São Paulo, terça-feira, 08 de janeiro de 2002

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FUTEBOL

O nascimento de Zé Cabala 2

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

R esumo do capítulo anterior: Zé Cabala, que trabalhava como homem-bala, cai de cabeça bem no meio de uma reunião da CBF que acontecia em um circo em Paracambi.

Os engravatados dirigentes apertaram a rodinha em volta de meu amigo e iniciaram o debate:
-Se ele se chama Zé Cabala, deve ser um profeta!
-Um vidente das ciências ocultas!
De repente, um perguntou:
-Diga, mestre: poderemos ganhar a Copa do Mundo?
Meu amigo, que olhava para o buraco na lona por onde caíra, apenas falou consigo mesmo:
-Tudo o que sobe cai; mas nem tudo o que cai sobe.
Os dirigentes, em coro, soltaram um "ohhh" de admiração.
Como estava meio zuretado por causa da pancada na cabeça, Zé Cabala disparou a falar sandices:
-Inútil o barco quando a jornada é terrestre... Em uma pequena ilha, não há homem que vá muito longe... Se cortarmos as patas do cavalo, teremos de ir a pé...
Aquelas frases impressionaram os dirigentes, e eles começaram a aplaudir meu amigo. Ele, porém, ergueu a mão esquerda e todos pararam. Aí disse:
- Aquele que tem apenas uma mão não pode bater palmas.
Depois de um segundo de silêncio os engravatados o aplaudiram ainda mais fortemente:
- Sábio! É um grande sábio!
Semanas depois desembarcávamos em Turim. Eu como assistente de Zé Cabala. Ele como conselheiro da seleção.
Por falar em seleção, a nossa era Taffarel; Ricardo Gomes, Mauro Galvão e Mozer; Jorginho e Branco como alas; os volantes Dunga e Alemão; Valdo era o armador; e Muller e Careca, os atacantes.
Meu amigo continuava falando coisas sem sentido, mas, a cada vez que abria a boca, era mais reverenciado pela comissão técnica. E eu, é claro, não revelei seu verdadeiro estado para ninguém.
No dia da estréia contra a Suécia, Lazaroni nos procurou para ouvir as palavras do sábio: - Longo é o caminho que leva ao lugar distante, disse Zé Cabala.
Lazaroni repetiu a frase em voz baixa, bateu o indicador no queixo e saiu dali intrigado.
No jogo, logo de cara, sofremos um gol. Mas, por sorte, empatamos com Careca e, de novo com ele, viramos no segundo tempo.
Antes do jogo contra Costa Rica, chamaram-no novamente e, novamente, ele deu seu conselho:
-Não se pode entrar numa casa sem portas.
De fato, a defesa costarriquenha parecia uma casa sem portas. E o Brasil, lento e sem imaginação, não tinha britadeira para abrir os buracos. É duro dizer, mas ganhamos por acaso. Muller deu um voleio, a bola desviou num beque e fez 1 a 0. Foi isso e só.
Desesperado com o mau futebol, Lazaroni recorreu de novo ao mestre. Impassível, meu senhor ajeitou o turbante e disse:
- Só quando se chega ao fundo do poço é que se começa a subir.
- Sei, sei..., Lazaroni falou, coçando a cabeça.
Contra a Escócia, mais sofrimento: Careca chutou; a bola espirrou e ia saindo pela linha de fundo quando Muller a alcançou e tocou para as redes: 1 a 0. Quase deu remorso de comemorar.
Com três vitórias por um gol de diferença, fomos líderes do grupo. Eu nem desconfiava que em alguns dias estaria pedindo esmolas. Mas isso já é para o próximo capítulo.

D
Continuando a lista com as seleções alfabéticas enviadas pelo leitor Fernando Salem (músico integrante da banda Vexame e que a faz merecer este nome), temos a seleção "D" com Dida; Djalma Santos, Ditão, Djalma Dias e Dutra; Dema, Dunga e Dirceu Lopes; Dorval, Djalminha e Denílson. Técnico: Dadá Maravilha

E
A seleção "E" é formada pelos jogadores Edinho (ex-Santos); Eurico, Evandro, Edinho (ex-Fluminense) e Everaldo; Émerson e Edu Marangon; Edu Bala, Enéas, Evair e Éder. Técnico: Evaristo de Macedo

F
Fábio Costa; Forlan, Figueroa, Fontana e Felipe; Flamarion, Flávio Conceição e Fabiano; Fio Maravilha, Fernando Diniz e Fábio Jr. Técnico: Felipão

E-mail: torero@uol.com.br



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