz Carlos, que já foi vereador -""não me lembro o partido", diz Anaílson-, atualmente trabalha na lavoura.
Por enquanto, ele pôde comprar apenas uma picape Corsa, que usa para ir ao shopping e a Americana, para rever amigos.
Para não ficar sozinho, trouxe do Maranhão o primo Márcio para morar consigo.
Religioso praticante, já faz duas semanas que não vai aos cultos da Igreja do Evangelho Quadrangular por conta da classificação de seu time.
""Vou ter tempo para rezar e agradecer depois de conquistar esse título com o qual eu tanto sonho", afirma. (MS)


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