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FUTEBOL
Está na hora de criar a ANE
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
Está na hora de pensar numa
Agência Nacional do Esporte
(ANE). Para fazer o meio-de-campo entre o público e o privado, entre o cidadão e o governo.
É verdade que a idéia das agências não pegou direito no país. A
velha história de sempre. Os governos tentam instrumentalizá-las, por mais garantias (ou exatamente por isso) de autonomia e
imunidade que haja para seus integrantes. Foi assim no governo
FHC e tem sido assim no atual.
Mas a idéia é boa e seria um
avanço para garantir os direitos
do torcedor neste Brasil que tenta
confundir o direito assegurado de
autonomia das entidades esportivas (garantido na Constituição)
com a farra do boi, como se o esporte fosse uma terra de ninguém.
O artigo que a garante, o 217,
nasceu da natural preocupação
dos legisladores devido à ingerência indevida do Estado no período da ditadura, mas acabou por
se transformar numa carta de alforria às barbaridades cometidas
por CBF, COB e seus apêndices.
Uma ANE, que de fato representasse a sociedade civil, seria
instrumento poderoso contra os
absurdos, funcionaria como um
ponto de equilíbrio para definir
responsabilidades no mundo do
esporte. Por exemplo: a CBF, que
sempre argumenta ser uma entidade privada, embora lide com
uma das áreas mais públicas do
Brasil, provavelmente não escaparia ilesa de mais um escândalo
nas arbitragens.
Sindicâncias não seriam feitas
por pessoas indicadas pelas próprias entidades que deveriam ser
investigadas, como estamos vendo tanto na CBF quanto na FPF.
O Ministério do Esporte seria
cobrado em seus deslizes, que têm
sido muitos, como se vê a cada dia
na imprensa de modo efetivo e rápido. Não se sentaria, como está
sentado, há um ano num escandaloso episódio de liberação de
verba para municípios e entidade
(a UNE, controlada pelo PC do B
do atual ministro) inadimplentes.
É claro que da democratização
do país para cá já estamos mais
que vacinados contra tudo que
possa surgir como panacéia, pois
aprendemos que nada tem tal
efeito. Mas nem por isso devemos
desistir de tentar aprimorar os
mecanismos de controle e de influência da sociedade nos temas
que lhe dizem respeito de perto.
Apesar de a esmagadora maioria da imprensa esportiva ter
apoiado a decisão de anular os 11
jogos apitados por Edilson Pereira de Carvalho, a opinião pública, em não menor esmagadora
maioria, ficou contra.
Nada justifica que a Associação
dos Cronistas Esportivos de São
Paulo tenha aceitado participar
da comissão da FPF que investiga
os resultados eventualmente manipulados no Paulista-05. E só a
promiscuidade com o poder do
futebol explica tamanho aval.
Aliás, o que fazem tantos delegados da polícia na FPF? Que eles
gostam de aparecer é sabido, mas
não há nada mais importante para fazer, cuidar da violência que
devasta São Paulo, por exemplo?
Timemania
Parece ter surgido uma luz no fim do túnel para aprovação, por acordo, da nova loteria do futebol. Tanto as sugestões do deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) quanto as do também deputado Sílvio Torres (PSDB-SP) encaminham uma solução satisfatória para quem
quiser aderir à Timemania, isto é, a contrapartida de mudança no
modelo de gestão. A novidade está na chamada Sociedade Empresária Desportiva (SED), modelo que foi adotado em alguns países europeus e no Chile, sem que haja um aumento de carga tributária para
os clubes. Como é uma novidade no Brasil, precisa ser analisada com
bastante prudência. Tem o mérito, entretanto, de abrir uma porta
para o impasse e também de mostrar, caso persistam as resistências
por parte da cartolagem, quem são os radicais na discussão. Os radicais da vanguarda do atraso.
blogdojuca@uol.com.br
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