São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2000


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TÊNIS
Independência ou morte

THALES DE MENEZES

Gustavo Kuerten fez barba e cabelo em Santiago. Um ótimo resultado, melhor ainda para servir como estopim de uma boa temporada. Não foi um torneio cheio de feras, mas o brasileiro cumpriu o que se esperava dele.
Desde a tarde de domingo, depois dos títulos de Kuerten, a caixa de correio eletrônico deste colunista recebe muitas mensagens que desejam, usando as palavras de um leitor, ""esfregar as vitórias de Kuerten na cara de quem só o critica sem piedade". Ou, como escreve outro, ""calar a boca dos críticos que só trabalham contra o esporte brasileiro".
Uau! Bem, lá vamos nós, de novo. É espantoso como alguns atletas e torcedores, principalmente esses, reagem com fúria a qualquer crítica. Acho que a mudança de perfil de parte da imprensa esportiva brasileira é o agente causador disso.
De 20 anos para cá, muitos integrantes da mídia passaram a ser também promotores de eventos esportivos. Alguns fizeram isso de forma clara, deixando atividades de jornalista ou comunicador e assumindo uma empresa de promoção. Outros preservam seus cargos, mas têm envolvimento, maior ou menor, na realização de eventos.
Quando o vôlei se tornou carro-chefe das transmissões esportivas da TV Bandeirantes nos anos 80, era visível o esforço de narradores, comentaristas e repórteres para convencer o espectador de que ele estava assistindo ao maior espetáculo da Terra. Outro exemplo é a chatíssima Indy, ou Fórmula Mundial, Cart, sei lá que nome terá nesta temporada. Em todas as emissoras que já transmitiram provas da categoria, ao vivo ou não, era constrangedor acompanhar narradores e comentaristas tentando injetar emoção em corridas mais do que decididas. O global Galvão Bueno, de competência e popularidade inquestionáveis, afirma ser um ""vendedor de emoções" e assume, com dignidade, o papel de exemplo mais bem acabado desse novo profissional de mídia.
Agora, numa época em que a exclusividade da transmissão de eventos é disputada a tapa, todos querem vender seu peixe, sem medo de ser feliz. Como o recente Mundial de Clubes da Fifa, enaltecido pela Bandeirantes, que o transmitia, e desprezado pela Globo, que ficou chupando dedo.
Tudo isso está resumido aqui para dizer uma coisa: diferentemente da totalidade de outros colunistas, comentaristas e repórteres de tênis em atividade no Brasil, este colunista não tem vínculo algum, profissional ou moral, com jogadores, patrocinadores ou promotores de eventos. Não ganho um tostão que seja do tênis, além do pagamento que recebo por este texto semanal.
Por isso tudo, não vou deixar de criticar desempenhos ruins ou erros de estratégia de brasileiros. Kuerten tem talento e potencial para ser o número um do mundo e precisa conviver com esse tipo de cobrança. Ele já tem muita gente para passar a mão na cabeça dele.

NOTAS

Nada com isso
Já que a coluna de Quarta-Feira de Cinzas está com espírito de carta aberta, aqui vai uma resposta a muita gente que reclama da falta de tênis juvenil brasileiro nesta coluna. Simples: critério editorial. Este é um espaço reduzido. Mostrar um pouco mais sobre o circuito profissional aos jovens leitores é mais útil do que publicar agenda de campeonatinhos ou lista de vencedores dos mesmos. Novamente utilizando palavras de pessoas que me procuram, jornal não foi feito para "dar uma força" ao tênis nacional. É melhor bater em outra porta.

Muita grana
Os valores dos tenistas na lista de esportistas que mais lucraram em 1999, da revista ""Forbes", estão muito abaixo, mas muito mesmo, do faturamento real. Andre Agassi com US$ 20 milhões? Bobagem. O valor é muito mais indecente. Duas ou três vezes mais.

E-mail thalesmenezes@uol.com.br


Thales de Menezes escreve às quartas

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