São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

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PINGUE-PONGUE

Zagallo antevê Brasil melhor do que o de Scolari

DA REPORTAGEM LOCAL

Dias ainda melhores virão. O desempenho da seleção brasileira na Alemanha, em 2006, tem tudo para ser melhor do que o da equipe que conquistou o penta, na Ásia, sob o comando de Luiz Felipe Scolari.
É o que acha, pelo menos, o coordenador técnico Mario Jorge Lobo Zagallo.
Eterno otimista, diz que o Brasil tem tudo para impressionar, mais uma vez, a Europa e repetir o feito de 1958, quando se tornou a única seleção de fora daquele continente a ganhar a Copa no velho mundo.
Em entrevista à Folha, Zagal-lo falou sobre as perspectivas do futebol do país para os próximos quatro anos e a expectativa por voltar a atuar com Carlos Alberto Parreira, reeditando a dupla de 1994.(JCA E PC)
 

Folha - O que o brasileiro pode esperar da seleção?
Mario Jorge Zagallo -
O hexa pode virar uma realidade em 2006. Time, para isso, nós temos. E certamente estaremos melhores do que em 2002.
Sem tirar os méritos do Scolari, que fez um excelente trabalho, fechou o grupo e ganhou, com toda a justiça, o penta, a seleção só tende a melhorar. Primeiro, porque vamos manter a base de 2002, que já era boa. E, depois, porque teremos a nova geração, com três atletas de extrema qualidade.

Folha - Kaká, Diego e Robinho?
Zagallo -
Claro. Eles vão ser batizados na Olimpíada, vou acompanhar de perto o trabalho do Ricardo Gomes, é uma meninada que, se for bem trabalhada, tem tudo para arrebentar na Alemanha.
E, depois [em relação a 2002], temos uma outra vantagem: não vamos usar o esquema 3-5-2. Deu certo no Japão, mas a duras penas. Não é da cultura do brasileiro, estamos mais acostumados a jogar com dois zagueiros, você vai ver como vai ficar mais fácil.

Folha - O que muda no trabalho de vocês em comparação com o feito para a Copa de 1994?
Zagallo -
Muita coisa. Hoje somos ainda mais experientes e vitoriosos. Sei lidar melhor com a imprensa, e o povo está do nosso lado. Em 1998, quando perdemos a Copa para a França, voltei ao Brasil e fui ovacionado. Em 1974, quando acabamos em quarto na Alemanha, a pressão na minha volta foi desumana.
Como não existe mais aquele preconceito que havia em relação a mim e ao Parreira, teremos mais condições de trabalho. E nos damos muito bem, sabemos trabalhar em conjunto. É uma dupla da vitória.

Folha - Sua mulher já assimilou melhor sua decisão de voltar à seleção ou segue reclamando?
Zagallo -
Para ela é difícil, no dia 13 faremos 48 anos de casados, é muito estresse... Mas tem de entender. É minha vida.
Sei que, se por um daqueles azares que só acontecem no futebol, formos muito mal, as críticas virão, e a família vai sofrer de novo. Só que faz parte. Estou voltando ao burburinho para dar a cara para bater.

Folha - O segundo jogo da seleção será justamente contra Portugal, de Scolari. Como será enfrentar o Felipão?
Zagallo -
Ele é um grande amigo, um excelente profissional. Vamos estar torcendo para que faça um belo trabalho em Portugal. Só que, quando é o Brasil do outro lado, a história muda. Sinto muito pelo Scolari, mas vai ser ferro nele.

Folha - Como você analisa o atual formato das eliminatórias sul-americanas, em que todos devem jogar contra todos?
Zagallo -
Será uma experiência nova para mim. Estou empolgado e convicto de que não teremos as mesmas dificuldades que tivemos para nos classificar para a Copa de 2002.
Lá tivemos quatro técnicos diferentes, não estávamos tão bem preparados, foi só o Scolari ter um pouquinho de tempo que tudo se arranjou.

Folha - Mas você aprova o sistema todos contra todos?
Zagallo -
Aprovo. Para irmos para o Mundial dos EUA [em 1994], o sistema [de disputa das eliminatórias] era pior, você jogava dentro de seu grupo e uma derrota já colocava a seleção em uma situação delicada.
Perdemos da Bolívia, mas, mesmo assim, quando os jogos foram no Brasil, conseguimos nos classificar numa boa.
Para 2006, serão mais jogos, 18 para cada um. Se você derrapa uma vez, tem várias chances de se recuperar. E o Brasil não é time de ficar derrapando, não. Uma vez vá lá, mas duas...


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