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São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

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Carreira de Teixeira na Fifa leva CBF a inaugurar em Manaus estratégia de marcar jogos confortáveis aos adversários ao mesmo tempo que tenta saciar aliados

Por irmãos e hermanos, seleção abre giro pelo país

FÁBIO VICTOR
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

Local de Brasil x Equador, amanhã à noite, Manaus é o ponto de partida da maior caravana da seleção pelo país na história das eliminatórias, na qual o time pentacampeão deverá ser visto em nove cidades diferentes. Mas o compromisso da CBF em afagar tantos aliados vem, desta vez, acompanhado de uma preocupação suplementar: agradar também aos adversários sul-americanos.
Única confederação liberada pela Conmebol, a entidade continental, a mandar seus jogos onde quiser (a "extensão territorial" foi a alegação para a regalia), a CBF agirá nos bastidores dentro e fora de casa, no que o presidente Ricardo Teixeira definiu à Folha como "política de boa vizinhança".
A artimanha consiste em marcar os jogos da seleção para cidades que não sejam tão distantes do país adversário nem tenham climas tão díspares deste. Assim, o Equador foi contemplado com o jogo na capital amazonense. Na outra partida já marcada para o Brasil, o Uruguai atuará em Curitiba, em 19 de novembro.
E a idéia é que assim seja durante a maior parte das eliminatórias, que se estendem até 2005. A exceção deve ocorrer com jogos no Nordeste, região bem distante da maioria dos rivais.
A estratégia tem um objetivo claro, embora não assumido: enquanto paga aos aliados internos os votos de sua recente reeleição na CBF, Teixeira mira 2006, quando termina seu mandato no Comitê Executivo da Fifa. Para se manter no órgão deliberativo da entidade, precisará dos votos das confederações sul-americanas -que elegem por conta própria os seus integrantes no fórum. Nessa caminhada, não interessa ao cartola comprar brigas.
Mas, considerando a expectativa dos seus partidários no Brasil, deverá desagradar muita gente por aqui. Isso porque há bem mais interessados do que jogos. Fora os de Manaus e Curitiba, são mais sete, em locais ainda indefinidos. É certo que haverá um no Rio e outro em São Paulo -e sobram cinco. Há, porém, pelo menos mais dez Estados que juram ter a garantia, ou ao menos a disposição, de Teixeira de levar os pentacampeões ao seu recanto.
"Todo mundo reivindica, mas eu já tenho combinado com o Ricardo um jogo aqui. Só falta acertar o adversário, mas já está certo", disse Wilson da Silveira, da Federação Goiana.
Ocorre que a vizinha Brasília também sonha em receber a seleção. "Solicitei um jogo aqui, e ele [Teixeira] disse que iria estudar. O ministro [do Esporte, Agnelo Queiroz] é de Brasília, o presidente [Lula], que adora futebol, está aqui. Fui o chefe da delegação [na Copa-02]. Tudo isso vai somando", aposta Wéber Magalhães, da federação do DF e vice eleito da CBF para o Centro-Oeste.
Fortaleza, a primeira a receber o time pentacampeão após a volta da Ásia, espera ser contemplada de novo. "Aquilo [jogo contra o Paraguai em agosto de 2002] era amistoso, não conta. Valendo pela Copa é outra coisa. Já conversei com Ricardo, e há a possibilidade de haver um jogo aqui", afirmou Fares Lopes, da Federação Cearense, que elenca entre os seus trunfos o fato de o Fortaleza liderar o público do Brasileiro.
Rio Grande do Sul e Maranhão, dos vices eleitos da CBF Emídio Perondi e Fernando Sarney, dão como certo que terão um jogo.
Até os atletas entram no lobby. O carioca Ronaldo defendeu que a partida com a Argentina seja no Maracanã. "Já joguei com eles lá e perdi, queria revanche. Pena que jogador não decide isso."
Nas últimas eliminatórias, a Conmebol determinou que o Brasil só jogasse no Rio e em São Paulo. O time foi vaiado em ambas. Coincidência ou não, a entidade relaxou a ordem, aceitando justificativa da CBF de que o racionamento de energia impediria jogos nas duas maiores capitais. E a seleção -que até ali só atuara três vezes fora do Rio ou São Paulo na história das eliminatórias- fez suas três últimas partidas em Porto Alegre, Curitiba e São Luís.

Novas companhias
O próprio jogo contra o Equador marca a aproximação da CBF com políticos e dirigentes dos quais mantinha distância até aqui. O ministro Agnelo Queiroz (Esporte), que se encontrou pela primeira vez com Teixeira na semana passada, foi convidado pelo cartola e vai amanhã no Vivaldão.
A Federação Paulista, rival da confederação nos últimos anos, tem seu presidente, Marco Polo del Nero, como chefe da delegação em Manaus.


Colaborou Paulo Cobos, enviado especial a Manaus


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