São Paulo, sábado, 09 de janeiro de 2010

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análise

Cabinda é rica em petróleo e problemas

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No mapa, Cabinda é uma daquelas excentricidades coloniais que fazem a fama da África. Um ponto de terra pouco maior que o nosso Distrito Federal, espremido entre dois países chamados Congo e separado geograficamente do Estado a que pertence, Angola.
Cabinda é rica em petróleo e em problemas. Com apenas 100 mil habitantes, é também um embaraço para as autoridades de um país que há anos se esforça para projetar uma imagem de estabilidade, modernidade e nova relevância geopolítica.
Não é por acaso que Angola sedia a Copa Africana agora, no momento em que disputa o posto de principal produtor de petróleo do continente. Mas em Cabinda, o século 20 continua. Um movimento separatista se mantém vivo, desmentindo o anúncio das autoridades de que o lugar foi "pacificado".
Os rebeldes argumentam que a região foi um protetorado autônomo de Portugal e que só foi anexada por Angola na independência, em 1975. Teria, assim, simplesmente passado de um colonialismo a outro. Grande parte das Flec (Forças de Libertação do Estado de Cabinda), que reivindicam o atentado de ontem, assinou um acordo de paz com o governo angolano em 2006.
Mas uma franja radical nunca depôs as armas, lembrando que a Província produz 70% do petróleo angolano e que pouco retorna como investimento público.
Antes de ser surpreendido, o governo considerava que os linhas-duras não representavam perigo. Como se vê agora, essa "franja" não era tão periférica e tem um agudo senso de oportunidade.
Para os angolanos, o ataque de ontem lembra que uma região atrasada se recusa a ingressar no trem da alegria da "nova Angola".
Para os sul-africanos, que organizam a Copa-10, serve de alerta. Se aconteceu em Cabinda, pode acontecer também em Johannesburgo.


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