São Paulo, domingo, 09 de abril de 2006

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FUTEBOL

Depois da queda da "filial" carioca, representantes paulistano e santista podem ficar fora da elite dos Estaduais hoje

Portuguesas imitam colônia e encolhem

KLEBER TOMAZ
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela primeira vez em quase 70 anos, os campeonatos estaduais da primeira divisão do ano que vem correm o risco de não terem uma Portuguesa em campo.
Após o rebaixamento da Portuguesa carioca, a Portuguesa de Desportos e a Santista são as remanescentes da elite regional no país, mas hoje podem ter o mesmo fim trágico.
Se isso ocorrer, os dois clubes, fundados por lusos, seguirão também a tendência do Brasil, que, segundo órgãos oficiais, apresenta queda vertiginosa no número de imigrantes portugueses.
Exemplo disso são as três principais praças da presença lusitana no país: Rio, São Paulo e Santos.
No Estado fluminense, o número de portugueses natos caiu de 500 mil para 300 mil nos últimos 20 anos, segundo o Conselho das Comunidades Portuguesas do Rio. "A imigração mudou. Antes era populacional, hoje é empresarial", falou Angelo Horto, que preside a entidade.
De acordo com o Conselho da Comunidade Luso-Brasileira de São Paulo, o Estado tem hoje 400 mil lusos -300 mil a menos que há 16 anos. "Seria triste não ter uma Portuguesa na Primeirona. Elas representam o sentimento da tradição de Portugal no país", diz Antonio Almeida e Silva, presidente do conselho paulista.
O panorama, porém, é favorável ao fim das Portuguesas na elite estadual. Para escapar da degola sem necessitar de outros resultados, a Portuguesa de Desportos precisa vencer o líder Santos. O rival também só depende de si para ser campeão paulista. Compromisso difícil para o time do Canindé, que atuará na Vila Belmiro.
"Nós não vamos cair. Pode escrever isso e me cobrar depois. Vamos ganhar o jogo", afirmou o português Manuel da Lupa, presidente da Lusa, que oferecerá ao time um prêmio de R$ 200 mil para permanecer na Série A.
Apesar de parte do dinheiro ter vindo de membros da comunidade luso-brasileira, Lupa entende que a salvação do time implique em extrair o nome Portuguesa e escolher outro. "Se a comunidade portuguesa não cresce, nossa torcida também não", diz.
"Essa idéia é um absurdo", contesta Vanessa Ribeiro, 23, da torcida organizada Leões da Fabulosa. Segundo ela, que é filha de português, 200 torcedores do clube estarão hoje na Vila Belmiro.
A Portuguesa Santista também decidirá seu futuro longe de casa. Enfrentará o Rio Branco, em Americana. A diferença é que além de vencer, terá de torcer por tropeços de seus concorrentes.
"Acho que estamos rebaixados. Fomos incompetentes. O Guarani não vai perder para o Mogi", diz João Carlos Vieira, neto de portugueses e presidente da Santista.
Se nos Estaduais as Portuguesas estão minguando, na elite do Brasileiro já não figuram desde 2002, quando a Lusa foi rebaixada.
"O fim de tantas Portuguesas na elite também tem um fator econômico envolvido. Muitas estão repletas de dívidas", afirma o brasileiro Antonio Augusto de Abreu, presidente da Portuguesa do Rio.
Até no Paraná, a Portuguesa Londrinense se prepara para disputar a segunda divisão estadual.
A maré de azar alcança outros times alusivos a Portugal. É o caso da paraense Tuna Luso, de Belém, que deve R$ 1,5 milhão aos credores. "Os portugueses daqui não investem, por isso renunciarei na terça", diz o brasileiro Marcos Gester, presidente do clube.
Quem também não passa por boa situação é o Vasco, eliminado recentemente do Estadual do Rio.


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