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Entidade reclama de descaso quando atletas locais obtêm medalhas e orientou brasileiro a deixar premiação
COB cogita boicote a pódio dominicano
DOS ENVIADOS A SANTO DOMINGO
Pódio com dominicano não dá
mais. Irritados com o que consideram descaso dos organizadores
nas cerimônias de premiação, os
brasileiros ameaçam não subir
mais ao pódio quando um dos
premiados for atleta da casa.
É que, na avaliação do Comitê
Olímpico Brasileiro, quando um
dominicano ganha medalha, os
demais atletas são desrespeitados.
Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, classificou como
"absurda" a situação vivida anteontem por Osmar Barbosa e Fabiano Peçanha, prata e bronze
nos 800 m. Como o dominicano
Félix Sánchez ganhou o ouro logo
depois, nos 400 m com barreiras,
as atenções foram todas para ele.
Segundo o COB, mais de uma
hora após a vitória de Sánchez, a
organização lembrou dos outros
medalhistas. Mas era tarde. Barbosa já tinha ido embora, e Peçanha recebeu instrução do COB
para fazer o mesmo. "Sempre que
houver final com dominicanos teremos problemas", disse Nuzman, acrescentando que nunca tinha visto cena como aquela. Achraf Tadili (CAN), ouro nos 800 m,
subiu ao pódio sozinho.
Antônio Fernandes, chefe da
delegação brasileira de atletismo,
argumenta na mesma linha.
"Ninguém nos avisou a que horas
seria a premiação, se é que ela iria
acontecer. Só pensavam no Sánchez. Foi um abuso. Quando nos
avisaram, era tarde. Eu falei com o
Marcus Vinícius [Freire, chefe da
missão brasileira], e ele disse para
o Fabiano não subir ao pódio."
E a Folha apurou que é esta a recomendação do COB caso situação como aquela, num pódio com
os dominicanos, volte a ocorrer.
Ontem, a entidade enviou um
protesto ao Comitê Organizador
dos Jogos (Copan) e pediu para
ser marcada a premiação dos brasileiros. Assim, Hudson de Souza
e Marilson dos Santos, que haviam ganho o ouro e o bronze nos
5.000 m, na terça, receberam suas
medalhas ontem à noite -o mexicano, que fora prata na prova,
não participou da premiação,
pois já havia regressado a seu país.
Quanto às medalhas de Peçanha
e Barbosa, o Copan informou que
elas lhes serão enviadas, mas não
haverá premiação. A alegação é
que foi sugerido a Peçanha subir
ao pódio com Achraf Tadili, mas
ele não topou. "Eles ficaram desapontados, especialmente o Fabiano. É de uma pequena cidade do
Sul [Santa Cruz do Sul] e lá seria
uma festa vê-lo no pódio. O gosto
agora não vai ser o mesmo. Foi
chato", contou Fernandes.
Mas as reclamações dos brasileiros não param aí. Lamentam
também que, na premiação do
basquete, os dominicanos, prata,
quebraram o protocolo. Deixaram o Brasil, o campeão, ser homenageado por último, quando
deveria ter sido o primeiro.
Além do Brasil, Colômbia, Cuba, Venezuela, Peru e Uruguai
também protestaram. Reclamaram de hinos e bandeiras trocados e da falta de informações sobre a entrega das medalhas.
O Copan reconheceu as falhas e
atribuiu as do atletismo e do basquete à alegria pelas conquistas
do país. A Organização Desportiva Pan-Americana, que gerencia
o esporte nas Américas, considerou os fatos lamentáveis e disse
que pedirá providências urgentes.
Nada fará, porém, no caso de Peçanha e Barbosa, pois acha que
eles poderiam ter esperado e participado da premiação anteontem.
(EDUARDO OHATA, GUILHERME ROSEGUINI E JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO)
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