São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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VÔLEI DE PRAIA
Sucesso nos EUA nos últimos 15 anos, liga se afunda em dívidas e negocia o circuito para sobreviver
Modelo na areia, AVP entra em liquidação


da Reportagem Local

Modelo nos anos 80 e início dos 90, imitada pela Federação Internacional e pelo Brasil, a AVP (Associação dos Jogadores Profissionais do EUA) negocia a venda dos direitos de organização e exploração de seu circuito de vôlei de praia para cobrir um rombo financeiro.
A direção da AVP obteve propostas, como do grupo que administra a rede de lanchonetes Burger King e de uma cervejaria.
Antes do fechamento de acordo, Bill Berger, um dos novos todo-poderosos da liga, anunciou uma premiação mínima de US$ 1,6 milhão para este ano, o mesmo valor oferecido em 21 etapas de 1998.
Parece razoável, mas é só 35% dos US$ 4,5 milhões/ano distribuídos desde 1995.
O circuito que atraiu uma leva de brasileiros (leia texto abaixo) e que dispõe de legendas como o norte-americano Karch Kiraly, bicampeão olímpico indoor (1984 e 1988) e campeão na praia (1996), ruiu nos últimos dois anos.
Em março último, em reunião antes da temporada, que foi daquele mês até agosto, os atletas revelaram que a AVP devia US$ 2 milhões de prêmios. Somadas dívidas junto a outros credores, o buraco chegou aos US$ 3 milhões.
Randy Stocklos, famoso por ser parceiro de Sinjin Smith nos cinco títulos da etapa carioca do Circuito Mundial (organizado pela Federação Internacional), renunciou à participação no "King of the Beach" (Rei da Praia), abertura oficial do circuito, por não lhe terem pago os prêmios das quatro últimas etapas de 97.
Kent Steffes, ouro em Atlanta-96, hoje processa seu ex-parceiro Kiraly, acusando-o de ter sido inepto ao indicar Jerry Solomon, agente dele, para o cargo de chefe-executivo da AVP.
A crise recente na AVP coincide em parte com o período da administração de Solomon. Egressso do circuito do tênis, o executivo adotou sistema semelhante para gerenciar as etapas.
Em vez de arcar com os encargos de organização e venda de espaço publicitário, a AVP passou a fazer o licenciamento das datas.
Um promotor adquiria os direitos de organizar determinado torneio, se responsabilizando pelos prêmios dos atletas e da parte que cabia à liga. Em troca, tinha o direito de exploração comercial.
O negócio acabou criando algumas aberrações: foram organizadas etapas em shoppings e em estacionamentos. Alguns dos promotores decidiram cobrar ingresso, quebrando a tradição de gratuidade dos eventos.
Nem mesmo a Disney, que comprou os direitos da última etapa da temporada, escapou. Foi um fiasco de público no Walt Disney World.
Para piorar, a rede de TV NBC diminuiu o interesse pela transmissão do circuito, centrando-se nas etapas de maior premiação.
Por fim, a Miller, marca de cerveja patrocinadora oficial do circuito, ameaçou não continuar.
Hoje, negocia a manutenção do patrocínio (por valores mais baixos que os US$ 3 milhões que pagara em 97) ou mesmo a própria aquisição da AVP.
Tudo isso resultou na saída de Solomon e de Jon Stevenson, ex-jogador e um dos principais executivos da liga desde seu primeiro circuito, em 1983.
Bill Berger, importante executivo da AVP, disse que a situação financeira deve melhorar em breve.
O problema é que a administração do negócio, por vezes, se mistura com a ação dos jogadores.
Como o nome sugere, a Associação dos Jogadores Profissionais tem em seu corpo administrativo seis atletas, entre eles Eric Fonoimoana e Karch Kiraly.
Os membros do "board" são acusados de misturar os interesses da liga com os interesses pessoais.
(JOSÉ ALAN DIAS)



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