São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2004

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ATENAS 2004

Acostumada com trocadilhos, goleira da seleção de handebol abre maior mercado do mundo para colegas

Feliz com nome, Chana desbrava Europa

ADALBERTO LEISTER FILHO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

"Vem cá, Chaninha", diz a ponta Aline Pará, em tom de brincadeira, para sua companheira na seleção de handebol.
A goleira já perdeu as contas de quantas vezes fizeram trocadilhos infames com seu nome incomum. "Isso acontecia mais no Brasil. Na Europa, onde fui jogar em 2000, não tenho problema. Lá isso não quer dizer nada", afirma Chana, que atribui o nome à uma tradição de sua cidade natal. "Tem muita garota com esse nome em Capinzal", conta a catarinense.
"Na infância, ficava brava com meu pai por ter escolhido o nome. Mas agora gosto", completa, lamentando o fato de que a federação internacional tenha obrigado as atletas a usar o sobrenome no uniforme durante a Olimpíada. Com isso, Chana entrará em quadra com o Masson nas costas.
"Todo mundo na Europa me conhece como Chana", afirma a brasileira, pioneira do handebol nacional no velho continente.
Em 1999, após ganhar o título no Pan-Americano de Winnipeg e classificar a seleção para a Olimpíada pela primeira vez, Chana recebeu um convite para jogar no El Ferrobus, da Espanha.
"Estava no auge no Brasil. Fui para lá e não era nada. No primeiro mês nem joguei. Mas aí a titular se machucou e tive que entrar na semana da decisão do Europeu. Fomos campeãs", lembra.
Mas a goleira também passou por maus bocados. Chana lembra que chegou a desmaiar após levar uma bolada no rosto em jogo contra um time romeno. "Fui atendida e continuei no jogo. Pelo menos não foi gol", diz, sem lamentar o fato de jogar na posição mais sacrificada do handebol.
"O goleiro fica feliz quando sai de quadra cheio de hematomas. É sinal que defendeu muitas bolas", define Darly, sua reserva na seleção. "Estou acostumada com boladas nas mãos e nos braços."
O sucesso de Chana abriu as portas para outras brasileiras. Hoje, oito das 15 atletas atuam na Europa. Algumas foram para o exterior graças à goleira, que se tornou uma agente informal.
"Os clubes me procuram e eu faço os contatos. Foi assim que levei a Darly, a Aline Pateta e a Jaqueline para a Espanha."
Aline é apontada como a principal revelação do país. Jaqueline, outra goleira, foi cortada. "Não ganhei nada com as transações e ainda tive que pagar os telefonemas", lamenta, ressaltando o caráter amador da iniciativa.
Amadorismo bem distante da gélida Dinamarca, para onde Chana se transferiu neste ano. O país tem a principal liga feminina do mundo, com salários que chegam a 40 mil, uma fortuna para os padrões do handebol.
"Estive semana passada na Dinamarca. Lá é verão, mas fiquei com frio. E olha que sou do Sul."
No Copenhague, seu novo clube, Chana não terá problemas com a língua. O técnico Morten Soubak foi casado com uma brasileira e fala português. "Quase todas as mulheres do Brasil que estão por lá são casadas com dinamarqueses. Mas não vai ser assim que vou ganhar passaporte europeu. Meu namorado é brasileiro."



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