São Paulo, quarta-feira, 09 de maio de 2007

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TOSTÃO

Futebol é momento, que já passou

Resultados e fatos mudam semanalmente, e os bons e maus comentários passam a ter quase o mesmo valor

OS ANTIGOS chavões de que futebol é momento, que jogadores e técnicos têm de matar um leão por dia, e outros lugares-comuns, nunca estiveram tão vivos. O Flamengo, depois de tantos times medíocres e de lutar durante anos para não ser rebaixado no Brasileiro, formou um bom time e ganhou a Copa do Brasil e o Estadual do Rio. Mas bastou uma péssima atuação na Libertadores para dizerem novamente que a equipe é horrorosa, sem comando e que o técnico Ney Franco é muito calmo e bonzinho para dirigir o time. É a síndrome do ditador. Sempre que um time dirigido por um técnico educado e equilibrado perde, falam que faltou treinador disciplinador e que os jogadores não tiveram raça.
Os méritos do rival e a imprevisibilidade do futebol são esquecidos. Após ganhar o título fluminense, voltaram os elogios ao time, ao treinador e aos jogadores, que podem acabar se a equipe for desclassificada hoje da Taça Libertadores. O único importante erro do Ney Franco foi se iludir, apoiado pela diretoria e por grande parte da imprensa, de que o Juninho, pela sua história, seria essencial, principalmente na Libertadores. Por causa da sua escalação, o jovem e bom Renato Augusto teve também de jogar em varias posições, prejudicando as suas atuações.
Quando os jogadores homenageiam Juninho com o título estadual, não significa que estão a favor do jogador e contra o técnico. A maioria dos jogadores, de todos os clubes, sempre homenageia o colega que sai, independentemente dos fatos. Eles se repetem no que falam, agem, na maneira de vestir, de pentear os cabelos e em outros comportamentos. É o código dos jogadores. Cuca e o Botafogo, que eram merecidamente elogiados, podem ser bastante criticados se o time for eliminado amanhã da Copa do Brasil. O torcedor, que perdoou a perda do título do Estadual do Rio, não aceitaria outra derrota.
Cuca inovou formando um time envolvente, que joga bonito, que cria inúmeras chances de gols, mas que deixa muito espaço para o adversário. O Botafogo não tem laterais, e, com freqüência, não dá tempo para alguém fazer a cobertura nesse setor, como no primeiro gol do Flamengo e em muitos momentos dessa e de outras partidas. Se o Santos não fizesse o gol do título nos últimos minutos, toda a ótima campanha do time na primeira fase seria desvalorizada. O Cruzeiro, que recebera mais elogios do que merecia, perdeu em uma semana o título mineiro, a Copa do Brasil, o técnico e a confiança da torcida.
O Milan, que tem o pior time dos últimos anos, cresceu nos dois últimos jogos e, principalmente graças ao Kaká, tem grandes chances de ser o campeão da Europa. Há dezenas de outros exemplos de equipes, de técnicos e de jogadores que passam em poucos dias do descrédito à exaltação, ou o contrário. Os resultados e os fatos mudam a cada semana, e a imprensa corre atrás de novas teorias para tentar explicar, muitas vezes, o inexplicável. Nesse fugaz emaranhado, os bons e maus comentários passam a ter quase o mesmo valor. A maioria dos torcedores fica perdida na tentativa de filtrar tantas opiniões e informações. E o espetáculo continua.

tostao.folha@uol.com.br


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