|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Futebol está de luto pela queda do Fluminense
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
O futebol brasileiro está de
luto pelo Fluminense. Como se
a segunda divisão já não fosse
humilhação suficiente, o time
das Laranjeiras conseguiu
afundar ainda mais.
Imagino a desolação de tricolores ilustres como Chico Buarque e o escritor Sérgio Sant'Anna. Nelson Rodrigues, então,
deve estar se revirando mais na
tumba do que quando a TV
Globo estraga alguma de suas
peças ou romances.
Quem mais deve estar sofrendo, porém, é a massa dos torcedores anônimos, para quem a
paixão clubística representa
muitas vezes o único sentimento possível de pertencer a uma
coletividade, já que o Estado, os
partidos e a própria nação parecem-lhes conceitos cada vez
mais distantes e vazios.
Mas não são só os torcedores
do Fluminense que devem estar
abatidos. Acho que nem o mais
fanático flamenguista (ou vascaíno ou botafoguense) há de
estar indiferente ao colapso do
rival, por mais que da boca para fora faça gozações de todo tipo.
A torcida adversária é sempre
cruel, mas essa crueldade tem
um limite. Para que haja rivalidade, é preciso que exista disputa entre iguais. E o Fluminense, em queda livre, está deixando de ser um igual.
O que será, por exemplo, do
Fla-Flu, o mais tradicional duelo do futebol brasileiro?
Lembro que recentemente, logo depois de conquistar a Libertadores da América, o Vasco colocou o time reserva em campo
contra o Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro.
Com o Vasco na frente no placar, a torcida cruzmaltina não
perdoou: "Não é mole, não:/ vai
dar Fla-Flu na segunda divisão."
Agora isso não corre mais o
risco de acontecer, mesmo na
hipótese remota de o Flamengo
cair para a segunda divisão.
Como naquela propaganda
de sabão em pó (ou será de camiseta?), as cores do Fluminense estão cada vez mais desbotadas, a não ser na memória de
quem viu defendê-las craques
como Telê (esse eu não vi, não
sou tão velho), Castilho (idem),
Gérson, Carlos Alberto, Rivellino, Edinho, Paulo César Caju
etc.
E que não venham com nenhuma virada de mesa para
manter o Flu entre os grandes.
Fez uma campanha pífia, tem
mais é que cair.
Aliás, se o golpe de Ricardo
Teixeira, em 1996, não tivesse
adiado por um ano o rebaixamento do Fluminense para a segunda divisão, talvez o clube já
estivesse fazendo o caminho de
volta à primeira.
Afinal, como diz um velho
provérbio de origem vagamente
oriental, "é preciso chegar ao
fundo do rio para poder dar o
impulso que nos leva de volta à
superfície".
Com um terno que parece televisão antiga com problema de
"horizontal", Wanderley Luxemburgo exibe toda a sua vaidade nas páginas da nova edição da revista "República".
O treinador fala tantas vezes
a palavra "profissionalismo"
durante a entrevista que seria o
caso de perguntar: que tal dar o
exemplo deixando o Corinthians para se dedicar integralmente à seleção?
Talvez assim não precisasse
botar sempre a culpa nos outros
(o juiz, Marcelinho etc.) a cada
derrota do seu time.
²
José Geraldo Couto escreve às quintas
²
E-mail jgcouto@uol.com.br
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|