São Paulo, quinta, 8 de outubro de 1998

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Futebol está de luto pela queda do Fluminense

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

O futebol brasileiro está de luto pelo Fluminense. Como se a segunda divisão já não fosse humilhação suficiente, o time das Laranjeiras conseguiu afundar ainda mais.
Imagino a desolação de tricolores ilustres como Chico Buarque e o escritor Sérgio Sant'Anna. Nelson Rodrigues, então, deve estar se revirando mais na tumba do que quando a TV Globo estraga alguma de suas peças ou romances.
Quem mais deve estar sofrendo, porém, é a massa dos torcedores anônimos, para quem a paixão clubística representa muitas vezes o único sentimento possível de pertencer a uma coletividade, já que o Estado, os partidos e a própria nação parecem-lhes conceitos cada vez mais distantes e vazios.
Mas não são só os torcedores do Fluminense que devem estar abatidos. Acho que nem o mais fanático flamenguista (ou vascaíno ou botafoguense) há de estar indiferente ao colapso do rival, por mais que da boca para fora faça gozações de todo tipo.
A torcida adversária é sempre cruel, mas essa crueldade tem um limite. Para que haja rivalidade, é preciso que exista disputa entre iguais. E o Fluminense, em queda livre, está deixando de ser um igual.
O que será, por exemplo, do Fla-Flu, o mais tradicional duelo do futebol brasileiro?
Lembro que recentemente, logo depois de conquistar a Libertadores da América, o Vasco colocou o time reserva em campo contra o Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro.
Com o Vasco na frente no placar, a torcida cruzmaltina não perdoou: "Não é mole, não:/ vai dar Fla-Flu na segunda divisão."
Agora isso não corre mais o risco de acontecer, mesmo na hipótese remota de o Flamengo cair para a segunda divisão.
Como naquela propaganda de sabão em pó (ou será de camiseta?), as cores do Fluminense estão cada vez mais desbotadas, a não ser na memória de quem viu defendê-las craques como Telê (esse eu não vi, não sou tão velho), Castilho (idem), Gérson, Carlos Alberto, Rivellino, Edinho, Paulo César Caju etc.
E que não venham com nenhuma virada de mesa para manter o Flu entre os grandes. Fez uma campanha pífia, tem mais é que cair.
Aliás, se o golpe de Ricardo Teixeira, em 1996, não tivesse adiado por um ano o rebaixamento do Fluminense para a segunda divisão, talvez o clube já estivesse fazendo o caminho de volta à primeira.
Afinal, como diz um velho provérbio de origem vagamente oriental, "é preciso chegar ao fundo do rio para poder dar o impulso que nos leva de volta à superfície".

Com um terno que parece televisão antiga com problema de "horizontal", Wanderley Luxemburgo exibe toda a sua vaidade nas páginas da nova edição da revista "República".
O treinador fala tantas vezes a palavra "profissionalismo" durante a entrevista que seria o caso de perguntar: que tal dar o exemplo deixando o Corinthians para se dedicar integralmente à seleção?
Talvez assim não precisasse botar sempre a culpa nos outros (o juiz, Marcelinho etc.) a cada derrota do seu time.
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José Geraldo Couto escreve às quintas ²
E-mail jgcouto@uol.com.br


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