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FUTEBOL
A paixão de Alaor, o torcedor
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Alaor era um torcedor. Um
torcedor fanático. Ele assistia a todos os jogos do seu time, lia
os jornais esportivos de cabo a rabo, não perdia uma mesa-redonda e passava horas na internet
atrás de notícias sobre seu clube.
Neste ano, porém, os dirigentes
mudaram a vida de Alaor. Criaram um calendário tão estúpido
que seu time iria ficar quatro meses fora do campo. Quatro meses!
Nos primeiros dias sem futebol,
Alaor ficou irrequieto e mal-humorado. Tinha suores noturnos,
não cumprimentava os vizinhos,
zangava-se com os filhos e dava
respostas secas para sua mulher,
Rosa, a bondosa.
Mas o tempo foi passando.
Alaor foi se conformando. Trocou
os jogos por filmes, os jornais esportivos por livros, as mesas-redondas pelo Discovery Channel.
A família estranhou, mas espanto mesmo foi quando, num
domingo, no café da manhã, Rosa e os filhos o ouviram dizer:
- E se a gente fosse ver essa exposição do Renoir?
Todos se entreolharam. Rosa se
perguntou se ele teria uma amante. O filho adolescente pensou: "O
velho enlouqueceu de vez". E a
caçula imaginou que alienígenas
deviam ter sequestrado o pai e colocado outro em seu lugar.
Naquela tarde, quando a família deixou o Masp e caminhou pela rua Augusta para ver um filme
iraniano, ele comentou:
- O problema dessas exposições é que vem muito curioso. Os
efeitos cromáticos do impressionismo são uma coisa que você
precisa observar com calma.
E Alaor não parou por aí: o chuveiro do banheiro foi finalmente
consertado, o quarto do filho ganhou uma nova pintura e, no Dia
dos Namorados, Rosa, a bondosa,
quase desmaiou ao receber seu
presente: um baby-doll transparente acompanhado de uma garrafa de champanhe francês.
- Mas Alaor, essas coisas coisas são muito caras...
- Não para quem acaba de ser
promovido.
Sim, ele também tinha se transformado num trabalhador exemplar. Já não era mais tão disperso
nem ficava desenhando escudos
do seu time de futebol nas circulares da empresa.
Alaor havia se tornado um sujeito perfeito. Sua mulher tinha
um sorriso de Mona Lisa nos lábios, os filhos adoravam quando
ele os ajudava com a lição de casa, e seu nome era cotado para a
gerência. Caminhava a passos
largos para o topo da montanha.
Porém, curiosamente, Alaor não
sorria mais.
Então, ontem, quando Alaor fazia os preparativos para a festa de
aniversário da mãe de Rosa, percebeu que não havia jiló na despensa. Sem pestanejar, ele vestiu
o paletó (agora ele usava paletó
em vez da camisa do time) e foi
comprar a comida preferida de
sua sogra.
Ele vinha assobiando um tema
de Mahler pela rua quando uma
folha de jornal levada pelo vento
atingiu seu rosto em cheio. Era,
por obra do destino, uma página
esportiva e nela estava escrito
que, finalmente, depois de quatro
meses, seu time voltaria a jogar.
Ele leu a reportagem com os olhos
vidrados. Depois, sentou-se na
calçada e leu outra e mais outra.
Alaor, o torcedor, só voltou para
casa horas depois. Entrou pela
porta sorrindo e cantando o hino
do clube. Numa mão, trazia a
bandeira do seu clube e, na outra,
um cornetão enorme. Aí foi dançando até a cozinha e soprou bem
no ouvido de sua mulher: Uóóóó!
Nesse momento, uma grossa lágrima caiu pela face de Rosa.
Meias
Um organizador de jogo é
um animal raro no futebol de
hoje, uma espécie de urso
panda, e o Palmeiras deu um
passo inteligente ao trazer Zinho para atuar ao lado de Arce e Lopes na armação das jogadas para Nenê e Munõz
(ou Dodô). Já o Corinthians
parece estar perdendo Ricardinho e não tem peças de reposição à altura. A saída pode ser imitar o Brasil de Felipão,
que foi campeão do mundo
sem esse tipo de meia.
Avantes
A vinda de Guilherme pode
ser uma boa opção para o Corinthians. É um jogador que
precisa de um bom municiador (Gil talvez possa fazer o
papel que Marques desempenhava no Atlético-MG) e que
tem fases boas (quando não
perde um gol) e péssimas
(quando não acerta nem a
bola). Na reserva, cutucando
Guilherme, ficará Gilmar,
que parece ser promissor.
E-mail torero@uol.com.br
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