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FUTEBOL
O feitiço da Vila
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O torcedor santista está
nas nuvens. O show que Robinho e companhia deram quarta-feira na Colômbia fez muita
gente lembrar do "dream team"
santista dos anos 60.
Sem querer ser estraga-prazeres, é bom lembrar que, dias antes, no Pacaembu, o mesmo Santos mal conseguira vencer o modesto Juventus, numa partida
amarrada e desprovida de brilho.
O contraste entre o desempenho
sofrível do sábado e o espetáculo
da quarta dá o que pensar.
Uma explicação possível para
essa disparidade seria a diferença
de motivação. A Copa Libertadores da América é infinitamente
mais importante que o combalido
Campeonato Paulista. Tudo bem.
Mas o Santos não ganha um Paulistão desde 1984, e isso deveria
ser motivação suficiente para seus
jogadores no Estadual.
Outra hipótese foi levantada
pelo próprio treinador santista.
Segundo Leão, além de seus pupilos estarem inspirados na noite de
quarta, o América de Cali mostrou-se uma equipe muito frágil.
Mas o time da rua Javari também não é nenhuma maravilha.
Poucos dias antes de engrossar as
coisas para o Santos, havia sido
goleado por 6 a 0 pelo São Paulo.
Como segurou os meninos da Vila? Minha impressão é a de que,
ao contrário dos incautos colombianos do América, as equipes
brasileiras, em especial as paulistas, estão aprendendo rapidamente a neutralizar os principais
astros santistas -Robinho e Diego-, que não estão sabendo fugir
dessa marcação. Pelo menos foi o
que se viu nas primeiras partidas
do Santos no Paulistão.
Se essa hipótese estiver correta,
será mais fácil para o Santos encantar o mundo em jogos internacionais do que vencer seus pares brasileiros. Estes últimos teriam o corpo fechado contra o
"feitiço da Vila". Nisso o Santos
de hoje se distancia do Santos dos
anos 60. O time de Pelé, Coutinho
e Pepe triturava seus adversários
onde quer que fosse: na altitude
do México ou nos campos esburacados do interior paulista. Não
havia no mundo esquema que
anulasse aquela linha de frente.
Não quero ser o chato dessa festa. Também fiquei encantado
com o show santista (como havia
ficado na reta final do Brasileiro
do ano passado) e espero que ele
continue por muito tempo. No futebol é preciso apostar sempre no
sonho e na fantasia.
Mas é bom manter os pés no
chão. Outro dia escrevi aqui que
Robinho deveria escapar da sombra opressiva de Pelé. Do mesmo
modo, penso que o Santos de hoje
deve escapar da sombra igualmente opressiva do Santos da
época de ouro.
O vice-presidente do Corinthians, Antonio Roque Citadini,
foi triplamente infeliz ao dizer
que aumentaria o preço dos ingressos de numeradas e cadeiras
especiais para punir os torcedores
privilegiados que, segundo ele, foram os únicos a vaiar o técnico
Geninho no jogo de quarta.
Primeiro, porque não é verdade. A vaia veio de todos os cantos
do estádio. Segundo, porque Citadini criou uma cisão populista
entre corintianos "bons" (os pobres) e "maus" (os ricos).
Terceiro, porque a melhor maneira de minimizar a suposta má
influência dos torcedores "abonados" (na verdade, de classe média) seria baixar o preço abusivo
da arquibancada especial (que
custa R$ 30), tornando-a acessível
ao torcedor mais pobre -e não o
contrário.
Estranha seleção
Pode ser só coincidência,
mas, ao convocar para o
amistoso contra a China os
jogadores que atuam no Brasil, Parreira deixou de lado os
paulistas, que disputam o Estadual mais importante em
termos econômicos e de mídia. Eu gostaria de entender
os critérios. Se a idéia era
manter a base do penta, por
que Marcos e Rogério ficaram de fora? Se a idéia era renovar, por que Kaká e Diego não foram chamados?
Outro time
Quem viu a partida horrorosa entre Corinthians e Cruz
Azul deve ter se perguntado
como foi que o time alvinegro, praticamente com o
mesmo elenco (a única troca
foi Deivid por Liédson), chegou a ser vice brasileiro no
ano passado. Das duas uma:
ou a saída de Deivid desequilibrou o time ou Parreira fez
milagres no ano passado. Ou
um pouco das duas coisas.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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