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São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2003

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BASQUETE

A liga do Kenya

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Itália, Áustria, Holanda, Espanha, Rússia... Goiânia.
Quando foi avisado, pelo agente, do interesse do basquete brasileiro, Kenya Lamont salivou. Por que não experimentar ares tropicais, tão distintos da Europa continental? Praias, mulheres, sol...
Quando o avião sobrevoou o litoral do Rio de Janeiro, pela janelinha ele aplaudiu tamanha beleza. Praias, mulheres, sol!
Quando desembarcou na capital goiana, depois de pegar a conexão, foi aquele estranhamento. Cadê as praias? Onde vim parar?
Mas, à desilusão geográfica, um erro de 1.300 km, logo se contrapôs a simpatia do brasileiro. Em 2000, o ala norte-americano entregou-se ao planalto central.
"As pessoas conversam com você, se interessam e se preocupam. Ninguém se julga o melhor. Isso não se encontra em outro lugar do mundo", diz o "globetrotter".
Kenya retribuiu à torcida laranja do clube Ajax com um jogo de enterradas e arremessos vistosos. "Tento dar espetáculo!"
No entanto, a inesperada escala de três anos não resistiu à estrutura da bola-ao-cesto brasileira.
A Universidade Salgado de Oliveira (Universo), que banca o projeto do Ajax em Goiânia, resolveu crescer nas quadras.
Montou parcerias em Belo Horizonte (Minas Tênis) e Uberlândia. Firmou patrocínio com a equipe fluminense do Campos. Fincou pé em Brasília. E, para fechar o ciclo, prestou assessoria informal a Santa Cruz do Sul (RS).
Com a anuência da confederação brasileira, formou verdadeiros times de aluguel e pavimentou, inclusive nos bastidores, a classificação de toda essa "teia" para o Nacional-2004. (Já na edição deste ano, por sinal, cravou três dos quatro semifinalistas.)
A Kenya nada restou senão reeditar a vida cigana. Em menos de três meses, mostrou seu jogo vistoso em Goiânia, Brasília e Santa Cruz do Sul. "Fui aonde o patrão me mandou", contou, do quarto de flat no interior gaúcho.
Aos que propuseram a criação de uma liga independente e aos que embarcaram bovinamente nesta idéia de um campeonato ancorado em cidades e universidades, totalmente "privado", peço somente um pouco de atenção ao reativado programa de milhagem aérea do talentoso Kenya.
Ou à declaração, nada dissimulada, de Wellington Salgado de Oliveira, presidente do Universo, a esta Folha: "Não precisa nem ser campeão. O importante é o nome da universidade aparecer".
É evidente que as desmoralizadas competições da CBB merecem sacudida -não só não remuneram como alijam os participantes das decisões administrativas.
Está claro, também, que o modelo da liga funciona. Adotaram-no todas as principais forças classificadas para a Olimpíada de Atenas, da Argentina à Lituânia.
Mas é preciso estudar o mercado, detalhar o plano e escolher criteriosamente os parceiros antes de batucar a porta da mídia.
Como se vê, o "universo" do basquete brasileiro é pequeno, caminha por linhas tênues. Tão importante quanto criar um torneio financeiramente sustentável, será atrelá-lo a um plano de desenvolvimento do próprio esporte.

Ligado 1
Um jogo-exibição da NBA no ano que vem no Brasil. Possivelmente entre o Denver, de Nenê, e o Phoenix, de Leandrinho. A assinatura do contrato está agendada para esta semana em São Paulo.

Ligado 2
A pequena cidade de Caserta abriu ontem uma semana de festas para os 11 anos e 14 mil pontos do mão-santa Oscar nas ligas italianas.

Ligado 3
O domingo oferece aos afortunados assinantes da TV paga a ótima chance de conferir a liga da Espanha -e com uma pitada brasileira. No canal TVE, vão duelar o líder e vice-líder. Tiago Splitter deve desfalcar o Tau, mas Anderson Varejão foi confirmado pelo Barcelona.

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