São Paulo, sexta, 9 de outubro de 1998

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FUTEBOL
Quiroga, que defendeu o Peru na goleada de 6 a 0 para a Argentina, diz estar "seguro" de que houve suborno
Ex-goleiro admite fraude na Copa-78


das agências internacionais

O ex-goleiro Ramón Quiroga, que defendeu a seleção peruana na Copa do Mundo de 78, na Argentina, declarou ontem estar "seguro de que alguém ganhou" dinheiro quando sua seleção foi goleada por 6 a 0 pela equipe anfitriã.
Quiroga, argentino que ganhou nacionalidade peruana, tornou-se historicamente o grande acusado pelo placar devido à sua origem.
Com o resultado, a Argentina, que precisava vencer o Peru por quatro gols de diferença, avançou à decisão e conquistou seu primeiro título mundial ao bater a Holanda na final.
O resultado diante do Peru tirou as chances de a seleção brasileira ir à final. O Brasil, que empatou sem gols com a Argentina, vencera os peruanos por 3 a 0, e foi disputar o terceiro lugar contra a Itália.
"Naquele 6 a 0 vimos coisas raras", disse Quiroga em entrevista ao jornal "La Nación", no Peru, onde reside até hoje.
O ex-goleiro disse que "desconfiava" de Manzo (Rodolfo), que no ano seguinte foi jogar no Vélez Sarsfield. "Isso foi escandaloso. Ou seja, eu penso que há um Deus e que Deus castiga."
"Creio que todos os que ganharam pegaram dinheiro...dos que falam que pegaram dinheiro, vários morreram e outros morreram para o futebol", afirmou Quiroga, que jogou pelo Peru também na Copa de 82, na Espanha.
Atualmente dirigindo o Municipal, modesta equipe peruana, Quiroga acusou especialmente Roberto Rojas de estar vendido.
"Nessa partida jogou Rojas, um tipo que nunca havia jogado. Ele morreu em um acidente. Jogaram uma bomba em mim em um estádio e eu não morri. Marcos Calderón (técnico do Peru na ocasião) caiu com um avião e morreu", disse Quiroga.
O ex-goleiro recordou que Manzo, no segundo gol da Argentina marcou Tarantini, "se agachou e o deixou sozinho".
"Era um bom jogador, mas não o queríamos. Vimos coisas raras e dissemos a Marcos Calderón no intervalo que o trocasse. E não somente eu disse, mas como também Chumpitaz (zagueiro do time)", disse Quiroga.
Um forte indício de que houve algo errado no jogo contra a Argentina foi a escalação de jogadores que não vinham atuando no time.
"Nessa partida atuaram jogadores que não haviam estado em nenhum outro jogo. Jogou Gorriti, que deu de presente o quarto ou o quinto gol, jogou Manzo, jogou Rojitas", afirmou o ex-goleiro.
Quiroga especula que os militares argentinos teriam subornado seus companheiros de equipe.
Segundo o ex-jogador, "antes da partida ou no intervalo" foram ao vestiário peruano membros da Junta Militar da Argentina, país que era presidido na época pelo general Jorge Videla.
Nos últimos anos, publicações esportivas argentinas vêm mencionando fatos estranhos relacionados à partida. Quiroga, porém, é o primeiro envolvido no episódio a levantar suspeitas de suborno.



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