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MOTOR
F de família
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A Ferrari lançou seu 49º
carro de F-1 ontem em Maranello em ritmo de confiança.
Acrescentou o sufixo GA em homenagem ao Avvocato, falecido
recentemente, e vai correr para
ser campeã do mundo de novo.
Como sempre, com estilo. Mais de
um ferrarista disse que o modelo
F2003 GA é a Ferrari de competição mais "bonita" já produzida.
Não é, claro. A F-1 abandonou
qualquer tipo de preocupação estética há muito tempo. Tudo é feito para maximizar a performance. A pintura, que hoje em dia ganhou o nome, como diria o Simão, tucano de programação visual, também é feita para maximizar potência -no caso, a comercial. Enfim, é preciso ser muito fanático para achar um carro
de F-1 bonito assim, de primeira.
O último que me lembro também
era uma Ferrari, a derradeira que
John Barnard desenhou para a
marca italiana (a do bico curvado para baixo, desenho que lembrava o Concorde e que teve vida
útil de apenas meia temporada).
É natural que isso ocorra. Carros de F-1 são máquinas muito especiais e caras produzidas com
um único intuito, correr e vencer.
Curiosamente, a glória e o tempo
se encarregam de dar valor estético aos bólidos, até mesmo a uns
horrorosos. A vitória é o melhor
tratamento de beleza que existe.
Dá estabilidade, rejuvenesce.
Se por um lado esta família F está proporcionando horas de monotonia para os telespectadores,
por outro é um raro espetáculo
técnico -que, não fossem as baixarias, seria um privilégio poder
acompanhar. É cedo para dizer se
o F2003, redesenho completo do
F2002, atingirá o óbvio objetivo
de ser melhor que o antecessor.
Ou se o excelente modelo do ano
passado, como parece, foi o pico
da era Schumacher na Ferrari.
Certo, porém, é que esses carros
virarão um só com o passar dos
anos, e a memória coletiva tratará de transformá-lo em algo épico, como fez com a Transversale,
com a Lotus preta, com o McLaren-Porsche, com o McLaren-Honda e com o Williams-Renault
(não, não dá para incluir o McLaren-Mercedes nessa lista de quem
acompanhou a F-1 apenas a partir do advento da televisão).
Essa memória coletiva, no entanto, não é e nunca será fiel aos
fatos. É incompleta, injusta. Retrata o que ficou, não o que ocorreu. Não tem nenhum tipo de
preocupação com o registro histórico. Aumenta os feitos, exacerba
os fiascos, é confessadamente impressionista. E é mais forte, se instala na cabeça das pessoas, vira
verdade. E se é verdade, é fato.
É fato que assistimos a um grave momento da F-1, talvez um dos
piores de sua história? Sim, é. Mas
daqui a duas décadas talvez isso
seja lembrado apenas pelos especialistas. O grande público, por
exemplo, não se lembra que a categoria já teve até greve de pilotos.
Ou, mais próximo, que a geração
do alemão ameaçou não correr
um treino de sexta-feira, em um
movimento manipulado, quem
diria, por Flavio Briatore logo
após o choque provocado pela
morte de Senna (desse episódio,
aliás, ressurgiu a GPDA).
É fato que a Ferrari cumpre
uma de suas mais brilhantes trajetórias na F-1? Sim, é fato. Mas
não arrisco imaginar que alguém
vá esquecer o festival de marmeladas que a escuderia italiana
promoveu no ano passado. Schumacher pode ser hexacampeão, o
F2003 GA o melhor carro da história. Mas alguém sempre irá
lembrar do rádio de Ross Brawn.
Firman x Massa
O brasileiro, recém-anunciado como piloto de testes pela Ferrari,
perdeu a vaga da Jordan por força do patrocinador, que queria um
britânico na escuderia. E, para piorar, Ralph Firman é xodó da F-1
que fala inglês. É filho de outro Ralph Firman, que foi mecânico do
brasileiro Emerson Fittipaldi e depois se tornou respeitado construtor, dono da Van Diemen.
Ameaça
Em entrevista à "Autosport", Martin Whitmarsh, alto executivo da
McLaren, declarou que o time ainda não desistiu de tomar medidas judiciais contra a Federação Internacional. Seu principal argumento é que a entidade máxima do automobilismo não mudou as
regras, fez apenas uma releitura do livro, o que é verdade. Em resumo, se a McLaren na metade do ano estiver andando bem com a
eletrônica ativa, já deixou claro que irá ao tapetão para manter o
privilégio. A confusão está só começando.
E-mail mariante@uol.com.br
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