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TÊNIS
Independência ou morte
THALES DE MENEZES
Gustavo Kuerten fez barba e cabelo em Santiago. Um ótimo resultado, melhor ainda para servir
como estopim de uma boa temporada. Não foi um torneio cheio de
feras, mas o brasileiro cumpriu o
que se esperava dele.
Desde a tarde de domingo, depois dos títulos de Kuerten, a caixa de correio eletrônico deste colunista recebe muitas mensagens
que desejam, usando as palavras
de um leitor, ""esfregar as vitórias
de Kuerten na cara de quem só o
critica sem piedade". Ou, como escreve outro, ""calar a boca dos críticos que só trabalham contra o
esporte brasileiro".
Uau! Bem, lá vamos nós, de novo. É espantoso como alguns atletas e torcedores, principalmente
esses, reagem com fúria a qualquer crítica. Acho que a mudança
de perfil de parte da imprensa esportiva brasileira é o agente causador disso.
De 20 anos para cá, muitos integrantes da mídia passaram a ser
também promotores de eventos
esportivos. Alguns fizeram isso de
forma clara, deixando atividades
de jornalista ou comunicador e
assumindo uma empresa de promoção. Outros preservam seus
cargos, mas têm envolvimento,
maior ou menor, na realização de
eventos.
Quando o vôlei se tornou carro-chefe das transmissões esportivas
da TV Bandeirantes nos anos 80,
era visível o esforço de narradores,
comentaristas e repórteres para
convencer o espectador de que ele
estava assistindo ao maior espetáculo da Terra. Outro exemplo é a
chatíssima Indy, ou Fórmula
Mundial, Cart, sei lá que nome terá nesta temporada. Em todas as
emissoras que já transmitiram
provas da categoria, ao vivo ou
não, era constrangedor acompanhar narradores e comentaristas
tentando injetar emoção em corridas mais do que decididas. O
global Galvão Bueno, de competência e popularidade inquestionáveis, afirma ser um ""vendedor
de emoções" e assume, com dignidade, o papel de exemplo mais
bem acabado desse novo profissional de mídia.
Agora, numa época em que a
exclusividade da transmissão de
eventos é disputada a tapa, todos
querem vender seu peixe, sem medo de ser feliz. Como o recente
Mundial de Clubes da Fifa, enaltecido pela Bandeirantes, que o
transmitia, e desprezado pela Globo, que ficou chupando dedo.
Tudo isso está resumido aqui
para dizer uma coisa: diferentemente da totalidade de outros colunistas, comentaristas e repórteres de tênis em atividade no Brasil, este colunista não tem vínculo
algum, profissional ou moral, com
jogadores, patrocinadores ou promotores de eventos. Não ganho
um tostão que seja do tênis, além
do pagamento que recebo por este
texto semanal.
Por isso tudo, não vou deixar de
criticar desempenhos ruins ou erros de estratégia de brasileiros.
Kuerten tem talento e potencial
para ser o número um do mundo
e precisa conviver com esse tipo de
cobrança. Ele já tem muita gente
para passar a mão na cabeça dele.
NOTAS
Nada com isso
Já que a coluna de Quarta-Feira de Cinzas está com espírito de carta aberta, aqui vai
uma resposta a muita gente
que reclama da falta de tênis juvenil brasileiro nesta coluna.
Simples: critério editorial. Este
é um espaço reduzido. Mostrar
um pouco mais sobre o circuito profissional aos jovens leitores é mais útil do que publicar
agenda de campeonatinhos ou
lista de vencedores dos mesmos. Novamente utilizando
palavras de pessoas que me
procuram, jornal não foi feito
para "dar uma força" ao tênis
nacional. É melhor bater em
outra porta.
Muita grana
Os valores dos tenistas na lista de esportistas que mais lucraram em 1999, da revista
""Forbes", estão muito abaixo,
mas muito mesmo, do faturamento real. Andre Agassi com
US$ 20 milhões? Bobagem. O
valor é muito mais indecente.
Duas ou três vezes mais.
E-mail thalesmenezes@uol.com.br
Thales de Menezes escreve às quartas
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