São Paulo, Domingo, 08 de Agosto de 1999
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TOSTÃO

Retrocesso 3

O título desta coluna serve para lembrar que esta é a terceira crônica consecutiva com esse nome. Não estou fazendo críticas somente à derrota para o México. Assim como na Copa América o time titular do Brasil venceu a equipe mista da Argentina (aliás, injustamente), temos a boa desculpa de que a seleção brasileira também jogou com um time misto, desfalcado de Cafu, Roberto Carlos, Antônio Carlos, Rivaldo, Ronaldo e Amoroso.
Se já era difícil vencer o México em casa, sem os principais jogadores, a vitória ficou mais distante após a escalação da equipe. Luxemburgo pôs novamente quatro marcadores no meio-campo, tirou o jogador de ligação com o ataque (Alex) e deixou o time sem um atacante de velocidade e conclusão (Roni). Talvez, o técnico tenha supervalorizado o México.
Se o ideal é ter um time ofensivo, sem ficar desprotegido na defesa, o Brasil conseguiu ser ruim em todos os setores no primeiro tempo. No segundo, o ataque melhorou com Roni ao lado de Alex e Ronaldinho.
Todos atuaram mal, principalmente Odvan e Flávio Conceição. Espero que nas próximas convocações o treinador abandone a improvisação e convoque dois laterais-direitos. Qualquer um desses regulares dos principais times brasileiros é melhor que Flávio Conceição.
Luxemburgo tem razão quando diz que devem ser analisadas as campanhas das Copas América e das Confederações, e não somente o último jogo. Na Copa América, além dos titulares, a seleção mostrou mais equilíbrio e organização tática. Os volantes e laterais se revezavam no apoio nos momentos certos. Havia sempre um jogador livre, próximo aos dois atacantes. Foi um bom caminho. Na Copa das Confederações, houve um retrocesso.
Alex e Ronaldinho sempre jogaram bem juntos e ao lado de um outro atacante. Se estivessem presentes Rivaldo e Ronaldo, eles brilhariam muito mais.
Ronaldinho está apenas começando sua carreira na seleção e no Grêmio. O passe infantil para o mexicano iniciar a jogada do quarto gol servirá como um aviso de que não basta ter apenas imenso talento para ser um craque.
O técnico, com a justificativa de manter a disciplina, de ter atletas versáteis, de fazer um trabalho profissional, de praticar um futebol moderno etc., tem valorizado excessivamente os jogadores esforçados e cumpridores de seu esquema tático. Esses servem na seleção como complemento e nunca para jogar juntos e serem a solução.
A principal função e qualidade de um técnico de seleção é convocar os melhores e dar a eles condições para atuar bem, individualmente e em conjunto. O resto é papo furado.

Questões táticas

Em todas as vezes que o São Paulo joga mal, aparecem críticas ao sistema tático da equipe. Quando o time vence e convence, como nesta semana, contra o Botafogo-RJ, esquecem seu esquema de jogo.
O padrão do time, hoje o mais comum em todo o mundo, com três zagueiros e dois alas, tem vantagens e desvantagens em relação ao esquema tradicional brasileiro, com dois zagueiros e dois laterais.
A principal vantagem é ter sempre um zagueiro sobrando na cobertura. Isso se o rival não colocar três atacantes, como fez o Boca Juniors, que goleou a equipe paulista, na semana passada, em Buenos Aires.
Outra vantagem é poder jogar ofensivamente, fazer a marcação por pressão, já que tem um zagueiro de sobra para os contra-ataque rivais. Os técnicos costumam fazer o contrário, colocando os três zagueiros recuados, próximos ao goleiro. Nesse caso, não há necessidade de um terceiro zagueiro, já que não existem espaços nas costas dos outros dois.
A maior desvantagem é não ter um marcador fixo na lateral, de onde se iniciam, com os cruzamentos, as principais jogadas de gol. Existe uma indefinição entre o ala e o zagueiro na marcação do adversário que avança pelos lados.
Outra desvantagem, em algumas situações, é a de trocar, sem necessidade, um armador por um outro zagueiro, prejudicando o meio-campo.
Como se vê, existem virtudes e defeitos em todos os esquemas táticos. Tudo vai depender do momento da partida e das características dos jogadores das duas equipes. O sistema tático ajuda, mas não ganha nem perde jogo.
A qualidade dos jogadores é que faz a diferença.


Corinthians e Palmeiras, pela qualidade individual de seus jogadores e pelo conjunto de seus times, são os mais fortes candidatos ao título do Brasileiro-99. Como nós comentaristas raramente acertamos nossas previsões, certamente irão aparecer outras equipes com as mesmas chances de vencer o campeonato.

Antônio Lopes precisa escutar os pedidos do Edmundo e contratar o Djalminha ou um jogador com sua característica e qualidade, para atuar próximo dos dois atacantes.

"A falha individual é do coletivo." (Wanderley Luxemburgo). Entendeu?

Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras

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