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JUCA KFOURI
Muricy Ramalho, o Telêzinho (2)
Você já leu esta coluna, em novembro passado, mas vale a pena repeti-la, com supressões e acréscimos
A COMPARAÇÃO cabe. E não cabe. Explique-se.
Não cabe porque Muricy
está no começo de sua carreira como
técnico. Mas cabe por uma porção
de outras coisas.
Por exemplo: já houve quem quisesse ver nele o perfil de perdedor,
mais essa bobagem importada dos
Estados Unidos que divide o mundo
entre "winners" e "losers", vencedores e perdedores.
Telê Santana também provou deste fel, até calar a boca dos coitados.
Como Abel Braga também os calou
na Libertadores e no Mundial (primeiro acréscimo).
Mas, voltemos a Muricy.
Como Telê, ele é avesso à promoção pessoal.
E tem na ponta da língua uma santa indignação, aquela ira dos justos
que não suportam meias verdades,
pior que muitas mentiras.
Porque as mentiras são fáceis de
desmoralizar, enquanto as meias
verdades precisam ser explicadas.
Muricy não quer dar aulas de jornalismo aos jornalistas.
Mas dá.
Dá ao dizer que as pessoas, em regra, não sabem nem 10% do que
acontece dentro dos clubes.
E isso é verdade não apenas nos
clubes, mas em geral.
Nós, jornalistas, sabemos, no máximo, a ponta do iceberg. E olhe lá.
Muricy, campeão pernambucano,
gaúcho, paulista e brasileiro, não
costuma deixar de cumprir seus
contratos, por mais tentadoras que
tenham sido as propostas para descumpri-los.
Já... Ah, deixa pra lá...
E erra, é claro, numa ou noutra
substituição, numa ou noutra escalação, como todos, como nós, até
quando achamos que foi ele.
Não é, no entanto, do tipo que vive
de criar caso com os atletas, ao contrário, tem com eles a relação que os
boleiros podem até às vezes não gostar, mas que respeitam.
Porque é perfeccionista como Telê, de quem foi auxiliar técnico, e obsessivo como Bernardinho, sempre
voltado para o próximo desafio, até
incapaz de curtir devidamente uma
conquista.
Aliás, eis um cuidado que precisa
adotar, porque tanta exigência consigo mesmo acaba por fazer mal e
até a intolerância com as coisas erradas precisa de limites porque, em
excesso, acabar por envenenar, como ficou demonstrado à exaustão
no acidente vascular de Telê.
Muricy precisa aprender a relaxar,
a rir dos outros -e de si mesmo.
Este São Paulo deve muito a ele
como peça essencial de uma estrutura que já pegou montada e não teve a pretensão de mudar, para dar a
sua cara.
Mas já deu (segundo acréscimo).
Cara que soube preservar numa
hora dramática, como a perda, por
detalhes, da Libertadores, em duas
partidas memoráveis.
Deve ter sido muito difícil não sucumbir ali, não desmoronar como
tantos que, por muito menos, não
suportaram a dor de uma derrota.
Só que se há derrotas dignas de orgulho, e como há, são elas também
que dão mais gosto às vitórias.
E ele sabe ganhar (terceiro acréscimo, como tudo que vem a seguir).
Quando, com um time misto, por
exemplo, ganhou do Palmeiras e
justificou a derrota do adversário, ao
dizer que é dificílimo vencer um
clássico no domingo depois de ter
jogado em Rio Preto na quinta.
Ou quando explica a categórica vitória sobre o Necaxa basicamente
porque seus titulares estavam descansados e treinados.
Há quem diga que tudo isso não
passa de frescura, que antigamente
jogava-se... blablablá.
Há sábios que dizem que tudo isso
não passa de desculpa de perdedor.
Só que Muricy é vencedor.
E explicou vitórias.
Devemos ouvir Muricy Ramalho.
Porque certos sábios é que passaram, por não verem o tempo passar.
blogdojuca@uol.com.br
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