São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2000


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FUTEBOL

Paulista e complexo de Ritinha

JOSÉ ROBERTO TORERO

O leitor, naquela fase em que está mais aberto a novos relacionamentos, certamente já encontrou esse arquétipo de moça: aparência não mais do que agradável, corpo normal e qualidades espirituais numa medida satisfatória; nem excesso, nem falta: é a famosa simpática.
Provisoriamente, darei a essa moça o nome de Ritinha. Quando se maquia, tira o aparelho ortodôntico, paga por um corte mais caro de cabelo e coloca seu vestido de festa, Ritinha atinge um momento de brilho que não suspeitávamos. A imaginação começa a devanear, e surgem fumaças de planos... um cineminha, um jantar, subir para ouvir um CD do Chico Buarque...
Porém, quando a revemos no escritório na segunda-feira, uma dor nos aperta o coração: o cabelo revolto, a bijuteria oxidada, a camiseta pólo para fora da calça jeans, o tênis que não aperta, o aparelho de volta, tudo isso nos faz lembrar de que contra os fatos não há argumentos. É quando a serotonina refreia a testostenona, e voltamos a pensar que talvez seja melhor manter tudo na ingênua esfera da amizade.
Pois bem, esse pensamento me ocorreu ao olhar para a escalação de alguns times do Paulista-2000. Assim como Ritinha, há atletas que poderíamos chamar de... os simpáticos do futebol.
Os simpáticos são os jogadores em quem reconhecemos habilidade e competência; temos carinho e torcemos por eles. Mas, ao mesmo tempo, algo nos diz que lhes falta aquele algo mais, aquela centelha de personalidade, talento ou, vá, sorte, que os faria galgar o último degrau da glória.
Mas vamos aos exemplos:
Vejo a escalação do Rio Branco e lá encontro Célio Lúcio, zagueiro que veio do Cruzeiro para o Palmeiras e teve suas oportunidades no time principal. Jogou o arroz com feijão, voltou para o banco e, numa das muitas renovações de elenco, deixou o time do Parque Antarctica. Deve ter perambulado por clubes de outros Estados e agora está no de Americana. É um jogador simpático. Desejo-lhe boa sorte.
É também o caso de Capitão, Jorginho e Darci, que formam o meio-campo da Portuguesa Santista ao lado do jovem -e candidato a simpático- Marcos Bazílio. Glórias fugazes não faltaram em suas carreiras: Capitão foi considerado hipótese para a seleção brasileira, Darci vestiu muitas e importantes camisas, e Jorginho fez o décimo-milésimo gol da história do Santos. Esses meias rodaram o mundo, tentaram várias vezes, mas enfim nunca conseguiram receber mais do que um aplauso contido.
No União São João, encontramos Jura, que já esteve no Guarani e no São Paulo, e Bechara, que veio do Ceará e teve seus dias de camisa 10 da Vila Belmiro.
No União Barbarense, refulge o brilho de Batistinha, que foi sondado por times grandes e chegou ao Goiás.
No Araçatuba, revejo Renato Carioca e Pichetti, que teve a hon- ra de ser vice-campeão brasileiro pelo Vitória, em 1993.
Na Matonense, mais quatro estradeiros de renome: Hiran, Piá, Juari e Gílson Batata.
Hoje, estão nesses times, Deus sabe onde estarão amanhã.
A eles poderíamos juntar os veteranos Tupãzinho, Lica, Edu Manga e Macedo, que um dia na vida foram até promessas, boas promessas, mas que hoje se tornaram verdadeiras Ritinhas, jogando um torneio aqui, outro ali e assim vão encerrando suas carreiras. Como? Simpaticamente.


E-mail torero@uol.com.br


José Roberto Torero escreve às terças e às sextas-feiras

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