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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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FUTEBOL

A dúvida do Flamengo

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

O Cruzeiro é superior ao Flamengo, mas a diferença não é tão grande e em dois jogos nem sempre vence o melhor. As atuações das equipes na segunda partida vão depender da primeira. Não é um jogo de 180 minutos. São dois jogos distintos de 90.
O Flamengo deve jogar com três zagueiros. As vantagens de se jogar dessa forma são a de ter sempre um zagueiro na sobra e liberar o habilidoso Athirson para apoiar o ataque. As desvantagens são a de deixar muitos espaços nas costas dos alas e perder um jogador de meio-campo. Isso enfraquece a armação e a marcação nesse setor.
As melhores atuações do Flamengo aconteceram fora de casa, quando o time foi pressionado e utilizou bem o contra-ataque. As piores ocorreram nos momentos em que foi à frente para reverter o placar e se posicionou muito mal na defesa. A equipe que ataca é a que mais precisa treinar a defesa.
A grande qualidade do Cruzeiro é jogar bem das duas maneiras, numa mesma partida. O time sabe pressionar e, principalmente, contra-atacar, com o avanço rápido dos laterais, a troca de passes em direção ao gol e a movimentação dos atacantes.
A grande dúvida do Flamengo é se o time deveria pressionar, empurrado pela sua torcida, ou atrair o Cruzeiro para contra-atacar. Eis a questão!

Felipe e Alex
Muitos leitores estranharam a minha opinião de que o Felipe deveria ter sido convocado para a Copa das Confederações. Disse isso por causa das circunstâncias, já que vários excelentes jogadores não puderam ser chamados.
Na função de terceiro armador pela esquerda, só foi convocado o Ricardinho. Alex, Adriano (Atlético-PR) e Ronaldinho, assim como Diego, Kaká e Rivaldo são ofensivos. Não são atletas de meio-campo. Felipe seria reserva do Ricardinho. Os dois, e mais o Zé Roberto, estão no mesmo nível.
Felipe não é o craque que pensávamos que seria, mas é um excelente jogador. Elogiamos excessivamente alguns jovens em início de carreira e depois cobramos títulos e atuações espetaculares, acima de suas capacidades. Eles são também irregulares porque são muito marcados e dependem das atuações de suas equipes.
Esses excelentes jogadores não ganham nem perdem jogos sozinhos. Eles não são Pelé nem Maradona. Alex é o principal jogador do Cruzeiro, faz falta à equipe, mas não é ele que faz o time jogar bem. Ele brilha e se destaca porque o time é bom e ele atua do jeito que sabe. Não existe craque em time desorganizado.

Laterais, zagueiros e meias
Na final da Copa dos Campeões, ficaram mais evidentes as diferenças entre o futebol brasileiro e o italiano. Lá, lateral é zagueiro. Eles raramente avançam e não têm habilidade. No máximo, chegam na intermediária e cruzam. Os times italianos atacam com poucos jogadores e têm sempre, no mínimo, seis defensores bem posicionados no seu campo (quatro zagueiros e dois volantes). Raramente são surpreendidos no contra-ataque.
O futebol brasileiro inventou o volante próximo ou entre os zagueiros, para liberar os dois laterais. O time fica mais ofensivo, mas deixa muitos espaços na defesa. Não há tempo para o volante sair do meio e fazer a cobertura do lateral. Se o volante se posiciona muito para a lateral, deixa o meio desprotegido.
Os habilidosos laterais brasileiros que vão para a Itália jogam de alas (Junior e Cafu) ou no meio (Serginho). Nunca atuam de laterais apoiadores ao lado de dois zagueiros. Roberto Carlos jogou na Inter de meia-esquerda. Nada a ver. O seu técnico deveria ter sido suspenso por incompetência.
Na Itália e em quase toda a Europa, não existe também o meia de ligação com o ataque. Quase todos os times jogam com duas linhas de quatro e mais dois atacantes. Por isso, Rivaldo é reserva do Milan e Alex não deu certo no Parma. O talentoso meia italiano Totti atua na seleção como segundo atacante.
O futebol brasileiro precisa continuar ofensivo, incentivar o avanço dos laterais e a presença do meia de ligação. A ousadia tem prioridade, mas a marcação não pode ser frágil. O italiano deveria continuar forte na defesa, mas quando recuperar a bola, atacar com mais jogadores.
Não é fácil conciliar os dois estilos. Os técnicos deveriam tentar fazer isso. Poucos conseguem. Esses são os mais criativos e os melhores.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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