|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A responsabilidade da natação brasileira
ALBERTO KLAR
especial para a Folha
Há 17 anos, quando o triatlo
ainda era um esporte desconhecido no Brasil, iniciei uma
coluna em uma revista especializada no esporte, a "Viva",
em que relatava minhas experiências de técnico de natação
voltadas para o treinamento
em piscinas e no mar.
Estou aqui de novo, agora
para falar do 8º Campeonato
Mundial de Natação, que irá
de 12 a 18 de janeiro.
Serão dias empolgantes não
só para quem gosta de água,
mas sim para um povo como o
nosso que, ao iniciar um grande evento esportivo, preocupa-se com todos os resultados,
procurando o nome do Brasil
no quadro de medalhas.
Para analisar a situação da
natação brasileira, costumo
traçar um paralelo com outros
esportes.
Imaginem vocês se o nosso
futebol vier com uma medalha
de prata ou de bronze após um
torneio de grande expressão.
Vão logo dizer que a seleção
está "caída" e que o técnico
não presta. Isto acontece porque fomos culturalmente
orientados para vencer sempre
no futebol. Qualquer resultado
diferente do primeiro lugar é
considerado derrota.
Com a natação acontece a
mesma coisa, se bem que em
proporção diferente.
Desde os Jogos Pan-Americanos de Havana, em 1991, temos
alçado novos horizontes no cenário internacional.
Conquistamos medalhas em
todos os eventos de grande expressão, o que acostumou o povo e a mídia a pensar que a
cada nova competição, não
importando se é um Sul-Americano ou um Mundial, devemos ganhar medalhas.
Mesmo assim, especialistas
norte-americanos parecem
não confiar muito nos brasileiros -no site usswim.org, da
Internet, só o nadador Gustavo Borges, entre os brasileiros,
tem chances de tentar uma
medalha nos 100 m livre.
Peço desculpas aos meus colegas dos EUA, mas eles talvez
não tenham observado que o
mesmo Gustavo foi medalha
de prata em Atlanta, em 1996,
na prova dos 200 m livre.
Acredito que eles consultaram os últimos resultados e,
por isso, cometeram essas e outras falhas nos "palpites", pois
o calendário brasileiro não
permite que nossos atletas
conquistem grandes marcas no
período em que os norte-americanos fazem os prognósticos.
O Fernando Scherer, mais
conhecido como Xuxa, encontra-se com o quarto tempo do
mundo nos 50 m livre, mas
não consta como provável aspirante ao pódio, mesmo tendo sido bronze em Atlanta.
Temos ainda boas chances
nos 4x100 m livre, Luís Lima e
Pedro Monteiro na final A, o
que significa estar entre os oito
do mundo. Pensem na importância de tal classificação.
Nosso festejado Guga, do tênis,
é o 14º no ranking da ATP...
Outros nadadores brasileiros
que estão em Perth terão a difícil tarefa de ficar entre os 16
melhores do Mundial, participando da final B.
Enfim, temos uma responsabilidade cada vez maior com o
público aquático, com a imprensa escrita, falada e televisiva e estamos convictos de que
somos capazes de merecer tal
confiança, levando o Brasil até
2004 a figurar entre as grandes
potências do esporte aquático.
Saudações aquáticas para
todos e vamos lá Brasil!
Alberto Klar, 44, foi técnico da seleção brasileira nas Olimpíadas de Barcelona e Atlanta e é
autor do livro "365 Dias Nadando Diferente"
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|