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FUTEBOL
Paulista e complexo de Ritinha
JOSÉ ROBERTO TORERO
O leitor, naquela fase em que está mais aberto a novos relacionamentos, certamente já encontrou
esse arquétipo de moça: aparência
não mais do que agradável, corpo
normal e qualidades espirituais
numa medida satisfatória; nem
excesso, nem falta: é a famosa
simpática.
Provisoriamente, darei a essa
moça o nome de Ritinha. Quando
se maquia, tira o aparelho ortodôntico, paga por um corte mais
caro de cabelo e coloca seu vestido
de festa, Ritinha atinge um momento de brilho que não suspeitávamos. A imaginação começa a
devanear, e surgem fumaças de
planos... um cineminha, um jantar, subir para ouvir um CD do
Chico Buarque...
Porém, quando a revemos no escritório na segunda-feira, uma
dor nos aperta o coração: o cabelo
revolto, a bijuteria oxidada, a camiseta pólo para fora da calça
jeans, o tênis que não aperta, o
aparelho de volta, tudo isso nos
faz lembrar de que contra os fatos
não há argumentos. É quando a
serotonina refreia a testostenona,
e voltamos a pensar que talvez seja melhor manter tudo na ingênua esfera da amizade.
Pois bem, esse pensamento me
ocorreu ao olhar para a escalação
de alguns times do Paulista-2000.
Assim como Ritinha, há atletas
que poderíamos chamar de... os
simpáticos do futebol.
Os simpáticos são os jogadores
em quem reconhecemos habilidade e competência; temos carinho e
torcemos por eles. Mas, ao mesmo
tempo, algo nos diz que lhes falta
aquele algo mais, aquela centelha
de personalidade, talento ou, vá,
sorte, que os faria galgar o último
degrau da glória.
Mas vamos aos exemplos:
Vejo a escalação do Rio Branco
e lá encontro Célio Lúcio, zagueiro que veio do Cruzeiro para o
Palmeiras e teve suas oportunidades no time principal. Jogou o arroz com feijão, voltou para o banco e, numa das muitas renovações
de elenco, deixou o time do Parque Antarctica. Deve ter perambulado por clubes de outros Estados e agora está no de Americana.
É um jogador simpático. Desejo-lhe boa sorte.
É também o caso de Capitão,
Jorginho e Darci, que formam o
meio-campo da Portuguesa Santista ao lado do jovem -e candidato a simpático- Marcos Bazílio. Glórias fugazes não faltaram
em suas carreiras: Capitão foi
considerado hipótese para a seleção brasileira, Darci vestiu muitas
e importantes camisas, e Jorginho
fez o décimo-milésimo gol da história do Santos. Esses meias rodaram o mundo, tentaram várias
vezes, mas enfim nunca conseguiram receber mais do que um
aplauso contido.
No União São João, encontramos Jura, que já esteve no Guarani e no São Paulo, e Bechara, que
veio do Ceará e teve seus dias de
camisa 10 da Vila Belmiro.
No União Barbarense, refulge o
brilho de Batistinha, que foi sondado por times grandes e chegou
ao Goiás.
No Araçatuba, revejo Renato
Carioca e Pichetti, que teve a hon-
ra de ser vice-campeão brasileiro
pelo Vitória, em 1993.
Na Matonense, mais quatro estradeiros de renome: Hiran, Piá,
Juari e Gílson Batata.
Hoje, estão nesses times, Deus
sabe onde estarão amanhã.
A eles poderíamos juntar os veteranos Tupãzinho, Lica, Edu
Manga e Macedo, que um dia na
vida foram até promessas, boas
promessas, mas que hoje se tornaram verdadeiras Ritinhas, jogando um torneio aqui, outro ali e assim vão encerrando suas carreiras. Como? Simpaticamente.
E-mail torero@uol.com.br
José Roberto Torero escreve às terças e às
sextas-feiras
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