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TOSTÃO
Futebol é momento, que já passou
Resultados e fatos mudam semanalmente, e os bons e maus comentários passam a ter quase o mesmo valor
OS ANTIGOS chavões de que futebol é momento, que jogadores e técnicos têm de matar um leão por dia, e outros lugares-comuns, nunca estiveram tão vivos.
O Flamengo, depois de tantos times medíocres e de lutar durante
anos para não ser rebaixado no Brasileiro, formou um bom time e ganhou a Copa do Brasil e o Estadual
do Rio. Mas bastou uma péssima
atuação na Libertadores para dizerem novamente que a equipe é horrorosa, sem comando e que o técnico Ney Franco é muito calmo e bonzinho para dirigir o time.
É a síndrome do ditador. Sempre
que um time dirigido por um técnico
educado e equilibrado perde, falam
que faltou treinador disciplinador e
que os jogadores não tiveram raça.
Os méritos do rival e a imprevisibilidade do futebol são esquecidos.
Após ganhar o título fluminense,
voltaram os elogios ao time, ao treinador e aos jogadores, que podem
acabar se a equipe for desclassificada hoje da Taça Libertadores.
O único importante erro do Ney
Franco foi se iludir, apoiado pela diretoria e por grande parte da imprensa, de que o Juninho, pela sua
história, seria essencial, principalmente na Libertadores. Por causa da
sua escalação, o jovem e bom Renato
Augusto teve também de jogar em
varias posições, prejudicando as
suas atuações.
Quando os jogadores homenageiam Juninho com o título estadual, não significa que estão a favor
do jogador e contra o técnico. A
maioria dos jogadores, de todos os
clubes, sempre homenageia o colega
que sai, independentemente dos fatos. Eles se repetem no que falam,
agem, na maneira de vestir, de pentear os cabelos e em outros comportamentos. É o código dos jogadores.
Cuca e o Botafogo, que eram merecidamente elogiados, podem ser
bastante criticados se o time for eliminado amanhã da Copa do Brasil.
O torcedor, que perdoou a perda
do título do Estadual do Rio, não
aceitaria outra derrota.
Cuca inovou formando um time
envolvente, que joga bonito, que cria
inúmeras chances de gols, mas que
deixa muito espaço para o adversário. O Botafogo não tem laterais, e,
com freqüência, não dá tempo para
alguém fazer a cobertura nesse setor, como no primeiro gol do Flamengo e em muitos momentos dessa e de outras partidas.
Se o Santos não fizesse o gol do título nos últimos minutos, toda a ótima campanha do time na primeira
fase seria desvalorizada. O Cruzeiro,
que recebera mais elogios do que
merecia, perdeu em uma semana o
título mineiro, a Copa do Brasil, o
técnico e a confiança da torcida.
O Milan, que tem o pior time dos
últimos anos, cresceu nos dois últimos jogos e, principalmente graças
ao Kaká, tem grandes chances de ser
o campeão da Europa.
Há dezenas de outros exemplos de
equipes, de técnicos e de jogadores
que passam em poucos dias do descrédito à exaltação, ou o contrário.
Os resultados e os fatos mudam a
cada semana, e a imprensa corre
atrás de novas teorias para tentar
explicar, muitas vezes, o inexplicável. Nesse fugaz emaranhado, os
bons e maus comentários passam a
ter quase o mesmo valor. A maioria
dos torcedores fica perdida na tentativa de filtrar tantas opiniões e informações. E o espetáculo continua.
tostao.folha@uol.com.br
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