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AUTOMOBILISMO
País celebra parentesco e adota o brasileiro, 66º piloto da mais tradicional equipe da Fórmula 1
Barrichello vira italiano na Ferrari
FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Monza
Primeiro, houve uma ameaça
de insurreição. "Por que logo um
brasileiro se há tantos pilotos italianos promissores por aí?", perguntavam os jornais da Itália.
Mais tarde, já conformados,
veio uma constatação: ele tem sobrenome italiano.
Pronto. Rubens Barrichello, 27,
contratado pela Ferrari para correr as duas próximas temporadas
da F-1, foi adotado pela Itália.
"Barrichello, uma história toda
italiana" é o título do editorial
desta semana da "Autosprint", a
mais importante revista sobre automobilismo editada no país.
"Ele fala italiano, seu bisavô era
de Treviso, e sua comida preferida
é macarrão", afirma o jornal diário "La Gazzetta dello Sport".
É nesse ambiente que o brasileiro chega hoje a Monza para a disputa do GP da Itália, 13ª etapa do
Mundial, sua primeira prova desde que foi anunciado, há cinco
dias, como o 66º ferrarista da F-1.
Sua agenda já traz traços do que
serão seus anos na Ferrari. Ainda
hoje, participa de uma entrevista
coletiva promovida pela FIA (entidade máxima do automobilismo) no circuito de Monza.
Cena comum na F-1, certamente será cercado pelos jornalistas
ao fim do evento. E, certamente,
dará respostas em italiano.
"Acho que falar a língua deles é
uma coisa legal, mas quero ganhar o respeito e a simpatia dos
torcedores da Ferrari pelo que eu
fizer na pista", disse Barrichello à
Folha, por telefone, de Cambridge, na Inglaterra, onde mora.
Mas sua "adoção" já aconteceu.
Remexendo em sua história, a mídia italiana até destacou o fato de
o piloto ter um passaporte italiano. E lembrou suas passagens pela Itália quando disputava as categoria de base.
Em 1990, morou em Scandicci,
cidade perto de Florença, quando
disputou -e venceu- pela equipe Draco-Morini o Campeonato
Europeu de F-Opel.
Em 1992, voltou à Itália. Mas para correr a F-3000, o último degrau antes de chegar à F-1. Contratado pela equipe Il Barone
Rampante, morou em Padova.
Não foi campeão -terminou o
campeonato na terceira colocação-, mas chamou a atenção da
Jordan, que o contratou para estrear na F-1 no ano seguinte.
Assim, segundo o editorial da
"Autosprint", construiu-se a "história italiana" de Barrichello.
"Da Itália, ele partiu para conquistar a F-1. Agora, ele retorna
para ocupar o volante da equipe
mais prestigiosa. É um dos melhores do mundo", afirma Guido
Schittone, diretor da revista.
Para a "Rombo", revista concorrente, Barrichello é o futuro da
Ferrari. "Considerado o herdeiro
de Senna, ele pode chegar a ser o
primeiro piloto da equipe, já que
ainda é muito jovem."
Três explicações podem ser dadas para a "adoção" do piloto.
Primeiro, a relação pura e simples com seu sobrenome.
Segundo, o fato de seu novo
companheiro de equipe, Michael
Schumacher, não falar italiano e
não se esforçar para isso -só na
base da ""decoreba" conseguiu falar duas frases no idioma em um
comercial que gravou para a Fiat.
Por último, o fato de um italiano
não ser um dos titulares da Ferrari
desde a temporada de 1992.
O último foi Ivan Capelli, que
formou dupla com o francês Jean
Alesi e viveu o campeonato todo à
sombra do parceiro.
Considerado um piloto de certo
talento na ocasião, após amargar
sete anos em equipes pequenas,
não aguentou a pressão.
Deixou a Ferrari faltando duas
provas para o fim do campeonato
e deu por encerrada sua carreira
de piloto -só faria mais um GP,
pela Jordan, no ano seguinte.
Essa última hipótese para a
"captura" de Barrichello fica clara
no editorial da "Rombo".
"Penso nele (em Barrichello) na
Ferrari desde que, uma vez, na fila
da imigração do aeroporto de
Montreal, eu estava pensando sobre a ausência de pilotos italianos
na equipe. Aí, vi que Barrichello
estava na minha frente e que trazia nas suas mãos um passaporte
italiano", escreve o diretor da revista, Franco Panaritti.
Ainda com o boné da Stewart,
sua atual equipe, Barrichello inicia hoje, em Monza, sua trajetória
como piloto da Ferrari.
Começará a sentir a paixão que
move os torcedores a todos os 16
autódromos que recebem a categoria e também a pressão pelo jejum de 20 anos da equipe sem título no Mundial de Pilotos.
Emoções que talvez nunca sentiria se tivesse adotado seu sobrenome do meio, Gonçalves, quando, aos nove anos, decidiu começar a correr de kart em Interlagos.
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