São Paulo, quinta, 8 de janeiro de 1998.



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FUTEBOL
Depois de passar por uma séria dificuldade financeira, entidade da Bahia passa a ter dirigentes assalariados
Brasil tem a 1ª federação profissional

SÉRGIO RANGEL
da Sucursal do Rio

A Federação Bahiana de Futebol se tornou a primeira entidade que dirige o esporte no Brasil a se profissionalizar.
Depois de amargar uma grave crise financeira nos últimos anos, a entidade foi submetida a uma reforma estatutária e administrativa em 97 e inaugurou no dia 1º uma nova forma de administração.
"Chegou um momento no qual não podíamos mais sobreviver no amadorismo, e tivemos que nos antecipar", disse Virgílio Elísio da Costa Neto, o primeiro presidente de federação assalariado do país. Neto recebe R$ 8 mil mensais.
"Sei que ainda existem pessoas que defendem o sistema antigo, mas a profissionalização é um tabu que estamos tentando quebrar."
A idéia de profissionalizar teve início em 96, quando a federação promoveu uma série de debates internos sobre a situação financeira da instituição.
"Discutimos muito a falsa abnegação dos dirigentes e concluímos que todo trabalho teria que ser remunerado", disse Neto.
No ano passado, o presidente da federação decidiu alterar o estatuto e terceirizar vários setores da entidade, como o departamento de contabilidade e as assessorias de imprensa e de marketing.
"Além de terceirizarmos várias seções, reduzimos drasticamente o número de diretores, de 14 para apenas dois", disse Neto.
A mudança na estrutura da federação foi oficializada em julho de 97, quando os 82 filiados da entidade aprovaram em assembléia a alteração do estatuto, que permitiu a profissionalização.
Após a reforma estatutária, a federação tem apenas duas diretorias -uma responsável pela parte técnica e outra que cuida das finanças. Os dois diretores também são remunerados. Ambos recebem R$ 4,5 mil mensais.
A profissionalização levou Neto a procurar no mercado o novo diretor administrativo e financeiro, Antônio Miranda, que é executivo de uma empresa de engenharia civil na Bahia.
"Eles ainda trabalham em outras empresas pela manhã, mas são obrigados a dar expediente diariamente das 13h às 19h na sede da federação", disse o presidente.
A iniciativa baiana foi apresentada na assembléia geral da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), na segunda-feira, como exemplo para modernizar a administração das entidades.
Na ocasião, os dirigentes da CBF e das federações estaduais decidiram contratar um advogado tributarista para orientá-los sobre as novas regras tributárias do país.
Uma medida provisória decretada pelo governo no fim do ano passado determinou o fim da isenção do Imposto de Renda para as federações e os clubes a partir deste ano.
"Já estamos com todos os nossos orçamentos planejados, e não deve haver nenhum problema para fazer a declaração", disse Neto.
O modelo de profissionalização da Federação Bahiana de Futebol deve ser seguido por outras entidades.
O presidente da Federação Cearense de Futebol, Fares Lopes, se encontrou com Neto após assembléia da CBF e pediu mais detalhes sobre o modelo baiano.
Depois da reformulação, os baianos conseguiram acertar as contas e fecharam contrato de transmissão do Campeonato Baiano com três canais de televisão.
"No ano passado, a federação conseguiu pagar todos os fornecedores e o salários dos funcionários, e não deverá haver problema em 98", disse Neto.
A diretoria administrativa e financeira da entidade já anunciou que deverá conceder aos funcionários e a seus dependentes um plano de assistência médica.



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