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O dominó Dunga
MELCHIADES FILHO
Editor de Esporte
A escalação de Rivaldo, Giovanni, Romário e Ronaldinho
pode deliciar os românticos.
Mas o estudioso da bola deveria ficar no mínimo intrigado.
Falcão e Casagrande deram
a deixa ao comentar a convocação de Zagallo. Com esses
quatro, a seleção é vulnerável.
Na Copa de 94, quando Parreira montou talvez a melhor
defesa da história dos Mundiais, Mauro Silva servia de
xerife do miolo da área, quase
um terceiro zagueiro.
Agora, Zagallo pretende confiar essa função a Dunga.
O problema é que jogar na
sobra dos zagueiros nunca foi
a vocação desse volante, que
sempre atuou no sentido vertical do campo, dando dentadas
na intermediária.
Hoje, sem o vigor físico que o
notabilizou, Dunga, 34, está
ainda menos habilitado para a
missão. Prova disso, o teste
contra a Alemanha -de tanto
dar botinadas à caça dos adversários, ele acabou expulso.
Cedo ou tarde, Zagallo terá
de agir em socorro ao volante.
Para alguns, a saída de
emergência seria fixar uma linha de quatro na defesa, inibindo as avançadas dos laterais Cafu e Roberto Carlos.
O preço, todavia, é alto: abrir
mão do único artifício tático
que a seleção brasileira não
precisa ensaiar e que ainda encanta (assusta) os europeus.
Para outros, Zagallo deveria
inverter os volantes. César
Sampaio escoltaria a zaga;
Dunga sairia para o jogo.
Nesse caso, a seleção perderia na direita. Dunga não tem
cacoete para fazer o chamado
"1-2" com o lateral. Sem Sampaio, Cafu ficaria estéril.
E então? Você pode perguntar, estaria este colunista sugerindo a troca de Dunga por
Doriva? Deus me livre!
Busco apenas destacar a importância da confecção do setor de meio-campo -o torcedor acaba de assistir a duas
aulas a respeito disso, com
Passarella (Argentina 1 x 0
Brasil) e Luxemburgo (Corinthians 2 x 1 São Paulo)- e
chamar atenção para um buraco que Zagallo terá eventualmente de tapar na França.
Na Olimpíada-96, diante
desse desafio, o técnico falhou.
A seleção jogava com dois
volantes, Amaral e Flávio
Conceição, e dois meias ofensivos, Rivaldo e Juninho. Depois
do desastre diante do Japão na
estréia, Zagallo viu-se forçado
a reforçar a proteção à zaga.
Primeiro, sem efeito, trocou
Amaral por outro meia defensivo, Zé Elias. Depois, e aqui
está o alerta histórico, sacou
Rivaldo e promoveu Amaral.
A seleção passou a usar três
volantes e somente um meia
ofensivo, Juninho. O improviso
matou o poder de criação da
equipe e deixou Ronaldinho e
Bebeto à mercê do adversários.
A medalha de bronze foi sorte.
Os personagens da seleção de
Zagallo podem ter mudado
nesses dois anos -Giovanni
barrou Juninho; Romário, Bebeto. Mas o desafio que espera
o time na França é o mesmo.
Na hora H, pressionado, o
técnico terá três opções:
1) Afastar Romário, que joga
paradão, e escalar Denílson,
que fecha mais o meio-campo;
2) Ousar taticamente de vez
e trocar Romário por um volante (Conceição?), liberando
os laterais para fazer o pêndulo com Giovanni e Rivaldo;
3) Usar, sem ter treinado, a
saída Parreira (Raí por Mazinho), tirando um meia ofensivo para colocar um volante.
Que dirão os românticos
quando Zagallo cravar 3?
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