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Craque deixa campo para ser eterno na publicidade
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
A julgar pelo que diz a mídia
francesa e européia e pelo que
se ouve nas ruas de Paris, o jogo
de hoje em Berlim será muito
mais a passagem para o céu de
Zinedine Zidane do que uma
mera final de Copa do Mundo.
Mesmo os alemães, históricos adversários dos franceses,
rendem-se ao astro, por meio
do popular jornal "Bild", que
chama Zidane de "deus".
Emenda o tablóide: "O futebol ficará em grande medida
empobrecido [com a aposentadoria do craque]".
Pode ser, mas Zidane certamente não ficará empobrecido
após deixar os campos. Continuará vivo na propaganda da
Adidas, a fabricante de material
esportivo, pelo menos até 2017,
ou seja, após mais duas Copas.
Com a Danone, o contrato é um
pouco mais curto (até 2014).
Já na semana que vem, outdoors serão espalhados por toda a parte, com a figura do jogador. Sem contar um endereço
na internet que está para ser
inaugurado e cujo título diz tudo: mercizidane.fr.
Para a Adidas, não se trata de
gratidão a um jogador que sempre patrocinou. Zidane pediu,
antes de a Copa começar, sete
pares diferentes de chuteiras
"Predator" para cada uma das
partidas do Mundial.
A Adidas confeccionou-as,
mas, além das sete, vendeu 1
milhão delas desde o começo
do ano. Claro que nem todas
têm a ver com Zidane, mas não
dá para dizer que a fábrica não
esteja arqui-satisfeita com seu
investimento no francês.
O jogador parece ser tudo ao
mesmo tempo. No campo, o
"Monde" o descreve como "um
número 10 que mistura arte
moderna e singulares arabescos". Fora dele, foi saudado pelo historiador Benjamin Stora
como capaz "de ser muçulmano e francês integralmente"
(descende de imigrantes da Argélia, de maioria muçulmana).
O endeusamento de Zizou
não está, no entanto, visível a
olho nu na Paris à espera do jogo final. É verdade que a avenida dos Champs-Elysées exibe
bandeiras da França em todos
os seus postes, a cada 100 m, do
Arco do Triunfo ao obelisco da
Place de la Concorde.
Mas é só. A Folha percorreu
toda a avenida e só viu uma camisa azul, no corpo de um garotinho loiríssimo. Nem era a
da França, mas a do Chelsea.
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