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FUTEBOL
Os extremos se tocam
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Até que enfim o Flamengo
ganhou uma (a primeira
com o técnico Paulo César Gusmão). Segue na lanterna, mas a
vitória sobre um dos líderes do
campeonato deve dar um novo
alento ao rubro-negro.
Na partida de ontem, foi decisiva a volta do meia Zinho, que deu
mais qualidade e equilíbrio ao
meio-de-campo flamenguista.
Além disso, Jean e Athirson souberam explorar bem o espaço deixado na esquerda, às costas de Cicinho. No mais, o jogo foi equilibrado -e o gol do Flamengo acabou saindo quando o São Paulo
parecia melhor no jogo, criando
mais chances de marcar.
O jogo foi muito revelador do
atual estágio de nivelamento entre os clubes brasileiros. Nenhum
dos dois times mostrou solidez tática, padrão de jogo, entrosamento. Só muito raramente surgia
uma jogada mais ou menos trabalhada. Predominavam, ao contrário, os rompantes individuais e
os lances casuais.
Além do equilíbrio entre os clubes, o Brasileirão está mostrando
também a irregularidade de
grande parte deles. Alguns casos
são flagrantes. O Goiás, por exemplo, depois de vencer o Palmeiras
por 3 a 0 no Parque Antarctica,
perdeu para o Coritiba em casa. O
Grêmio venceu bem o líder Santos, mas perdeu em seguida para
o Atlético-MG. Já o Atlético-PR é
um time que goleia com a mesma
facilidade com que é goleado.
Paradoxo dos paradoxos, a
Ponte Preta, que disputa a liderança com Santos e São Paulo,
tem saldo negativo de sete gols.
Com isso, o torneio fica ainda
mais imprevisível. O próprio Santos, que dava a impressão de estar
prestes a disparar na liderança,
perdeu duas partidas seguidas e
corre o sério risco de perder também seu treinador.
Ou seja, às vésperas do início do
returno, tudo está em aberto no
Brasileirão. O maior fosso de pontos que se abre é entre o bloco intermediário e o dos clubes ameaçados de rebaixamento. Esses cinco ou seis retardatários precisam
se cuidar. Se a recuperação não
começar logo, não virá nunca.
O Corinthians jogou muito mais
que o Botafogo, mas foi punido
por uma falha imperdoável numa defesa com três zagueiros, ao
deixar Schwenk concluir na pequena área. E o Palmeiras venceu
em Criciúma um dos jogos mais
empolgantes da rodada, com dois
gols bem construídos que contaram com a participação decisiva
de Thiago Gentil.
O baixo nível do Campeonato
Brasileiro tem levado muita gente
a condenar o sistema por pontos
corridos e a pregar a volta dos
mata-matas. Como se esse passo
atrás fosse elevar magicamente a
qualidade dos elencos, evitar a
evasão de craques, melhorar a situação dos estádios, sanear as finanças dos clubes etc. Para combater a idéia, basta lembrar que a
última Copa do Brasil -feita toda ela em mata-matas- também foi de nível lastimável.
O sentido do esporte
O caderno Mais! de ontem publicou um trecho do maravilhoso texto que o crítico francês
Roland Barthes (1915-80) escreveu para servir de narração ao
documentário canadense "O
Esporte e os Homens" (1961).
Quem não leu deve tentar ler.
Aqui vai um parágrafo, para
dar o gostinho: "Pois há no homem certas forças, alegrias,
conflitos e angústias: o esporte
as exprime, libera, exacerba,
sem permitir que se tornem
destrutivas. No esporte, o homem vive o combate fatal da vida, mas esse combate é distanciado pelo espetáculo, reduzido
a suas formas, livrado de seus
efeitos, perigos e vergonhas: ele
perde seu poder nocivo, mas
não o brilho e o sentido". Em
véspera de Olimpíada, nada
melhor que pensar no sentido
do esporte.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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