São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2005

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FUTEBOL

Técnico leva à Europa a estratégia, já usada no Cruzeiro e no Santos, de afastar atletas para que melhorem preparo

"Geladeira" de Luxemburgo espreita Real

RICARDO PERRONE
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

A nova comissão técnica do Real Madrid planeja colocar alguns dos galácticos na "geladeira". A estratégia é afastar por pelo menos uma semana da equipe quem render pouco.
Nesse período, o jogador fará treinos físicos e técnicos separadamente, até ser considerado apto a voltar ao time. A idéia é fazer a operação com um de cada vez.
O plano atende à exigência da diretoria, que, ao contratar Vanderlei Luxemburgo, pediu para que ele colocasse em prática a linha dura, que seria adotada com ele ou outro treinador no posto.
"Fizemos isso no Cruzeiro, tiramos o Alex, e ele voltou arrebentando. Fomos campeões. Assim como o Elano no Santos", disse o preparador físico Antônio Mello.
Ronaldo é um dos que estão na mira da comissão técnica. O atacante está acima do peso, mas, segundo Mello, que o considera forte e não revela as medidas do atleta, já começou a emagrecer.
A forma física do atacante já incomoda dirigentes do clube. Arrigo Sacchi, vice de futebol, afirmou que "é claro que Ronaldo precisa perder alguns quilos".
Segundo Mello, a estratégia de isolar jogadores será usada quando a comissão técnica sentir que "a seqüência de jogos do time está prejudicando o desempenho físico e técnico deles".
Luxemburgo e sua equipe não comentam o assunto publicamente, mas, após uma semana de trabalho no estrelar time, chegaram à mesma conclusão que levou os dirigentes a encomendarem medidas disciplinares enérgicas: faltava comando e treinamento aos galácticos.
O treinador brasileiro não fala abertamente, mas considera que os métodos de trabalho de seus antecessores estavam defasados em relação aos brasileiros.
Entre eles estão o costume de treinar apenas em um período (Mariano García Remón já recebera orientação de fazer jornadas duplas, se ficasse no cargo), o excesso de minicoletivos nos treinos e os raros trabalhos de fundamentos. Chutes a gol e cruzamentos quase nunca eram ensaiados.
"Antes a gente fazia um trabalho tático por semana. O Real era só um grupo de grandes jogadores, com o Vanderlei é um time. Antes só tinha bons atletas, faltava organização em campo", declarou Roberto Carlos, desafeto de Remón, que permanece no clube.
A nova comissão técnica demorou pouco tempo para eleger também a falta de preparo físico como um dos problemas do time.
Os jogadores mostraram dificuldades nos treinos e até no aquecimento para os seis minutos complementares contra a Real Sociedad, na quarta-feira. Foram 25 minutos de trabalho antes de o jogo começar. Tempo suficiente para Ronaldo dizer a Mello que não estava agüentando a preparação -sentia-se sufocado.
Na conversa com os atletas antes da apresentação, Luxemburgo fez referência aos treinos puxados. "Não está doendo só em alguns de vocês, está doendo em todos, mas vai ser melhor para o time", afirmou o treinador.
O estafe de Luxemburgo avalia que os astros do Real não confiavam na capacidade dos outros treinadores, não os respeitavam.
Os brasileiros evitam falar do trabalho feito antes no Real por temerem detonar uma guerra com os técnicos espanhóis. Reservadamente, porém, dizem dominar o que há de mais moderno em tática e preparação física.
A estrutura encontrada no milionário clube também parece não ter impressionado Luxemburgo e seus companheiros. "Acabei de chegar, não vou comparar a estrutura daqui com a do Brasil porque, o que sair no jornal lá, vai chegar aqui rápido e esse tipo de comparação desgasta."
Além de Mello, ele está acompanhado pelo auxiliar Marcos Teixeira. No segundo semestre, quando termina a temporada, deve pedir mais colaboradores. Não descarta indicar um psicólogo para o clube espanhol.


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