São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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VÔLEI

Principal levantadora do país, que vai parar para ter outro filho, busca 12º título nacional da carreira contra o Osasco

Fernanda Venturini dá início à despedida

Bruno Miranda/Folha Imagem
A levantadora Fernanda Venturini posa no ginásio do Osasco no último treino do Rio de Janeiro antes daquele que pode ser seu jogo de despedida em São Paulo


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Única jogadora a figurar como titular das últimas três (e mais importantes) gerações do vôlei nacional, Fernanda Venturini inicia hoje à tarde sua despedida.
A levantadora, uma das melhores de todos os tempos, tem a série de cinco jogos contra o Osasco para tentar deixar a quadra com mais um título nacional, o 12º da carreira mais vitoriosa do país.
A decisão encerra também a parceria na quadra com o técnico Bernardinho, com quem atingiu o auge na seleção e hoje é seu comandante no Rio de Janeiro.
Fernanda, 35, vai se aposentar para cuidar melhor da dupla que forma com o treinador fora do vôlei. Casada com Bernardinho desde 1999, a mãe de Júlia, 4, quer ter outro filho e dedicar mais tempo à família. É ela quem comanda a casa e cuida da agenda do marido.
"A ascensão toda do Bernardo também se deve à Fernanda. Quem o conhece sabe que ele era um antes dela e agora é outro. São dois talentos que se somam na quadra e na vida", diz Ricardo Tabach, assistente do treinador no Rio de Janeiro e na seleção.
Tabach acompanha a dupla desde 1994, quando Bernardinho assumiu o time feminino e, de cara, levou o país a seu melhor resultado em Mundiais, a medalha de prata obtida em São Paulo.
Companheiro também da última empreitada, ele vê evolução em Fernanda nesta temporada.
"Ela está ajudando mais as novatas. Está mais paciente, tolerante com os erros das mais novas. Está surpreendendo a todos nós. Ela quer encerrar a carreira bem."
Na última Superliga, após ser bi pelo Osasco em seu retorno, Fernanda amargou o vice com o Rio.
Em 2001, quando, grávida, anunciou que disputava sua última temporada pelo Vasco, sofreu o revés diante do Flamengo.
Por isso, não comenta o adeus. "Falo de despedida quando me despedir. Se for campeã, será feliz, se perder, vai ser outra coisa..."
Para novatas que atuaram a seu lado na seleção nos últimos dois anos, o adeus não é festejado.
Com as jogadas de Fernanda, atletas já rodadas como Valeskinha (melhor bloqueio da fase classificatória) e Bia (maior pontuadora) ganharam mais visibilidade. Jovens como Jaqueline, Mari, Paula Pequeno, Renatinha (melhor atacante) e Fabiana deram um salto de qualidade. Fernanda é quem levanta e defende com mais eficiência na Superliga.
"Foi um privilégio contar com ela e tentamos tirar tudo que pudemos", diz Jaqueline, 22, uma das principais promessas do país.
"Ela foi muito importante para minha recuperação [não foi a Atenas por causa de lesão no joelho]. Quando eu voltei, ela levantava bolas pra mim, mostrava confiança. E dava muita força e muitas broncas. A Fernanda fala o que pensa, mesmo que te magoe, mas é para o bem."
O temperamento, dizem, é o mesmo dos tempos de categorias de base, quando despontou na Recreativa, de Ribeirão Preto.
Na época, Fernanda, natural de Araraquara, ainda era atacante. Foi nessa posição que conquistou o Mundial juvenil de 1987.
Com ela, chegaram à seleção nomes como Ana Moser e Márcia Fu, geração que levou o país pela primeira vez ao pódio olímpico (bronze em Atlanta-1996).
"Ela sempre se destacou pelo talento, por ser completa e pela liderança. Seu caráter já estava formado aos 15 anos", conta Antônio Rizola, comandante do Guarani nos clássicos contra a Recra em meados dos anos 80.
Os dois voltaram a trabalhar juntos em 1989, quando Rizola auxiliou Wadson Lima na conquista de outro Mundial juvenil.
Segundo o irmão Marcelo, Fernanda criou defesas para sair de casa, "tornou-se mais fria por fora, mas é sensível por dentro."
A levantadora nunca temeu dizer o que pensa, brigou com técnicos, criticou atletas, bancou o namoro com o treinador, venceu, perdeu, sem abalar a unanimidade na quadra. E inicia seu adeus ainda sem substitutas à altura.


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