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JUCA KFOURI
A Perestroika brasileira
A operação da Polícia Federal choca menos pelo que ela revela e mais pela nenhuma cerimônia dos envolvidos
A PF FOI foi feliz ao escolher o
nome de sua operação para
investigar a parceria Corinthians/MSI. Se quisesse apenas homenagear a Rússia, poderia ter dado
o nome de Glasnost -abertura- e
não o que deu, Perestroika -reestruturação. Porque é disso que se
trata: nosso futebol precisa ser reestruturado de cima a baixo.
Não ache o leitor que uma maldição se abateu só sobre o Corinthians. Tenha certeza, sim, de que o
Parque São Jorge foi abalado por
uma catástrofe de graves conseqüências, mas a maldição contamina todo o nosso futebol, com as exceções de regra.
Não será temerário dizer que nenhum clube brasileiro, se não hoje,
ontem, que seja assim investigado,
escapará ileso. Nem federação.
Porque o que está revelado nesta
Folha não é nada mais do que os
usos e costumes dos cartolas.
Com mais ou menos sofisticação,
o que se conclui do relatório não é
muito diferente do que se viu nas
CPIs do Futebol e da CBF/Nike.
E tão forte é o apodrecimento da
superestrutura que comanda o futebol nacional que a podridão comeu até figuras exponenciais daquelas CPIs, em acordos espúrios.
Até mesmo para incrementar a
política externa brasileira, vide o
tocante jogo da seleção no Haiti,
sem dúvida generoso de um lado,
mas perverso pelo outro.
É isso. O problema não está nas
pessoas, é estrutural, basta ver que
os nomes até mudam de vez em
quando, embora não a prática.
Mas a sem-cerimônia com que
são tratadas as burlas à lei, de fato,
impressiona. O cinismo, o sentimento de impunidade, a mentirada
nas relações entre os atores são de
tal ordem que, se não fossem frutos
de gravações de conversas, seriam
daquelas coisas que muita gente
atribuiria à imaginação fértil de
jornalistas levianos ou recalcados.
"Cadê as provas?", perguntaria
essa gente, ou por incredulidade
verdadeira mesmo ou, no mais das
vezes, por covardia ou cumplicidade, muito comum até, ou principalmente, na mídia.
Quantas vezes os jornalistas que
produzem reportagens de tal teor
não são acusados de irresponsáveis
e não acabam na Justiça, processados pelos meliantes?
Fato é que jogo de futebol há
muito deixou de ser um jogo de futebol para se transformar num jogo
de práticas corruptas, viciadas do
começo ao fim, graças à paixão popular que banca as quadrilhas espalhadas pelo país afora.
Não é teoria, atenção, é a prática,
eis aí a Operação Perestroika para
demonstrar novamente.
Que o presidente da República se
arrependa de ter dado uma Timemania a mais para manter o esquema e de seu discurso isentando a
cartolagem é o mínimo que se espera, ainda mais dele, que recebeu
tantas vezes a direção corintiana.
Claro, com a desculpa de que não
sabia de nada, embora a ninguém
seja admissível tanta ingenuidade.
E que, daqui por diante, com o aval
da polícia de seu governo, retome o
caminho iniciado quando assinou o
Estatuto do Torcedor e a Lei da
Moralização do Esporte, para que
uma nova geração de dirigentes esportivos possa surgir profissionalizada e com a visão do negócio do futebol, não a das negociatas.
blogdojuca@uol.com.br
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