São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Parabéns!

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Prezado leitor, adorada leitora, parabéns!
Sinto dar-lhes as congratulações com dois dias de atraso, mas, como minha coluna é publicada às sextas, não tinha outro jeito.
Como? Você não sabe por que está recebendo estes parabéns? Ora, é que anteontem foi o seu dia. Foi o "Dia do Leitor".
Mas a culpa pelo esquecimento não é sua. Houve mesmo pouco estardalhaço. Não vi outdoors de agradecimento nem anúncios de página inteira falando da sua importância. Quem sabe no ano que vem editoras, livrarias, empresas jornalísticas, gráficas e outros interessados preparem uma grande festa para você que, afinal, é a razão de ser de todo esse esforço diário. Ou, no meu caso, semanal.
Eu bem que gostaria de mandar um presentinho a cada um de vocês, mas meu salário de cronista esportivo não me permite muitos luxos além de minha Fanta Uva no bar da Preta. E isso é uma pena, porque nosso convívio nestes seis anos foi muito proveitoso.
Recebi alguns milhares de e-mails neste tempo e aprendi muito com e sobre os leitores. Por exemplo, vi que há dois tipos básicos de leitores das páginas de esportes: os boleiros e os literários.
Os boleiros, como o próprio nome já diz, são aqueles que se interessam pelo futebol em si e não simpatizam muito com qualquer tentativa de abordagem que saia dos limites do jornalismo esportivo tradicional. Esses às vezes mandam que eu vá à #*&% ou vá escrever na Ilustrada. Eles querem comentários sobre a rodada, sobre as contratações, sobre jogos e jogadores, e só.
Os boleiros ainda se dividem em dois tipos: os clubistas e os enciclopédicos.
Os boleiros-clubistas só querem saber de seu time. E quase sempre desejam elogios. Qualquer crítica gera ódio mortal. Certa vez, por exemplo, disse eu que o Fluminense havia voltado à primeira divisão pela porta dos fundos e recebi 26 e-mails iracundos, até com ameaças de morte (aliás, o Fluminense voltou mesmo pela porta dos fundos).
Já os boleiros-enciclopédicos são leitores cujo conhecimento referente a datas, nomes e detalhes da história do futebol supera em quilômetros a minha fraca memória. Estão sempre atentos a qualquer deslize, sedentos de mostrar sua cultura ludopédica. Mas, ao contrário dos boleiros-clubistas, costumam ser polidos e me corrigem com suave delicadeza.
O segundo grande grupo de leitores, o dos literários, não frequenta esta coluna pelo futebol, mas pela leitura em si. Curiosamente, neste grupo há muito mais mulheres que no primeiro. Se entre os boleiros elas são 10%, aqui ficam em 40% (ou 60%, quando a coluna é escrita por meu sobrinho Lelê). É uma turma mais simpática às ficções com que costumo desonrar esse nobre espaço. Para os leitores literários, quando escrevo sobre a rodada é que mereço puxões de orelha.
Boleiros ou literários, clubistas ou enciclopédicos, todos merecem este tardio parabéns. Um brinde a vós com um nobre copo de Fanta Uva. Tim-tim!

Leitora-símbolo
Fosse eu escolher uma leitora-símbolo, seria a octogenária Bruna Rossi, são-paulina literária e boleira.

Enciclopédia
Falando em leitores, hoje, dentre os verbetes da Enciclopédia de Times Imaginários, destaco o Grêmio Lítero-recreativo Dublinense, fundado por W.B. Yeats, primeiro goleiro da equipe, Bernard Shaw, o primeiro centroavante, e Oscar Wilde, seu primeiro massagista. Ainda jogaram no time James Joyce, volante que começou a escrever seu Ulisses durante as concentrações, e Samuel Beckett, veloz ponta-direita que chegava ao ataque bem antes do centroavante, o lento Godot.

Contagem regressiva
10, 9...

E-mail torero@uol.com.br

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