São Paulo, terça-feira, 08 de março de 2005

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FUTEBOL

Acompanhado de intérprete cabeludo, técnico argentino assume o time, e jogadores pedem que ele fale mais devagar

Passarella faz Corinthians treinar ouvido

Fernando Santos/Folha Imagem
O técnico argentino Daniel Passarella caminha ao lado do intérprete Leandro Moura no primeiro treino que comandou no Corinthians


EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo com a ajuda de um intérprete, o argentino Daniel Passarella se enrolou para orientar os corintianos no primeiro treino sob seu comando no clube.
Só se fez entender quando falou pausadamente com os atletas, que pediram ao técnico para se expressar mais devagar. Em boa parte do treino, o tradutor ficou no banco de reservas, mas não deixou de chamar a atenção.
Leandro Moura, um rapaz com longos cabelos encaracolados, foi repreendido pelo zagueiro e capitão corintiano, Anderson, ao entrar no gramado de camisa verde, cor do Palmeiras, arqui-rival do clube. "Ei, tira essa camisa. Sua sorte é que a Gaviões não está aqui", disse a Moura.
O intérprete, então, desceu ao vestiário e vestiu um uniforme de treino corintiano. Mas não largou o dicionário português/espanhol que carregava para auxiliá-lo.
Os jogadores se divertiram com o estilo do intérprete. "A primeira coisa que reparamos foi no cabelo. "Pôxa, olha o tradutor. O Passarella não vai gostar'", brincou o meia Roger.
Mas, segundo a Folha apurou, o treinador não fez restrições à cabeleira. Passarella, que se desentendeu com os jogadores Fernando Redondo e Batistuta, em 1998, por causa das longas madeixas, aprovou a contratação de Moura.
Em campo, com uma prancheta vermelha nas mãos e usando boné, o técnico corintiano interrompeu por várias vezes as atividades para conversar com os jogadores.
Ele só solicitou a ajuda do tradutor quando reuniu os atletas em uma roda. Sem Moura em campo, o zagueiro argentino Sebá precisou intervir.
"Em determinado ponto do treino, Passarella pediu para que o volante diminuísse o espaço e avançasse ao ataque. Como falou muito rápido, o Wendel não entendeu nada, e aí eu tive que explicar", afirmou o zagueiro.
Um outro lance do treino envolveu o zagueiro Fefo, vindo das categorias de base, e Roger.
"Foi engraçado. Até ri na hora. Ele me mandou avançar e pediu ao Fefo que não me acompanhasse. O Fefo perguntou o que ele havia dito. Eu disse, e ele não acreditou, achou que eu estava de sacanagem. Tivemos de repetir a jogada", disse o meia, que afirmou entender espanhol por ter vivido e jogado em Portugal.
"Mas ele é simpático. Disse que dentro de campo vai querer defender seus atletas com unhas e dentes. Pelo que nos passou é um treinador que parece ser parceiro", falou Roger.
O meia Carlos Alberto, outro que passou pelo futebol europeu, também disse que conseguiu entender as palavras do novo chefe.
"Mas só que quando ele falou mais rápido ficou difícil."
Nesses momentos, Passarella procurou gesticular bastante para acertar o posicionamento. O treinador pediu ao time equilíbrio.
Por isso, ontem, a maior parte do treinamento foi dedicada à marcação. "Ele acha que a gente tem de melhorar muito no aspecto defensivo, na recomposição da marcação", disse Carlos Alberto.
"Ele fez mais a parte tática. Não trabalhou muito com bola. Amanhã vamos treinar jogadas e no jogo vamos fazer tudo o que ele quer", declarou o atleta, que adiantou algumas novas determinações. "Por exemplo, ele não quer o Coelho apoiando o jogo inteiro, senão ele não agüenta."
O treinador fez duas alterações na equipe titular. Tirou o zagueiro Betão e o volante Marcelo Mattos, que iniciaram no time principal, e colocou Sebá e Fabrício.
O volante, que ficou nove meses sem jogar por causa de uma lesão no joelho, agradou ao técnico no jogo contra o União São João.


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