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FUTEBOL
Parabéns!
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Prezado leitor, adorada leitora, parabéns!
Sinto dar-lhes as congratulações com dois dias de atraso, mas,
como minha coluna é publicada
às sextas, não tinha outro jeito.
Como? Você não sabe por que
está recebendo estes parabéns?
Ora, é que anteontem foi o seu
dia. Foi o "Dia do Leitor".
Mas a culpa pelo esquecimento
não é sua. Houve mesmo pouco
estardalhaço. Não vi outdoors de
agradecimento nem anúncios de
página inteira falando da sua importância. Quem sabe no ano que
vem editoras, livrarias, empresas
jornalísticas, gráficas e outros interessados preparem uma grande
festa para você que, afinal, é a razão de ser de todo esse esforço diário. Ou, no meu caso, semanal.
Eu bem que gostaria de mandar
um presentinho a cada um de vocês, mas meu salário de cronista
esportivo não me permite muitos
luxos além de minha Fanta Uva
no bar da Preta. E isso é uma pena, porque nosso convívio nestes
seis anos foi muito proveitoso.
Recebi alguns milhares de e-mails neste tempo e aprendi muito com e sobre os leitores. Por
exemplo, vi que há dois tipos básicos de leitores das páginas de esportes: os boleiros e os literários.
Os boleiros, como o próprio nome já diz, são aqueles que se interessam pelo futebol em si e não
simpatizam muito com qualquer
tentativa de abordagem que saia
dos limites do jornalismo esportivo tradicional. Esses às vezes
mandam que eu vá à #*&% ou vá
escrever na Ilustrada. Eles querem comentários sobre a rodada,
sobre as contratações, sobre jogos
e jogadores, e só.
Os boleiros ainda se dividem em
dois tipos: os clubistas e os enciclopédicos.
Os boleiros-clubistas só querem
saber de seu time. E quase sempre
desejam elogios. Qualquer crítica
gera ódio mortal. Certa vez, por
exemplo, disse eu que o Fluminense havia voltado à primeira
divisão pela porta dos fundos e recebi 26 e-mails iracundos, até
com ameaças de morte (aliás, o
Fluminense voltou mesmo pela
porta dos fundos).
Já os boleiros-enciclopédicos são
leitores cujo conhecimento referente a datas, nomes e detalhes da
história do futebol supera em quilômetros a minha fraca memória.
Estão sempre atentos a qualquer
deslize, sedentos de mostrar sua
cultura ludopédica. Mas, ao contrário dos boleiros-clubistas, costumam ser polidos e me corrigem
com suave delicadeza.
O segundo grande grupo de leitores, o dos literários, não frequenta esta coluna pelo futebol,
mas pela leitura em si. Curiosamente, neste grupo há muito mais
mulheres que no primeiro. Se entre os boleiros elas são 10%, aqui
ficam em 40% (ou 60%, quando a
coluna é escrita por meu sobrinho
Lelê). É uma turma mais simpática às ficções com que costumo desonrar esse nobre espaço. Para os
leitores literários, quando escrevo
sobre a rodada é que mereço puxões de orelha.
Boleiros ou literários, clubistas
ou enciclopédicos, todos merecem
este tardio parabéns. Um brinde a
vós com um nobre copo de Fanta
Uva. Tim-tim!
Leitora-símbolo
Fosse eu escolher uma leitora-símbolo, seria a octogenária
Bruna Rossi, são-paulina literária e boleira.
Enciclopédia
Falando em leitores, hoje, dentre os verbetes da Enciclopédia
de Times Imaginários, destaco
o Grêmio Lítero-recreativo Dublinense, fundado por W.B.
Yeats, primeiro goleiro da equipe, Bernard Shaw, o primeiro
centroavante, e Oscar Wilde,
seu primeiro massagista. Ainda
jogaram no time James Joyce,
volante que começou a escrever
seu Ulisses durante as concentrações, e Samuel Beckett, veloz
ponta-direita que chegava ao
ataque bem antes do centroavante, o lento Godot.
Contagem regressiva
10, 9...
E-mail torero@uol.com.br
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