|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
O nascimento de Zé Cabala 2
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
R esumo do capítulo anterior:
Zé Cabala, que trabalhava
como homem-bala, cai de cabeça
bem no meio de uma reunião da
CBF que acontecia em um circo
em Paracambi.
Os engravatados dirigentes
apertaram a rodinha em volta de
meu amigo e iniciaram o debate:
-Se ele se chama Zé Cabala,
deve ser um profeta!
-Um vidente das ciências
ocultas!
De repente, um perguntou:
-Diga, mestre: poderemos ganhar a Copa do Mundo?
Meu amigo, que olhava para o
buraco na lona por onde caíra,
apenas falou consigo mesmo:
-Tudo o que sobe cai; mas
nem tudo o que cai sobe.
Os dirigentes, em coro, soltaram
um "ohhh" de admiração.
Como estava meio zuretado por
causa da pancada na cabeça, Zé
Cabala disparou a falar sandices:
-Inútil o barco quando a jornada é terrestre... Em uma pequena ilha, não há homem que vá
muito longe... Se cortarmos as patas do cavalo, teremos de ir a pé...
Aquelas frases impressionaram
os dirigentes, e eles começaram a
aplaudir meu amigo. Ele, porém,
ergueu a mão esquerda e todos
pararam. Aí disse:
- Aquele que tem apenas uma
mão não pode bater palmas.
Depois de um segundo de silêncio os engravatados o aplaudiram
ainda mais fortemente:
- Sábio! É um grande sábio!
Semanas depois desembarcávamos em Turim. Eu como assistente de Zé Cabala. Ele como conselheiro da seleção.
Por falar em seleção, a nossa era
Taffarel; Ricardo Gomes, Mauro
Galvão e Mozer; Jorginho e Branco como alas; os volantes Dunga e
Alemão; Valdo era o armador; e
Muller e Careca, os atacantes.
Meu amigo continuava falando
coisas sem sentido, mas, a cada
vez que abria a boca, era mais reverenciado pela comissão técnica.
E eu, é claro, não revelei seu verdadeiro estado para ninguém.
No dia da estréia contra a Suécia, Lazaroni nos procurou para
ouvir as palavras do sábio:
- Longo é o caminho que leva ao
lugar distante, disse Zé Cabala.
Lazaroni repetiu a frase em voz
baixa, bateu o indicador no queixo e saiu dali intrigado.
No jogo, logo de cara, sofremos
um gol. Mas, por sorte, empatamos com Careca e, de novo com
ele, viramos no segundo tempo.
Antes do jogo contra Costa Rica, chamaram-no novamente e,
novamente, ele deu seu conselho:
-Não se pode entrar numa casa sem portas.
De fato, a defesa costarriquenha parecia uma casa sem portas.
E o Brasil, lento e sem imaginação, não tinha britadeira para
abrir os buracos. É duro dizer,
mas ganhamos por acaso. Muller
deu um voleio, a bola desviou
num beque e fez 1 a 0. Foi isso e só.
Desesperado com o mau futebol, Lazaroni recorreu de novo ao
mestre. Impassível, meu senhor
ajeitou o turbante e disse:
- Só quando se chega ao fundo
do poço é que se começa a subir.
- Sei, sei..., Lazaroni falou, coçando a cabeça.
Contra a Escócia, mais sofrimento: Careca chutou; a bola espirrou e ia saindo pela linha de
fundo quando Muller a alcançou
e tocou para as redes: 1 a 0. Quase
deu remorso de comemorar.
Com três vitórias por um gol de
diferença, fomos líderes do grupo.
Eu nem desconfiava que em alguns dias estaria pedindo esmolas. Mas isso já é para o próximo
capítulo.
D
Continuando a lista com as
seleções alfabéticas enviadas
pelo leitor Fernando Salem
(músico integrante da banda
Vexame e que a faz merecer
este nome), temos a seleção
"D" com Dida; Djalma Santos, Ditão, Djalma Dias e Dutra; Dema, Dunga e Dirceu
Lopes; Dorval, Djalminha e
Denílson. Técnico: Dadá Maravilha
E
A seleção "E" é formada pelos jogadores Edinho (ex-Santos); Eurico, Evandro,
Edinho (ex-Fluminense) e
Everaldo; Émerson e Edu
Marangon; Edu Bala, Enéas,
Evair e Éder. Técnico: Evaristo de Macedo
F
Fábio Costa; Forlan, Figueroa, Fontana e Felipe; Flamarion, Flávio Conceição e Fabiano; Fio Maravilha, Fernando Diniz e Fábio Jr. Técnico: Felipão
E-mail: torero@uol.com.br
Texto Anterior: Basquete - Melchiades Filho: Rede nacional Índice
|