São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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JUCA KFOURI

Muricy Ramalho, o Telêzinho (2)

Você já leu esta coluna, em novembro passado, mas vale a pena repeti-la, com supressões e acréscimos

A COMPARAÇÃO cabe. E não cabe. Explique-se.
Não cabe porque Muricy está no começo de sua carreira como técnico. Mas cabe por uma porção de outras coisas. Por exemplo: já houve quem quisesse ver nele o perfil de perdedor, mais essa bobagem importada dos Estados Unidos que divide o mundo entre "winners" e "losers", vencedores e perdedores.
Telê Santana também provou deste fel, até calar a boca dos coitados. Como Abel Braga também os calou na Libertadores e no Mundial (primeiro acréscimo). Mas, voltemos a Muricy. Como Telê, ele é avesso à promoção pessoal. E tem na ponta da língua uma santa indignação, aquela ira dos justos que não suportam meias verdades, pior que muitas mentiras. Porque as mentiras são fáceis de desmoralizar, enquanto as meias verdades precisam ser explicadas. Muricy não quer dar aulas de jornalismo aos jornalistas. Mas dá.
Dá ao dizer que as pessoas, em regra, não sabem nem 10% do que acontece dentro dos clubes. E isso é verdade não apenas nos clubes, mas em geral. Nós, jornalistas, sabemos, no máximo, a ponta do iceberg. E olhe lá. Muricy, campeão pernambucano, gaúcho, paulista e brasileiro, não costuma deixar de cumprir seus contratos, por mais tentadoras que tenham sido as propostas para descumpri-los. Já... Ah, deixa pra lá...
E erra, é claro, numa ou noutra substituição, numa ou noutra escalação, como todos, como nós, até quando achamos que foi ele. Não é, no entanto, do tipo que vive de criar caso com os atletas, ao contrário, tem com eles a relação que os boleiros podem até às vezes não gostar, mas que respeitam. Porque é perfeccionista como Telê, de quem foi auxiliar técnico, e obsessivo como Bernardinho, sempre voltado para o próximo desafio, até incapaz de curtir devidamente uma conquista.
Aliás, eis um cuidado que precisa adotar, porque tanta exigência consigo mesmo acaba por fazer mal e até a intolerância com as coisas erradas precisa de limites porque, em excesso, acabar por envenenar, como ficou demonstrado à exaustão no acidente vascular de Telê. Muricy precisa aprender a relaxar, a rir dos outros -e de si mesmo. Este São Paulo deve muito a ele como peça essencial de uma estrutura que já pegou montada e não teve a pretensão de mudar, para dar a sua cara.
Mas já deu (segundo acréscimo). Cara que soube preservar numa hora dramática, como a perda, por detalhes, da Libertadores, em duas partidas memoráveis. Deve ter sido muito difícil não sucumbir ali, não desmoronar como tantos que, por muito menos, não suportaram a dor de uma derrota.
Só que se há derrotas dignas de orgulho, e como há, são elas também que dão mais gosto às vitórias. E ele sabe ganhar (terceiro acréscimo, como tudo que vem a seguir). Quando, com um time misto, por exemplo, ganhou do Palmeiras e justificou a derrota do adversário, ao dizer que é dificílimo vencer um clássico no domingo depois de ter jogado em Rio Preto na quinta.
Ou quando explica a categórica vitória sobre o Necaxa basicamente porque seus titulares estavam descansados e treinados. Há quem diga que tudo isso não passa de frescura, que antigamente jogava-se... blablablá. Há sábios que dizem que tudo isso não passa de desculpa de perdedor. Só que Muricy é vencedor. E explicou vitórias. Devemos ouvir Muricy Ramalho. Porque certos sábios é que passaram, por não verem o tempo passar.

blogdojuca@uol.com.br


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