São Paulo, sexta, 9 de janeiro de 1998.



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A responsabilidade da natação brasileira

ALBERTO KLAR
especial para a Folha Há 17 anos, quando o triatlo ainda era um esporte desconhecido no Brasil, iniciei uma coluna em uma revista especializada no esporte, a "Viva", em que relatava minhas experiências de técnico de natação voltadas para o treinamento em piscinas e no mar.
Estou aqui de novo, agora para falar do 8º Campeonato Mundial de Natação, que irá de 12 a 18 de janeiro.
Serão dias empolgantes não só para quem gosta de água, mas sim para um povo como o nosso que, ao iniciar um grande evento esportivo, preocupa-se com todos os resultados, procurando o nome do Brasil no quadro de medalhas.
Para analisar a situação da natação brasileira, costumo traçar um paralelo com outros esportes.
Imaginem vocês se o nosso futebol vier com uma medalha de prata ou de bronze após um torneio de grande expressão.
Vão logo dizer que a seleção está "caída" e que o técnico não presta. Isto acontece porque fomos culturalmente orientados para vencer sempre no futebol. Qualquer resultado diferente do primeiro lugar é considerado derrota.
Com a natação acontece a mesma coisa, se bem que em proporção diferente.
Desde os Jogos Pan-Americanos de Havana, em 1991, temos alçado novos horizontes no cenário internacional.
Conquistamos medalhas em todos os eventos de grande expressão, o que acostumou o povo e a mídia a pensar que a cada nova competição, não importando se é um Sul-Americano ou um Mundial, devemos ganhar medalhas.
Mesmo assim, especialistas norte-americanos parecem não confiar muito nos brasileiros -no site usswim.org, da Internet, só o nadador Gustavo Borges, entre os brasileiros, tem chances de tentar uma medalha nos 100 m livre.
Peço desculpas aos meus colegas dos EUA, mas eles talvez não tenham observado que o mesmo Gustavo foi medalha de prata em Atlanta, em 1996, na prova dos 200 m livre.
Acredito que eles consultaram os últimos resultados e, por isso, cometeram essas e outras falhas nos "palpites", pois o calendário brasileiro não permite que nossos atletas conquistem grandes marcas no período em que os norte-americanos fazem os prognósticos.
O Fernando Scherer, mais conhecido como Xuxa, encontra-se com o quarto tempo do mundo nos 50 m livre, mas não consta como provável aspirante ao pódio, mesmo tendo sido bronze em Atlanta.
Temos ainda boas chances nos 4x100 m livre, Luís Lima e Pedro Monteiro na final A, o que significa estar entre os oito do mundo. Pensem na importância de tal classificação. Nosso festejado Guga, do tênis, é o 14º no ranking da ATP...
Outros nadadores brasileiros que estão em Perth terão a difícil tarefa de ficar entre os 16 melhores do Mundial, participando da final B.
Enfim, temos uma responsabilidade cada vez maior com o público aquático, com a imprensa escrita, falada e televisiva e estamos convictos de que somos capazes de merecer tal confiança, levando o Brasil até 2004 a figurar entre as grandes potências do esporte aquático.
Saudações aquáticas para todos e vamos lá Brasil!


Alberto Klar, 44, foi técnico da seleção brasileira nas Olimpíadas de Barcelona e Atlanta e é autor do livro "365 Dias Nadando Diferente"



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