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ATENAS 2004
Acostumada com trocadilhos, goleira da seleção de handebol abre maior mercado do mundo para colegas
Feliz com nome, Chana desbrava Europa
ADALBERTO LEISTER FILHO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
"Vem cá, Chaninha", diz a ponta Aline Pará, em tom de brincadeira, para sua companheira na
seleção de handebol.
A goleira já perdeu as contas de
quantas vezes fizeram trocadilhos
infames com seu nome incomum.
"Isso acontecia mais no Brasil. Na
Europa, onde fui jogar em 2000,
não tenho problema. Lá isso não
quer dizer nada", afirma Chana,
que atribui o nome à uma tradição de sua cidade natal. "Tem
muita garota com esse nome em
Capinzal", conta a catarinense.
"Na infância, ficava brava com
meu pai por ter escolhido o nome.
Mas agora gosto", completa, lamentando o fato de que a federação internacional tenha obrigado
as atletas a usar o sobrenome no
uniforme durante a Olimpíada.
Com isso, Chana entrará em quadra com o Masson nas costas.
"Todo mundo na Europa me
conhece como Chana", afirma a
brasileira, pioneira do handebol
nacional no velho continente.
Em 1999, após ganhar o título
no Pan-Americano de Winnipeg
e classificar a seleção para a Olimpíada pela primeira vez, Chana
recebeu um convite para jogar no
El Ferrobus, da Espanha.
"Estava no auge no Brasil. Fui
para lá e não era nada. No primeiro mês nem joguei. Mas aí a titular
se machucou e tive que entrar na
semana da decisão do Europeu.
Fomos campeãs", lembra.
Mas a goleira também passou
por maus bocados. Chana lembra
que chegou a desmaiar após levar
uma bolada no rosto em jogo
contra um time romeno. "Fui
atendida e continuei no jogo. Pelo
menos não foi gol", diz, sem lamentar o fato de jogar na posição
mais sacrificada do handebol.
"O goleiro fica feliz quando sai
de quadra cheio de hematomas. É
sinal que defendeu muitas bolas",
define Darly, sua reserva na seleção. "Estou acostumada com boladas nas mãos e nos braços."
O sucesso de Chana abriu as
portas para outras brasileiras.
Hoje, oito das 15 atletas atuam na
Europa. Algumas foram para o
exterior graças à goleira, que se
tornou uma agente informal.
"Os clubes me procuram e eu
faço os contatos. Foi assim que levei a Darly, a Aline Pateta e a Jaqueline para a Espanha."
Aline é apontada como a principal revelação do país. Jaqueline,
outra goleira, foi cortada. "Não
ganhei nada com as transações e
ainda tive que pagar os telefonemas", lamenta, ressaltando o caráter amador da iniciativa.
Amadorismo bem distante da
gélida Dinamarca, para onde
Chana se transferiu neste ano. O
país tem a principal liga feminina
do mundo, com salários que chegam a 40 mil, uma fortuna para
os padrões do handebol.
"Estive semana passada na Dinamarca. Lá é verão, mas fiquei
com frio. E olha que sou do Sul."
No Copenhague, seu novo clube, Chana não terá problemas
com a língua. O técnico Morten
Soubak foi casado com uma brasileira e fala português. "Quase todas as mulheres do Brasil que estão por lá são casadas com dinamarqueses. Mas não vai ser assim
que vou ganhar passaporte europeu. Meu namorado é brasileiro."
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