São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2010

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ENZO PALLADINI

O Mundial do incômodo


Pessimistas, os italianos já estão pensando no que acontecerá após a despedida de Marcello Lippi


UM PAÍS inteiro já pensa no depois. É a primeira vez na história em que a seleção italiana começa um Mundial sabendo que o técnico (no caso, Marcello Lippi) terminará sua aventura após o torneio. Os italianos estão pensando mais na fase pós-Lippi. Acham que Cesare Prandelli, seu sucessor, fará uma seleção mais divertida, em que haverá espaço para jovens, como Mario Balotelli, e para jogadores espetaculares, como Antonio Cassano.
Nos bares italianos, que são o termômetro do pensamento futebolístico do país, ainda se fala em José Mourinho e em seu substituto, Rafa Benítez. A Azzurra ocupa pouco o pensamento das pessoas.
Este Mundial parece ser um incômodo que tem de ser esquecido rápido. Os amistosos jogados antes da ida para a África do Sul alimentaram o pessimismo. Os sonhos de glória não habitam a Itália.
Não será a Copa da Itália. A maioria pensa assim porque o time é velho, e a temporada foi dura para quase todos. Os únicos tecnicamente bem, Pirlo e Camoranesi, têm problemas musculares.
Não será o Mundial da Itália, segundo os números: a Azzurra chegou à final em 1970, 1982, 1994 e 2006. O tempo entre as decisões é de 12 anos, e a situação técnica dos jogadores italianos hoje mostra que não dá para ir contra essa lei.
A história do futebol é feita de campeões, mas também de superstições que, em um país como a Itália, fazem parte da vida. Há superstições em tudo, desde o primeiro gesto feito ao acordar até o último antes de dormir.
O bom deste país é que, quando a seleção vence, são todos italianos. Mas, quando perde, são torcedores da Inter, do Milan, da Juventus e da Roma.
Quando a aventura da Copa terminar, os italianos a esquecerão rapidamente. Logo se começará a falar da herança de Mourinho e do desejo de vingança do Milan e da Juventus. Será discutida também a compra e a venda de jogadores.
Depois chegará Cesare Prandelli, que terá uma tarefa muito difícil: aproximar mais uma vez a Itália dos jogadores, convidar as pessoas a se apaixonarem pela magia azzurra. Prandelli é muito bom, mas o trabalho é complicado. Mesmo porque os italianos não querem esperar mais 12 anos para se abraçarem e se sentirem patriotas.


ENZO PALLADINI é redator-chefe de Esporte da rede de TV italiana Mediaset

Tradução de ANASTASIA CAMPANERUT



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