São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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FUTEBOL

Está na hora de criar a ANE

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

Está na hora de pensar numa Agência Nacional do Esporte (ANE). Para fazer o meio-de-campo entre o público e o privado, entre o cidadão e o governo.
É verdade que a idéia das agências não pegou direito no país. A velha história de sempre. Os governos tentam instrumentalizá-las, por mais garantias (ou exatamente por isso) de autonomia e imunidade que haja para seus integrantes. Foi assim no governo FHC e tem sido assim no atual.
Mas a idéia é boa e seria um avanço para garantir os direitos do torcedor neste Brasil que tenta confundir o direito assegurado de autonomia das entidades esportivas (garantido na Constituição) com a farra do boi, como se o esporte fosse uma terra de ninguém.
O artigo que a garante, o 217, nasceu da natural preocupação dos legisladores devido à ingerência indevida do Estado no período da ditadura, mas acabou por se transformar numa carta de alforria às barbaridades cometidas por CBF, COB e seus apêndices.
Uma ANE, que de fato representasse a sociedade civil, seria instrumento poderoso contra os absurdos, funcionaria como um ponto de equilíbrio para definir responsabilidades no mundo do esporte. Por exemplo: a CBF, que sempre argumenta ser uma entidade privada, embora lide com uma das áreas mais públicas do Brasil, provavelmente não escaparia ilesa de mais um escândalo nas arbitragens.
Sindicâncias não seriam feitas por pessoas indicadas pelas próprias entidades que deveriam ser investigadas, como estamos vendo tanto na CBF quanto na FPF.
O Ministério do Esporte seria cobrado em seus deslizes, que têm sido muitos, como se vê a cada dia na imprensa de modo efetivo e rápido. Não se sentaria, como está sentado, há um ano num escandaloso episódio de liberação de verba para municípios e entidade (a UNE, controlada pelo PC do B do atual ministro) inadimplentes.
É claro que da democratização do país para cá já estamos mais que vacinados contra tudo que possa surgir como panacéia, pois aprendemos que nada tem tal efeito. Mas nem por isso devemos desistir de tentar aprimorar os mecanismos de controle e de influência da sociedade nos temas que lhe dizem respeito de perto.
Apesar de a esmagadora maioria da imprensa esportiva ter apoiado a decisão de anular os 11 jogos apitados por Edilson Pereira de Carvalho, a opinião pública, em não menor esmagadora maioria, ficou contra.
Nada justifica que a Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo tenha aceitado participar da comissão da FPF que investiga os resultados eventualmente manipulados no Paulista-05. E só a promiscuidade com o poder do futebol explica tamanho aval.
Aliás, o que fazem tantos delegados da polícia na FPF? Que eles gostam de aparecer é sabido, mas não há nada mais importante para fazer, cuidar da violência que devasta São Paulo, por exemplo?

Timemania
Parece ter surgido uma luz no fim do túnel para aprovação, por acordo, da nova loteria do futebol. Tanto as sugestões do deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) quanto as do também deputado Sílvio Torres (PSDB-SP) encaminham uma solução satisfatória para quem quiser aderir à Timemania, isto é, a contrapartida de mudança no modelo de gestão. A novidade está na chamada Sociedade Empresária Desportiva (SED), modelo que foi adotado em alguns países europeus e no Chile, sem que haja um aumento de carga tributária para os clubes. Como é uma novidade no Brasil, precisa ser analisada com bastante prudência. Tem o mérito, entretanto, de abrir uma porta para o impasse e também de mostrar, caso persistam as resistências por parte da cartolagem, quem são os radicais na discussão. Os radicais da vanguarda do atraso.

blogdojuca@uol.com.br

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