São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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Bastidor vê duelo entre corintiano Dualib, mais velho dirigente entre clubes da elite, e santista Teixeira, o mais novo

Quatro décadas separam cartolas da final

DO PAINEL FC

O duelo entre a experiência corintiana e a jovialidade santista não se limita aos atletas que começam hoje a decidir o Brasileiro.
Nos bastidores, por trás de mesas em salas refrigeradas, Alberto Dualib, 82, e Marcelo Teixeira, 38, protagonizam um acontecimento singular: a disputa do mais velho contra o mais jovem presidente de clube entre os grandes do país.
Mais vitorioso dirigente dos 92 anos de vida do Corinthians, Dualib acordará hoje para sua 16ª final à frente do clube, a quarta de Brasileiro. Ergueu a taça em dez oportunidades, conquistando um Mundial de Clubes da Fifa, dois Brasileiros, duas Copas do Brasil, quatro Paulistas e um Rio-SP.
Seu rival 44 anos mais novo tem um currículo mais modesto. No Santos desde 2000, foi somente a uma final -perdeu para o São Paulo o seu primeiro Paulista.
Vice de Vicente Matheus no início da década de 90, Dualib assumiu o Parque São Jorge na metade de 93. Divide com o palmeirense Mustafá Contursi o título de presidente de clube há mais anos no poder entre os grandes do país.
"Eu vejo a minha idade com orgulho. Ela não me abate. Tenho saúde. Não sofro de pressão alta, diabetes. Meu único problema, às vezes, é uma gripe. Os títulos me rejuvenescem, me dão força para continuar na minha missão de defender os interesses do clube que amo", afirma Dualib, apontado por seus pares como um dos nomes para comandar a presidência da Liga Nacional de Clubes.
Desde que assumiu o poder, Dualib repete sempre o mesmo ritual. Às vésperas de jogos importantes, vai jantar com os jogadores. Diz que o nome do Corinthians está nas mãos deles, que a alegria ou a tristeza de milhões de pessoas dependem de seus pés.
Evita entrevistas. Prefere delegar a função de se comunicar com a torcida para seu escudeiro, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Antonio Roque Citadini, 52. Não são poucas as vezes em que, localizado pelo celular por um repórter, passa a tarefa de falar a seu vice e virtual sucessor no Parque São Jorge.
Gosta de afirmar que "nunca o Corinthians teve uma década tão espetacular como a que passou". Mas muda de assunto, ou até encerra a entrevista, se questionado sobre a situação financeira do clube. Tosse, diz que está resfriado e pede licença para desligar.

De pai para filho
Filho de família rica de Santos, dono da maior universidade da cidade e de uma emissora de TV, Marcelo Teixeira surgiu no clube pelas mãos de seu pai, Milton Teixeira, presidente do clube entre 1984 e 1986 -foi ele o último cartola santista a comemorar um título de relevância, o Paulista-84, justamente sobre o Corinthians.
Hoje, aos 72 anos, o ex-presidente e conselheiro alvinegro dá conselhos ao seu filho. "Ele sempre está comigo, me dá sugestões, passa um pouco da experiência que teve como dirigente. Mas eu também gosto de impor a minha marca", afirma o Teixeira filho.
Logo que foi eleito, em janeiro de 2000, colocou dinheiro do próprio bolso para tirar seu time da fila. Estima-se que tenha emprestado ao Santos mais de R$ 14 milhões. Contratou nomes como Marcelinho, Rincón e Edmundo.
Com um time de medalhões, o time não foi além do segundo lugar no Paulista-00. Na Copa JH, foi eliminado na primeira fase.
No Estadual do ano passado, o Santos esteve muito perto de mais uma decisão. Foi barrado pelo Corinthians de Ricardinho, que marcou o gol da vitória já nos acréscimos. Foi quando a "fonte" de Teixeira secou. E, sem querer injetar mais dinheiro no clube, o administrador de empresas e advogado resolveu dar chance aos "meninos da Vila".
"Acho que a grande virtude foi refazer o departamento amador, ter acreditado na meninada. Os resultados estão aí: Diego, Renato, Elano, Robinho, jogadores que há muito tempo vêm recebendo nosso cuidado, com nutricionista, psicólogo, professores. Sem o passe, não há outro caminho para nós senão investir na base", gaba-se o dirigente santista.
Com a chance de entrar na história do Santos como o cartola que tirou o time de sua mais longa "fila", Teixeira espera que suas apostas agora dêem certo.
"Voltamos à Taça Libertadores depois de 18 anos, e isso já é uma grande conquista. Mas queremos mais. É gratificante saber que você trará alegria para tanta gente. Penso em como ficará a cidade se conquistarmos este Brasileiro. E sei que ficarei marcado para sempre na vida do Santos se o título vier." (FERNANDO MELLO)


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