São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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JUCA KFOURI

Ronaldo, pela terceira vez


Para quem já errou duas vezes com o Fenômeno, nada como poder torcer para errar mais uma e ficar feliz


JÁ ERREI duas vezes em minhas impressões sobre Ronaldo. Quero errar outra.
Na primeira vez, ao lado quase do mundo todo, menos dele, de Luiz Felipe Scolari, da equipe médica que o acompanhava e dos eternos otimistas de sempre. Sim, eu duvidava de que ele poderia disputar a Copa de 2002 e clamava por Romário. Pois, como se sabe muito bem, ele não só a disputou como foi o artilheiro, com oito gols, e ainda marcou duas vezes na finalíssima diante dos alemães. Fenômeno!
Então, sua recuperação significou a maior volta por cima da história dos esportistas profissionais, maior até mesmo que a de Lance Armstrong, o ciclista norte-americano que superou um câncer no testículo. Porque, se Armstrong teve a vida em risco, Ronaldo, para voltar a atuar, precisou fazer um sacrifício ainda muito maior.
Na Copa da Ásia, além do mais, acabou eleito como o melhor do torneio, algo injusto com Rivaldo, mas justo com o esforço dele, que participou dos sete jogos. Daí em diante resolvi que nunca mais duvidaria de Ronaldo. Eis que, às vésperas da Copa de 2006, outra vez uma onda de desconfiança cresceu no Brasil em torno da participação dele no torneio na Alemanha.
Aqui, nesta Folha, então, escrevi, no dia 12 de março de 2006, uma coluna cujo título foi "Eu acredito em Ronaldos", na qual dizia: "Que está jogando mal, fora de forma, com dificuldade até para uma simples matada de bola, é óbvio, e ele é o primeiro a saber. Mas daí a duvidar de sua capacidade de recuperação vai enorme, incomensurável distância. Porque a carreira de Ronaldo tem sido uma permanente volta por cima, como nenhum outro jogador de futebol de seu nível experimentou na história. Ocioso enumerar por quê."
Foi meu segundo erro. Três meses depois, já na Copa, a coluna teve como título um insólito "Dá nele, bola!" e dizia o seguinte: "Até por sensibilidade, Parreira deve poupar o Fenômeno, preservar seu enorme nome. Porque foi torturante vê-lo como um peso-pesado cambaleante, vagando pelo gramado, como se nada que estivesse acontecendo em volta fosse com ele. Matar uma simples bola parecia um sacrifício hercúleo, algo assim como nunca vi em um campeão indiscutível como ele".
Eis que Ronaldo luta para um novo retorno. Ao gramado já voltou, na quarta passada. Ao futebol, ainda não, e nada indica, dadas as suas condições físicas, que voltará. Tomara que seja o terceiro erro.
Fenômeno de mídia a tal ponto que bate recordes de audiência, é motivo de ufanismo para os marqueteiros de plantão, sejam eles homens de marketing mesmo, jornalistas ou comunicadores, e de irritação até ingênua para o ombudsman desta Folha, Ronaldo mostrou em Itumbiara que continua a pensar muito melhor que seus companheiros, mas que sua mobilidade está mais para sumô do que para futebol.
Uma nota sobre ele rende imediatamente 200 mil visitas nestes blogs que escravizam jornalistas, mas porque, agora, ele é um Fenômeno de outra natureza. Se brilhar com a bola, será fugaz.

blogdojuca@uol.com.br


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