São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2011

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JOSÉ GERALDO COUTO

Gerson, 70


Meia habilidoso e cerebral, o Canhotinha de Ouro encarnou um futebol que já não existe

"NO COMEÇO ele era afoito, corria muito. Depois, chegou à perfeição como jogador de meio-campo."
A frase é de Didi e se refere a Gerson de Oliveira Nunes, que na próxima terça-feira faz 70 anos.
Um elogio como esse, vindo do maestro das conquistas das Copas do Mundo de 1958 e 1962, deve valer mais do que qualquer título, medalha ou troféu.
É engraçado pensar que Gerson, um dia, correu muito. A imagem que ficou dele foi a de um jogador cerebral, que se movia numa faixa restrita do campo, de modo cadenciado, ditando o ritmo da partida com seus lançamentos, passes, viradas de jogo.
Alguém já disse que, na Copa de 1970, a única corrida que ele deu foi para comemorar seu gol na final contra a Itália. Atleta nada exemplar, fumava até no vestiário.
Observando bem, no entanto, vemos que Gerson, por sua inigualável consciência tática, por conhecer os atalhos do campo e por antever os movimentos dos outros, estava sempre onde tinha que estar.
Era aquilo que Tostão diz que um grande meio- -campista deve ser: o jogador que domina o campo de uma intermediária à outra.
Nessa região, nesse quadrado de uns 50 por 50 metros, reinam (ou deveriam reinar) a inteligência, a criatividade, o refinamento. É ali que se decidem estrategicamente as partidas. Nesse território, Gerson era rei.
Com seus lançamentos longos e precisos, fazia a festa dos artilheiros de seu time, fossem eles craques extraordinários, como Pelé ou Jairzinho, ou simplesmente bons atacantes, como Roberto e Toninho Guerreiro.
Gerson é um homem de personalidade forte e controversa. Líder nato, falava tanto em campo que ganhou o apelido de Papagaio. Virou injustamente símbolo do brasileiro aproveitador ao dizer, num comercial de cigarro: "Gosto de levar vantagem em tudo, certo?".
Ao longo da carreira, quebrou a perna de três adversários.
Uma vez foi sem querer, numa disputa de bola com Vaguinho, do Corinthians. Outra, a mais antiga, ninguém viu: a vítima foi um certo Mauro, em um treino dos juvenis do Flamengo.
Mas a terceira foi de propósito, e todo mundo viu. Foi num amistoso entre Brasil e Peru, no Maracanã. O relato é do próprio Gerson: "O De La Torre já havia batido numa porrada de gente. Pedi para o Pelé passar uma bola dividida e entrei com a sola".
Na várzea da vida, ninguém é príncipe, ninguém é santo. Nem mesmo nossos ídolos.

jgcouto@uol.com.br


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