São Paulo, sábado, 08 de julho de 2006

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Juca Kfouri

O técnico porta-voz

Parreira teve um erro imperdoável: mudar de opinião em tão pouco tempo

O MAIOR erro de Carlos Alberto Parreira não foi o de treinar pouco e não criar opções de jogo para a seleção. Seu equívoco imperdoável foi o de ter mudado tão radicalmente de opinião em tão pouco tempo, do período em que comandou -e muito bem- o Corinthians para sua nova etapa na CBF.
O Parreira que dizia que com organização profissional o nosso futebol seria uma NBA passou a defender a exportação de pé-de-obra, política predatória que deixa nossos clubes no Terceiro Mundo e nossos craques no Primeiro, nem aí para a realidade nacional. Tanto que a esmagadora maioria deles, quando questionada sobre questões políticas, responde que não acompanha porque nem mesmo vota no Brasil.
Se já houve tempo em que um Santos ou um Botafogo rivalizavam com a antiga CBD, hoje a grande grife do futebol brasileiro é apenas a CBF, apesar dos títulos mundiais recentes de nossos clubes.
Cada vez que a TV alemã focalizava Tevez, o narrador explicava que ele jogava no "brasileiro Corinthians, de São Paulo" e dizia que ele tinha vindo do "Boca Juniors", sem citar a Argentina ou Buenos Aires. Imagine quando se referia a Messi, do Barcelona, ou mesmo a Riquelme, do Villarreal -certamente menor, em glórias, que muitos clubes brasileiros. Nem a Espanha nem as cidades eram citadas.
Com a autoridade de vencedor que desfrutava e com a cabeça esclarecida que o notabilizou, Parreira poderia ser a vanguarda de uma conscientização sobre a necessidade de romper com a estrutura arcaica, reacionária e corrupta do futebol brasileiro. Mas, a exemplo de Zagallo, preferiu a comodidade cúmplice de virar móvel e utensílio da CBF e, pior, seu porta-voz como defensor do status quo.
Deu-se mal, porque não só virou o maior culpado pelo vexame na Alemanha como começa a ser entregue pelo próprio Ricardo Teixeira, incapaz de assumir responsabilidades e até mesmo de voltar para casa com a seleção. Como escreveu Roberto Dias nesta Folha, para que serve Teixeira, afinal?


blogdojuca@uol.com.br

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