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FUTEBOL
Estatuto é omisso em relação a pontos do projeto Pelé usados por dirigente para tirar o Brasil da Copa de 98
'Lei' da Fifa desautoriza Havelange
MARCELO DAMATO
da Reportagem Local
O estatuto da Federação Internacional de Futebol Association (Fifa) não sustenta a ameaça feita por
seu presidente, João Havelange, de
tirar o Brasil da Copa do Mundo da
França, no ano que vem.
Havelange declarou duas vezes
nesta semana que o projeto da Lei
Pelé contém pontos contrários ao
estatuto da entidade.
A sua aprovação, segundo o dirigente, levaria à suspensão ou eliminação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) do quadro
de associados da Fifa.
A seleção brasileira ficaria, assim, impedida de disputar a Copa.
Havelange citou dois pontos do
projeto que colidiriam com o estatuto: a) a permissão para que os árbitros formem empresas comerciais para prestarem serviços às federações; e b) o fim da subordinação dos tribunais de justiça esportiva às federações.
O problema é que no estatuto
não trata da formação de empresas
de arbitragem, nem da formação
dos tribunais esportivos nacionais
do futebol.
No estatuto, a arbitragem só é
mencionada no artigo 31, que trata
da Comissão de Árbitros da Fifa.
Nenhuma de suas 12 funções impede a associação de árbitros, que,
aliás, já existe no Brasil, sob a forma de sindicatos, e na Itália, sob a
forma de associações.
O item que chega mais próximo é
o L, onde está escrito que compete
à comissão "assegurar-se que cada entidade nacional tenha uma
comissão de arbitragem constituída convenientemente e velar para
que essas comissões funcionem de
maneira adequada".
Apesar do tom genérico, o item
poderia ter servido para desfiliar a
CBF em maio, quando veio à tona
o caso Ivens Mendes, mas não se
aplica no projeto da Lei Pelé, que
não atribui poder às empresas de
arbitragem gerenciarem os juízes
dos campeonatos.
Em relação aos tribunais, não
existe nada sobre sua composição.
Se existisse, o Brasil não poderia
ter participado da Copa dos EUA,
há três anos. O texto do projeto é
quase idêntico a alguns capítulos
da Lei Zico, em vigor desde 1993, e
a filosofia é a mesma.
Prazo
Mesmo que Havelange decida levar adiante a ameaça que fez, ele
vai enfrentar problemas de vários
tipos.
O primeiro é que o projeto de lei
não deve estar aprovado até a Copa do Mundo. Isso só ocorreria se
o processo tramitasse em regime
de urgência. Nesse caso, a votação
acontecerá, na melhor das hipóteses, no início de 1998.
Nesse momento, já estarão definidos os grupos da Copa do Mundo e estará em pleno curso a campanha eleitoral para a sucessão de
Havelange.
Para suspender o Brasil, a proposta precisa obter 75% dos votos
no Congresso da Fifa, uma semana
antes da Copa. E a pauta do Congresso é fechada com seis meses de
antecedência.
Mesmo uma suspensão pelo Comitê Executivo é difícil, porque ele
só se reúne duas vezes por ano, em
princípio.
Para uma convocação extraordinária são necessárias as assinaturas de 11 dos 24 membros.
E ainda a decisão teria que ser
reavaliada no Congresso da entidade, em junho, na França.
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