São Paulo, segunda, 10 de fevereiro de 1997.

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BASQUETE
Em Cleveland para a festa do 50º aniversário, estrelas de ontem e hoje imaginam o futuro a pedido da Folha
Astros da NBA viajam no `túnel do tempo'

MELCHIADES FILHO
enviado especial a Cleveland

A NBA levou 50 anos para se transformar no campeonato mais popular do planeta.
Foi uma decolagem planejada em minúcias, com estilo de administração que hoje é modelo para os outros esportes coletivos.
Então, o que a liga norte-americana espera para os próximos 50 anos? Qual vai ser a cara do basquete profissional em 2046?
A Folha aproveitou o caráter épico do All-Star Game deste ano para lançar esse desafio à imaginação.
A temperatura de Cleveland, média de -3 graus Celsius nos últimos três dias, ajudou na empreitada.
Reféns do frio, as superestrelas de hoje e de ontem ficaram praticamente sitiadas no hotel Renaissance, no centro da cidade.
Confira a seguir o resultado dessa perseguição por elevadores e corredores, durante a qual a Folha contou com a colaboração de dois repórteres de Ohio -Mary Schmitt, do ``The Plain Dealer'', e Tom Karl, do ``Medina Post''.
Michael Jordan, 33, armador do Chicago Bulls, melhor jogador de todos os tempos: ``Haverá diferenças. Mas o que faz esse jogo grande não vai mudar. Provavelmente teremos outro Michael Jordan, outro Wilt Chamberlain.''
Wilt Chamberlain, 60, pivô, único a marcar 100 pontos num jogo da NBA (em 1962, pelo Philadelphia Warriors): ``O basquete está crescendo para o alto. A impulsão dos atletas de hoje é espetacular, bem maior do que no meu tempo. Não tenho dúvidas de que vai aumentar mais. O jogo do futuro será disputado no ar.''
Charles Barkley, 33, ala-pivô do Houston Rockets, 11 vezes chamado para o All-Star Game: ``O esporte passa bem. A nova geração tem muito talento. Só precisa botar a cabeça no lugar, ser mais esperta. A NBA, por sua vez, vai continuar fazendo cada vez mais dinheiro -e o que me irrita é que não embolsarei nenhum centavo.''
Bill Russell, 62, pivô 11 vezes campeão da NBA pelo Boston: ``Teremos um jogo de bilionários, os jogadores, para torcedores bilionários assistirem nos ginásios. Os ingressos serão caríssimos.''
Karl Malone, 33, ala-pivô do Utah Jazz, dez vezes All-Star: ``Estou preocupado, pois o basquete me ajudou a construir minha família. O público começa a cair nos ginásios, os jogadores mais jovens não respeitam aqueles que pavimentaram o caminho para o sucesso da liga. Eu não pagaria para ver esses novatos. Acho que muita gente também não.''
Nate Archibald, 48, armador, único a ser cestinha e líder em assistências do mesmo campeonato da NBA (em 72-73, pelo Kansas City Royals): ``Sou um dos poucos a ter essa opinião: os jogadores de hoje são melhores do que os do passado, sabem fazer mais coisas com a bola. Imagino que essa tendência vá prosseguir. Teremos jogadores mais fortes, mais rápidos e mais versáteis. As posições clássicas -armador, ala, pivô- perderão sentido; o jogador do futuro será multitalentoso.''
John Stockton, 34, armador do Utah, líder histórico da NBA em assistências e desarmes: ``Meus recordes estarão superados.''
Walt Frazier, 51, armador duas vezes campeão pelo New York Knicks nos anos 70: ``Os jogadores do centenário saberão menos fundamentos -o nível técnico já está caindo. A liga vai se expandir para outros continentes. O salário mínimo (hoje de US$ 247,5 mil) será de US$ 5 milhões. O basquete será o esporte mais popular do mundo, disparado à frente do futebol.''
Scottie Pippen, 31, ala do Chicago, quatro vezes campeão nos anos 90: ``Imagino uma versão do filme ``Space Jam'' (com Michael Jordan e a turma do Pernalonga). O par de tênis Air Jordan (da Nike) terá propulsão a jato.''
Rick Barry, 52, armador campeão em 1975 pelo Golden State Warriors: ``A NBA vai se intrometer cada vez mais na vida pessoal dos jogadores. A liga quer escoteiros, não atletas com pensamento próprio. O sujeito não vai nem precisar ser maluco como o Dennis Rodman (polêmico ala-pivô do Chicago) para se dar mal.''
Patrick Ewing, 34, pivô do New York, 11 vezes All-Star, nascido na Jamaica: ``A América Central terá equipes no campeonato.''
Kareem Abdul-Jabbar, 49, pivô do Milwaukee Bucks e do LA Lakers nos anos 70 e 80, cestinha histórico: ``Os times vão pertencer e levar o nome de grandes corporações. Teremos Nike e Reebok num duelo explícito em quadra.''
Clyde Drexler, 34, armador campeão em 95 pelo Houston: ``Novidades tecnológicas vão obrigar o esporte a se adaptar.''
Red Auerbach, 79, técnico nove vezes campeão pelo Boston: ``O campeonato universitário vai se incorporar à NBA. O profissional ganhará duas divisões.''
Phil Jackson, 51, ala-pivô campeão pelo New York nos anos 70 e técnico quatro vezes campeão pelo Chicago nos 90: ``Prevejo a quadra mais larga, jogadores maiores e a cesta um pouco mais alta.''
Buck Williams, 36, ala-pivô do New York, presidente do sindicato dos atletas: ``Os jogadores se conscientizarão de que são os reais donos do espetáculo. Serão os acionistas majoritários das equipes.''
David Stern, todo-poderoso dirigente da NBA, responsável pela explosão mundial da liga: ``Não imagino mudanças de estrutura, apenas detalhes. A atenção global continuará a crescer. O campeonato feminino será um sucesso.''

LIGUE para o Folha Informações (0900-780316, por R$ 1,60 por minuto) para saber como foi o All-Star Game, encerrado ontem depois do fechamento desta edição

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