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Mania de grandeza
DOS ENVIADOS A PEQUIM
DO ENVIADO A SHENYANG
Um Brasil com mania de
grandeza desfila hoje no Ninho
de Pássaro, em Pequim, na festa de abertura da 29ª edição dos
Jogos Olímpicos. A cerimônia
terá início às 9h (de Brasília),
noite na China.
Na 70ª posição do ranking do
Índice de Desenvolvimento
Humano e na 38ª do quadro de
medalhas de todos os tempos, o
Brasil que está na China, entretanto, carrega traços de nação
potente fora e dentro das arenas de competição.
Resultado direto de uma
aproximação nunca vista entre
o governo federal e o esporte.
Nunca se gastou tanto dinheiro. Nunca se cobrou tanto. E
nunca se sonhou tão alto.
No último ciclo olímpico, iniciado em 2005, o governo federal injetou cerca de R$ 1,2 bilhão no esporte de alto rendimento. A cobrança: contrariando política do Comitê Olímpico
Brasileiro, de não divulgar metas, o Ministério do Esporte
projeta o país entre o 16º e o 20º
lugar no quadro geral -em Atenas-2004, com cinco ouros, o
Brasil acabou em 16º.
A embalagem para tudo isso
é o sonho de Carlos Arthur
Nuzman, presidente do COB,
em promover os Jogos no Brasil. Sonho já interrompido três
vezes e que, agora, conta com
boa vontade recorde de Brasília. A ponto de o presidente Lula circular por Pequim com camisa da candidatura, dizendo-se "cabo eleitoral" dela.
A mania de grandeza se materializa na delegação montada
pelo COB, que prioriza modalidades mais nobres -nelas as
medalhas são mais difíceis- e
que inclui equipe de apoio digna de países endinheirados.
Das 150 medalhas de ouro
que a equipe nacional, composta por 277 atletas, vai disputar
em Pequim, 62, ou 42%, são no
atletismo e na natação, justamente as mais nobres e competitivas modalidades do programa olímpico e que contam com
os EUA como maior força.
O Brasil é um dos únicos sete
países que mandaram a Pequim três competidores para os
100 m do atletismo, o supra-sumo dos Jogos Olímpicos. E nenhum deles tem chances reais
de medalha.
Vinte e duas posições acima
do Brasil na história olímpica e
novamente mais cotada agora,
Cuba praticamente ignora a natação (só terá dois atletas nesse
esporte em Pequim) e disputa
menos provas que os brasileiros no atletismo (26 contra 33).
Ao todo, somente 29% dos ouros que os esportistas caribenhos vão disputar serão nas
pistas e nas piscinas.
Priorizar os esportes coletivos, que distribuem poucas medalhas, é mais uma marca do
Brasil nos Jogos de Pequim. Somente handebol, futebol, basquete e vôlei somam cem competidores do país.
O Brasil tem número de dirigentes e integrantes de comissões técnicas acima do registrado por outros países em desenvolvimento. De acordo com a
organização dos Jogos, são 200
não-atletas (treinadores, cartolas, médicos etc.) brasileiros, o
que equivale a 71% dos atletas
-na conta também entram alguns competidores reservas.
No Quênia, a proporção da
equipe de apoio em relação aos
atletas é de apenas 45%. Em
Belarus, 57%. Nos casos de Argentina e Cuba, fica em 62%.
O Brasil tem uma proporção
de não-atletas maior do que a
da China (70%) e próxima à dos
Estados Unidos (75%).
Apesar dos sonhos grandiosos do COB, o país está distante
de atingir o seleto grupo dos
"top 10" no quadro de medalhas de Pequim. Muito mais
perto está do topo da "Série B"
do universo olímpico. Se mantiver suas conquistas dos Mundiais (ou torneios equivalentes)
dos últimos dois anos, a delegação nacional ficará na 12ª colocação no quadro de medalhas
(sete ouros, três pratas e cinco
bronzes) da maior edição de todos os tempos da Olimpíada.
Isso representaria 11% dos
ouros e 3% do total de medalhas entre os países fora do grupo dos dez.
É um salto em relação às
duas participações olímpicas
anteriores. Em Atenas-04, a
delegação nacional conquistou
4% dos ouros e 2% do total de
medalhas entre os nanicos.
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