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BASQUETE NO MUNDO
Sem dívidas
MELCHIADES FILHO
O calvário das irmãs Sobral
desencavou um discurso que vez
ou outra infesta TVs e jornais
-e que insulta o bom senso.
Leila, Marta e Márcia estavam
desempregadas até a semana
passada, em busca de um time
para jogar neste semestre.
Era uma situação difícil para
elas, que dependem do basquete
para viver. E difícil para o basquete, pois as duas primeiras são
importantíssimas à seleção que
vai aos Jogos de Sydney -e estamos em um ano pré-olímpico.
Esse diagnóstico já foi apresentado aqui, como um convite
à reflexão endereçado aos "estrategistas" do esporte no Brasil.
Mas, feita a ressalva, não há
compaixão que justifique o discurso choramingas e egoísta que
sempre nasce dessa situação.
Como muitos atletas em condição similar em outros esportes
-o nome do judoca Aurélio Miguel me vem à cabeça-, as irmãs Sobral passaram quase dois
meses cobrando, pela mídia,
uma solução do "país".
Você certamente ouviu os apelos, e, quem sabe, até se comoveu. São frases como "Eu fiz
muito pelo Brasil lá fora, e agora
ele nada faz por mim", "Larguei
tudo pelo meu país, e ele me deve isso", "Dei meu sangue pela
pátria e veja no que deu" etc.
Isso é dissimulação -ou desespero, vá lá. Ninguém mergulha de cabeça no esporte por
"amor" ao verde-e-amarelo. Escolhe-se esse caminho porque ele
é estimulante, porque atende a
desejos competitivos e/ou porque, várias vezes, representa a
única saída da lama social.
Há também uma dose de egocentrismo -ou ingenuidade, vá
lá. Pode-se argumentar em favor de Pelé, Senna e, possivelmente no futuro, Kuerten, pois
são nomes que contribuem para
definir como o Brasil se vê e como ele é visto lá fora. Mas, em linhas gerais, os esportistas entram e saem da vida do cidadão
da mesma forma passageira.
Deixam sorrisos aqui, afetos
acolá, mas não enchem o bucho
de ninguém, a não ser o dos seus.
O "país" não deve nada a eles.
NOTAS
Devo, não nego...
Eu devo muito ao Navarro e
ao Totó, tampinhas da escola
que me mostraram que a bola
laranja não machuca tanto. Eu
devo a Hélio Rubens e a Ubiratan a paixão pelo basquete "que
não é jogado para a torcida".
Eu devo aos iugoslavos Kicanovic, Petrovic e Dalipagic meu
fascínio pelos nomes terminados em "ic". Há mais de dez
anos, eu devo a Luciano do Valle, porque, graças a ele, não
acompanho sozinho -e, portanto, tenho com quem discutir- os jogos da NBA aqui no
Brasil. Eu devo a sanidade ao
inventor da tecla SAP, já que
acompanhar a NBA em português ainda é dose. Nossa, como
eu devo a Renata, pois, convenhamos, uma mulher que gosta de basquete e sabe de cor as
escalações do Chicago Bulls é
um verdadeiro milagre.
pago quando puder
Tirando a Renata, podem esperar sentados.
E-mail melk@uol.com.br
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