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São Paulo, sábado, 08 de fevereiro de 2003

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MOTOR

F de família

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A Ferrari lançou seu 49º carro de F-1 ontem em Maranello em ritmo de confiança. Acrescentou o sufixo GA em homenagem ao Avvocato, falecido recentemente, e vai correr para ser campeã do mundo de novo. Como sempre, com estilo. Mais de um ferrarista disse que o modelo F2003 GA é a Ferrari de competição mais "bonita" já produzida.
Não é, claro. A F-1 abandonou qualquer tipo de preocupação estética há muito tempo. Tudo é feito para maximizar a performance. A pintura, que hoje em dia ganhou o nome, como diria o Simão, tucano de programação visual, também é feita para maximizar potência -no caso, a comercial. Enfim, é preciso ser muito fanático para achar um carro de F-1 bonito assim, de primeira. O último que me lembro também era uma Ferrari, a derradeira que John Barnard desenhou para a marca italiana (a do bico curvado para baixo, desenho que lembrava o Concorde e que teve vida útil de apenas meia temporada).
É natural que isso ocorra. Carros de F-1 são máquinas muito especiais e caras produzidas com um único intuito, correr e vencer. Curiosamente, a glória e o tempo se encarregam de dar valor estético aos bólidos, até mesmo a uns horrorosos. A vitória é o melhor tratamento de beleza que existe. Dá estabilidade, rejuvenesce.
Se por um lado esta família F está proporcionando horas de monotonia para os telespectadores, por outro é um raro espetáculo técnico -que, não fossem as baixarias, seria um privilégio poder acompanhar. É cedo para dizer se o F2003, redesenho completo do F2002, atingirá o óbvio objetivo de ser melhor que o antecessor. Ou se o excelente modelo do ano passado, como parece, foi o pico da era Schumacher na Ferrari.
Certo, porém, é que esses carros virarão um só com o passar dos anos, e a memória coletiva tratará de transformá-lo em algo épico, como fez com a Transversale, com a Lotus preta, com o McLaren-Porsche, com o McLaren-Honda e com o Williams-Renault (não, não dá para incluir o McLaren-Mercedes nessa lista de quem acompanhou a F-1 apenas a partir do advento da televisão).
Essa memória coletiva, no entanto, não é e nunca será fiel aos fatos. É incompleta, injusta. Retrata o que ficou, não o que ocorreu. Não tem nenhum tipo de preocupação com o registro histórico. Aumenta os feitos, exacerba os fiascos, é confessadamente impressionista. E é mais forte, se instala na cabeça das pessoas, vira verdade. E se é verdade, é fato.
É fato que assistimos a um grave momento da F-1, talvez um dos piores de sua história? Sim, é. Mas daqui a duas décadas talvez isso seja lembrado apenas pelos especialistas. O grande público, por exemplo, não se lembra que a categoria já teve até greve de pilotos. Ou, mais próximo, que a geração do alemão ameaçou não correr um treino de sexta-feira, em um movimento manipulado, quem diria, por Flavio Briatore logo após o choque provocado pela morte de Senna (desse episódio, aliás, ressurgiu a GPDA).
É fato que a Ferrari cumpre uma de suas mais brilhantes trajetórias na F-1? Sim, é fato. Mas não arrisco imaginar que alguém vá esquecer o festival de marmeladas que a escuderia italiana promoveu no ano passado. Schumacher pode ser hexacampeão, o F2003 GA o melhor carro da história. Mas alguém sempre irá lembrar do rádio de Ross Brawn.

Firman x Massa
O brasileiro, recém-anunciado como piloto de testes pela Ferrari, perdeu a vaga da Jordan por força do patrocinador, que queria um britânico na escuderia. E, para piorar, Ralph Firman é xodó da F-1 que fala inglês. É filho de outro Ralph Firman, que foi mecânico do brasileiro Emerson Fittipaldi e depois se tornou respeitado construtor, dono da Van Diemen.

Ameaça
Em entrevista à "Autosport", Martin Whitmarsh, alto executivo da McLaren, declarou que o time ainda não desistiu de tomar medidas judiciais contra a Federação Internacional. Seu principal argumento é que a entidade máxima do automobilismo não mudou as regras, fez apenas uma releitura do livro, o que é verdade. Em resumo, se a McLaren na metade do ano estiver andando bem com a eletrônica ativa, já deixou claro que irá ao tapetão para manter o privilégio. A confusão está só começando.

E-mail mariante@uol.com.br


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