UOL


São Paulo, sábado, 08 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Índice

FUTEBOL

O feitiço da Vila

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O torcedor santista está nas nuvens. O show que Robinho e companhia deram quarta-feira na Colômbia fez muita gente lembrar do "dream team" santista dos anos 60.
Sem querer ser estraga-prazeres, é bom lembrar que, dias antes, no Pacaembu, o mesmo Santos mal conseguira vencer o modesto Juventus, numa partida amarrada e desprovida de brilho. O contraste entre o desempenho sofrível do sábado e o espetáculo da quarta dá o que pensar.
Uma explicação possível para essa disparidade seria a diferença de motivação. A Copa Libertadores da América é infinitamente mais importante que o combalido Campeonato Paulista. Tudo bem. Mas o Santos não ganha um Paulistão desde 1984, e isso deveria ser motivação suficiente para seus jogadores no Estadual.
Outra hipótese foi levantada pelo próprio treinador santista. Segundo Leão, além de seus pupilos estarem inspirados na noite de quarta, o América de Cali mostrou-se uma equipe muito frágil.
Mas o time da rua Javari também não é nenhuma maravilha. Poucos dias antes de engrossar as coisas para o Santos, havia sido goleado por 6 a 0 pelo São Paulo. Como segurou os meninos da Vila? Minha impressão é a de que, ao contrário dos incautos colombianos do América, as equipes brasileiras, em especial as paulistas, estão aprendendo rapidamente a neutralizar os principais astros santistas -Robinho e Diego-, que não estão sabendo fugir dessa marcação. Pelo menos foi o que se viu nas primeiras partidas do Santos no Paulistão.
Se essa hipótese estiver correta, será mais fácil para o Santos encantar o mundo em jogos internacionais do que vencer seus pares brasileiros. Estes últimos teriam o corpo fechado contra o "feitiço da Vila". Nisso o Santos de hoje se distancia do Santos dos anos 60. O time de Pelé, Coutinho e Pepe triturava seus adversários onde quer que fosse: na altitude do México ou nos campos esburacados do interior paulista. Não havia no mundo esquema que anulasse aquela linha de frente.
Não quero ser o chato dessa festa. Também fiquei encantado com o show santista (como havia ficado na reta final do Brasileiro do ano passado) e espero que ele continue por muito tempo. No futebol é preciso apostar sempre no sonho e na fantasia.
Mas é bom manter os pés no chão. Outro dia escrevi aqui que Robinho deveria escapar da sombra opressiva de Pelé. Do mesmo modo, penso que o Santos de hoje deve escapar da sombra igualmente opressiva do Santos da época de ouro.
 
O vice-presidente do Corinthians, Antonio Roque Citadini, foi triplamente infeliz ao dizer que aumentaria o preço dos ingressos de numeradas e cadeiras especiais para punir os torcedores privilegiados que, segundo ele, foram os únicos a vaiar o técnico Geninho no jogo de quarta.
Primeiro, porque não é verdade. A vaia veio de todos os cantos do estádio. Segundo, porque Citadini criou uma cisão populista entre corintianos "bons" (os pobres) e "maus" (os ricos).
Terceiro, porque a melhor maneira de minimizar a suposta má influência dos torcedores "abonados" (na verdade, de classe média) seria baixar o preço abusivo da arquibancada especial (que custa R$ 30), tornando-a acessível ao torcedor mais pobre -e não o contrário.

Estranha seleção
Pode ser só coincidência, mas, ao convocar para o amistoso contra a China os jogadores que atuam no Brasil, Parreira deixou de lado os paulistas, que disputam o Estadual mais importante em termos econômicos e de mídia. Eu gostaria de entender os critérios. Se a idéia era manter a base do penta, por que Marcos e Rogério ficaram de fora? Se a idéia era renovar, por que Kaká e Diego não foram chamados?

Outro time
Quem viu a partida horrorosa entre Corinthians e Cruz Azul deve ter se perguntado como foi que o time alvinegro, praticamente com o mesmo elenco (a única troca foi Deivid por Liédson), chegou a ser vice brasileiro no ano passado. Das duas uma: ou a saída de Deivid desequilibrou o time ou Parreira fez milagres no ano passado. Ou um pouco das duas coisas.

E-mail jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Guga joga dupla com energia de sobra
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.