São Paulo, terça-feira, 10 de março de 2009

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Por que Ronaldo é tão amado?


Não é à toa que o chamam de Highlander. Quando morrer, o legista fará exames extras, pois o cara parece imortal


ACHO QUE a resposta é: porque ele encarna vários personagens dos quais gostamos.
Para começar, teve uma infância pobre, o que de cara provoca uma certa empatia. Nada como o sofrimento infantil para gerar carinho pelo personagem.
Mas ele não foi só o menino pobre. Foi também garoto prodígio. E todos nós adoramos garotos prodígios, como Pelé, Mickey Rooney, Robinho, Macaulay Culkin, Zico, Neymar e Robin (o do Batman). Eles unem a genialidade à singeleza infantil. E Ronaldo, campeão do mundo aos 17 anos, conseguiu ser um menino prodígio. Ele tornou-se um caçulinha pé-quente, uma espécie de mascote da seleção. Aliás, com os eternos dentões, ele consegue manter um tanto desta aura até hoje.
Ronaldo também se encaixa no "adolescente-que-apronta", tipo que não exatamente admiramos, mas com o qual temos uma grande identificação. O fato de ele fumar, beber, ir a boates, ser pego com travestis etc torna-o meio trapalhão, tira-o do Olimpo e faz com que ele pareça mais humano.
Ele ainda pode ser classificado no arquétipo de "comedor", de "don juan". Não só pelas várias mulheres que passaram por sua biografia, mas principalmente pelos seus dois casamentos. Primeiro, foi Milene, uma menina bonita, simpática e que jogava futebol, o sonho de vários marmanjos. E depois houve a história com Daniella Cicarelli, na época, o maior símbolo sexual do país. Ou seja, muitos homens tiveram identificação projetiva com Ronaldo. Outra faceta importante é a de "homem de sucesso". Ele jogou pelos dois maiores times da Espanha e pelos dois maiores de Milão. Ganhou três vezes o título de melhor do mundo, foi artilheiro da Copa de 2002, é o maior artilheiro da história das Copas... Ao lado disso, teve um ataque de sei-lá-o-quê na final de 1998. Ou seja, Ronaldo consegue temperar um lado gauche com um lado vitorioso.
Creio que uma de suas variantes mais importantes é a do "ressuscitado". Todos adoramos personagens que parecem estar liquidados e acabam dando a volta por cima. Metaforicamente, é como se eles vencessem a morte. E Ronaldo já teve três graves contusões. Recuperar-se uma vez já seria espantoso. Duas vezes, um milagre. Mas ele está em sua terceira recuperação. Não é à toa que o apelidaram de Highlander.
Quando realmente morrer, o médico-legista fará exames extras, porque o cara parece imortal. Mas o mais importante é que ele se encaixa no arquétipo de herói. Principalmente por conta da Copa-2002. Aquele foi o grande momento de sua carreira. Ele ergueu-se das cinzas e fez oito gols em sete jogos.
Sem falar que marcou os dois gols na final contra a Alemanha. Simbolicamente, é como se a Copa tivesse sido vencida por ele, assim como Romário teria conquistado a de 94, Pelé a de 58 e Garrincha, a de 62.
Em resumo, acho que Ronaldo consegue se encaixar em vários personagens que admiramos: menino pobre, garoto prodígio, adolescente problemático, jovem conquistador, azarado, vencedor, ressuscitado e herói, e assim une a perfeição e o fracasso, sendo ao mesmo tempo extraordinário e comum. E, além disso tudo, o cara joga muito.

torero@uol.com.br


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