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BASQUETE
A liga do Kenya
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Itália, Áustria, Holanda, Espanha, Rússia... Goiânia.
Quando foi avisado, pelo agente, do interesse do basquete brasileiro, Kenya Lamont salivou. Por
que não experimentar ares tropicais, tão distintos da Europa continental? Praias, mulheres, sol...
Quando o avião sobrevoou o litoral do Rio de Janeiro, pela janelinha ele aplaudiu tamanha beleza. Praias, mulheres, sol!
Quando desembarcou na capital goiana, depois de pegar a conexão, foi aquele estranhamento.
Cadê as praias? Onde vim parar?
Mas, à desilusão geográfica, um
erro de 1.300 km, logo se contrapôs a simpatia do brasileiro. Em
2000, o ala norte-americano entregou-se ao planalto central.
"As pessoas conversam com você, se interessam e se preocupam.
Ninguém se julga o melhor. Isso
não se encontra em outro lugar
do mundo", diz o "globetrotter".
Kenya retribuiu à torcida laranja do clube Ajax com um jogo
de enterradas e arremessos vistosos. "Tento dar espetáculo!"
No entanto, a inesperada escala
de três anos não resistiu à estrutura da bola-ao-cesto brasileira.
A Universidade Salgado de Oliveira (Universo), que banca o
projeto do Ajax em Goiânia, resolveu crescer nas quadras.
Montou parcerias em Belo Horizonte (Minas Tênis) e Uberlândia. Firmou patrocínio com a
equipe fluminense do Campos.
Fincou pé em Brasília. E, para fechar o ciclo, prestou assessoria informal a Santa Cruz do Sul (RS).
Com a anuência da confederação brasileira, formou verdadeiros times de aluguel e pavimentou, inclusive nos bastidores, a
classificação de toda essa "teia"
para o Nacional-2004. (Já na edição deste ano, por sinal, cravou
três dos quatro semifinalistas.)
A Kenya nada restou senão reeditar a vida cigana. Em menos de
três meses, mostrou seu jogo vistoso em Goiânia, Brasília e Santa
Cruz do Sul. "Fui aonde o patrão
me mandou", contou, do quarto
de flat no interior gaúcho.
Aos que propuseram a criação
de uma liga independente e aos
que embarcaram bovinamente
nesta idéia de um campeonato
ancorado em cidades e universidades, totalmente "privado", peço somente um pouco de atenção
ao reativado programa de milhagem aérea do talentoso Kenya.
Ou à declaração, nada dissimulada, de Wellington Salgado de
Oliveira, presidente do Universo,
a esta Folha: "Não precisa nem
ser campeão. O importante é o
nome da universidade aparecer".
É evidente que as desmoralizadas competições da CBB merecem
sacudida -não só não remuneram como alijam os participantes
das decisões administrativas.
Está claro, também, que o modelo da liga funciona. Adotaram-no todas as principais forças classificadas para a Olimpíada de
Atenas, da Argentina à Lituânia.
Mas é preciso estudar o mercado, detalhar o plano e escolher
criteriosamente os parceiros antes
de batucar a porta da mídia.
Como se vê, o "universo" do
basquete brasileiro é pequeno, caminha por linhas tênues. Tão importante quanto criar um torneio
financeiramente sustentável, será
atrelá-lo a um plano de desenvolvimento do próprio esporte.
Ligado 1
Um jogo-exibição da NBA no ano que vem no Brasil. Possivelmente
entre o Denver, de Nenê, e o Phoenix, de Leandrinho. A assinatura
do contrato está agendada para esta semana em São Paulo.
Ligado 2
A pequena cidade de Caserta abriu ontem uma semana de festas para
os 11 anos e 14 mil pontos do mão-santa Oscar nas ligas italianas.
Ligado 3
O domingo oferece aos afortunados assinantes da TV paga a ótima
chance de conferir a liga da Espanha -e com uma pitada brasileira.
No canal TVE, vão duelar o líder e vice-líder. Tiago Splitter deve desfalcar o Tau, mas Anderson Varejão foi confirmado pelo Barcelona.
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