São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2008

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DIA OLÍMPICO

Governo mobiliza pelotão para unir 12 mil casais

"Boom" de casamentos também marca a data do início da Olimpíada

Atender aos noivos em dia tido como afortunado exige reforço de pessoal e horário diferenciado nos cartórios da capital chinesa


MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

Li Xiao e Wang Yiyan acordarão cedo, vestirão cor-de-rosa e enfrentarão uma longa fila para registrar seu casamento.
Nada de vestido de noiva bufante nem festa. O jovem casal não quer ritos tradicionais. Vai assinar o papel e pronto.
A data escolhida para a certidão, no entanto, carrega a força da tradição chinesa. Eles se casam hoje, 8 de agosto de 2008, 8 de julho no calendário lunar. Na China, 8 é número de sorte. Não à toa, é o marco do início dos Jogos de Pequim.
"Na China, os casamentos têm de acontecer em dias marcantes, que serão lembrados para sempre. Todas as coincidências nos fizeram querer casar nesse dia", diz Wang, 29.
Na mesma data em 2007, cerca de 3.400 casamentos foram registrados em Pequim. Neste ano, 12.400 casais já fizeram reservas pessoalmente e outras tantas pela internet. A mobilização do governo para atender a todos inclui 18 distritos e cem funcionários a mais.
"Chegaremos às 6h. Não marcamos hora. Para caber todo mundo, o cartório será em uma escola", conta Li.
No "dia mais especial" de sua vida, a chinesa de 28 anos usará um vestido cor-de-rosa, com estampas de flores e pássaros, em modelo tradicional chinês. A camisa do noivo será da mesma cor, outro símbolo de felicidade para os chineses.
"Ela não vai usar aqueles vestidos brancos de noiva. Haverá tanta gente lá que o vestido seria todo pisoteado", brinca Wang, enquanto caminha para um pequeno apartamento no bairro da Vila Olímpica Asiática, erguido nos anos 80 por conta de um evento esportivo, que já espera o casal. As cortinas são de tecido avermelhado, parte dele transparente, como prega a tradição, dizem eles. Oficialmente, ainda não são casados, mas sapatos e bichos de pelúcia da noiva estão espalhados pela casa.
Li é do Norte, Wang vem do interior do Sul. Ela é editora de livros, ele trabalha com informática. São independentes, deixaram a família para viver na capital, mas ainda oscilam entre modernidade e tradição.
Hoje, o casal vai só assinar a certidão de casamento, mas as festas já foram marcadas para o Ano Novo chinês. Primeiro irão à casa dos pais de Li, que oferecerão uma festa e dinheiro em um envelope vermelho como presente a Wang. Depois será a família dele que repetirá o protocolo. Nas duas cidades, nas duas festas, o casal irá se ajoelhar em sinal de respeito e agradecer aos pais.
No retorno a Pequim, Li e Wang organizarão mais uma festa, dessa vez apenas para os amigos, e paga por eles.
Serão as primeiras comemorações com a família e os amigos. Li e Wang não ficaram noivos ou fizeram chá de panela. Ontem, porém, no dia dos namorados chinês, foram a um restaurante e comeram muito bem, como manda a tradição para atrair boa sorte.
"Antigamente, pela tradição, seguiam-se todos os passos. Agora a vida está mais moderna, não é necessário. Já vamos ter três festas", diz Wang.
A lua-de-mel também será pouco convencional. No apartamento de cortinas avermelhadas, estarão em frente à TV para assistir à cerimônia de abertura dos Jogos de Pequim.


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