São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2004

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BASQUETE

Ajuste fino

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

No domingo, Los Angeles Lakers x Detroit Pistons. Na terça-feira, Los Angeles Lakers x Detroit Pistons. Na quinta-feira, Detroit Pistons x Los Angeles Lakers. No domingo, Detroit Pistons x Los Angeles Lakers. Na terça...
Para o desavisado, parece tudo a mesma coisa. Quem vê um ou dois jogos do mata-mata, dirá, vê todos. Assim, iludido pela fórmula do campeonato e desanimado com o horário das transmissões, o sujeito desliga a TV e perde o que há de mais bacana no basquete de alto nível: a sanfona técnica-intelectual que sucede cada round entre os mesmos rivais.
Na NBA, o duelo de ajustes ganha requinte. Ninguém estuda, pratica e aperfeiçoa um esporte com bola com o apuro da liga norte-americana. As numerosas comissões técnicas fartam-se de especialistas em preparação física, nutrição, fisiologia, matemática etc. Utilizam os equipamentos mais modernos. Treinam nas melhores instalações. Tudo para chegar aos playoffs com arsenal para surpreender no xadrez.
Dos dois finalistas, que se reencontram depois de 15 anos, o LA Lakers é quem mais varia os trunfos. Seja por excesso de confiança ou porque titubeie em enquadrar os veteranos Karl Malone e Gary Payton, prefere enervar os rivais em uma espécie de jogo de truco.
Em momentos críticos, pareceu até abrir mão dos famosos triângulos, a tática que rendeu nove títulos ao treinador Phil Jackson.
Foi, por exemplo, o que aconteceu na dificílima série contra o San Antonio. Ciente da imobilidade lateral do pivozão Shaquille O'Neal, o time do Texas apostou em corta-luzes para financiar as infiltrações. Nas duas primeiras partidas, o armador Tony Parker refestelou-se de tanto pontuar.
Na terceira, Jackson deu o bote. Em vez de dobrar a guarda sobre o craque Tim Duncan, fez o "cobertor" flutuar no garrafão, coibindo as investidas de Parker. Batata, quatro vitórias seguidas e o fim do sonho do bi texano.
Anteontem, na abertura do mata-mata decisivo, de novo os Lakers levaram na cara o prato de basquete feijão-com-arroz.
Perplexo com a marcação simples sobre O'Neal, deram-se por satisfeitos em municiar o gigante sob a tabela e cozinhar a partida em fogo brando. Quando o rival de repente desgarrou no placar -e, aí sim, fechou de vez o garrafão-, os angelenos não souberam achar outro atalho à cesta. Os tiros de três pontos não caíram (23%). Malone e Payton acertaram apenas 3 de 13 arremessos. E, atolado de obrigações defensivas, Kobe Bryant não teve fôlego para produzir os milagres de costume.
Qual será a tática hoje? Como romper a defesa dos Pistons, a melhor do ano? Kobe receberá sinal verde para criar? Nesse caso, quem seguirá Richard Hamilton?
São perguntas como essas que fazem dos playoffs um programa imperdível para o basqueteiro.
Sobretudo porque o adversário não está parado, também maquina suas próprias armadilhas, comandado pelo maior gênio do basquete em atividade: Larry Brown, que, ao contrário de seus colegas, não analisa videoteipes e acha que estatísticas e "scouts" deviam embrulhar peixe.

Oitentas 1
Na década retrasada, os Lakers cativaram o mundo com o basquete vistoso de Magic Johnson. Hoje, depois de papar mais sete títulos, é o time profissional mais odiado nos EUA, segundo enquete da ESPN.

Oitentas 2
Todos os semifinalistas da NBA são administrados por jogadores dos anos 80: Joe Dumars (ex-Detroit, hoje "general manager" do Detroit), Mitch Kupchak (ex-LA Lakers, do LA Lakers), Larry Bird (ex-Boston, do Indiana) e Kevin McHale (ex-Boston, do Minnesota).

Oitentas 3
O celebrado Phil Jackson diz que em 1981, na pindaíba, ouviu um não ao pedir emprego de assistente a Larry Brown, então no New Jersey.

E-mail melk@uol.com.br


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